31 dezembro 2004

UMA ROSA BRANCA PELAS VÍTIMAS DO MAREMOTO

Acreditem que não consigo por imagens neste blog. Portanto deixo esta rosa:
@-',--,
com muita ternura e mágoa.

Acerca do maremoto: sabem o que mais me perturba?

É ver as imagens das pessoas, muitas crianças e seus familiares correndo à frente das águas.
Nas praias, olhando o mar, a onda que se aproxima, com a singela curiosidade de quem vê uma onda, mas só mais uma onda diferente.
É vê-los nas ruas, praças e jardins correndo desenfreadamente, uma corrida perdida à partida, contra uma imensa mole de água a deslocar-se a velocidades incríveis.
Nos media passam e repassam as imagens, chegam-me a casa via Internet. Nos noticiários “actualizam”, constante e sucessivamente, o número de vítimas, como se alguém tivesse feito uma aposta e a informação fosse vital para sabermos quem é o vencedor.
Os governos tiveram mais de duas horas para avisarem as pessoas das zonas costeiras a sair. Isto é: depois do terramoto, a previsão do maremoto deu-lhes mais de duas horas para evacuação. Não o fizeram: sabe-se lá porquê! Para não assustar os turistas? Melhor turista assustado do que morto. Por certo é mais prejudicial para a imagem turística desses países.
Por falta de meios logísticos? Por escassos que sejam a divulgação punha as pessoas em movimento. Olhariam pelas suas próprias vidas e as de seus familiares. Cada um daria velocidade aos pés, “corda aos sapatos”.
A atitude dos media, no meio desta imensa tragédia é, em minha opinião, abusiva na forma como tratam a notícia. Aqui, nesta matéria, impunha-se mais recato e menos sensacionalismo.
E com esta imensa tragédia que colheu tantas vidas vamos começar um novo ano. Que 2005 traga mais harmonia, mais respeito e um largo conjunto de valores que andam difusos, senão perdidos. Fazer que 2005 seja um melhor ano depende largamente de cada um de nós. Sejamos então mais solidários, mais interventivos e usemos mais e melhor o nosso direito à indignação perante as atitudes dos governantes: os nossos, domésticos, e os outros, da aldeia global em que vivemos.

Para cada um de vocês, em 2005, desejo PAZ e muita FORÇA interior.

30 dezembro 2004

Porque todos os dias são

bons dia para parar e pensar, deixo-vos com o excerto de um texto de Miguel Sousa Tavares:

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde
verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."



29 dezembro 2004

Variações

1ª variaçãoaproxima-se o final de mais um ano e confesso que, até hoje e desde miúda, ainda não consegui perceber o alarido, o investimento e a enorme festa que as pessoas fazem no final de cada ano.
Parece-me um investimento em energia, gastos e exuberância, despropositado. O que festejam afinal?
Para mim o ano começa e acaba na mesma data, a data em que nasci e em que, em cada ano, renasço – simbolicamente de forma muito intensa e forte - para este milagre que é a vida.
Faz-me mais sentido festejar todos os dias o milagre da vida, a festa que é o estar viva, ainda que por vezes seja uma festa com lágrimas, nem sempre de alegria.
No entanto desde já aqui vos deixo os meus votos de uma óptima passagem de ano e de um 2005 pleno de concretizações, saúde e tudo o que for preciso a cada um/uma.
Por favor digam-me vocês o que é tão extraordinário no final de cada ano para merecer tão grandes festejos?
2ª variação – Fiquei muito sensibilizada, emocionada e feliz (por aí), com o facto de a minha filhot’Ana ter colocado no seu blog (
http://facilitareiki.blogs.sapo.pt)
a foto dela e das manas (as minhas três crias queridas) e referido a magia que ao longo da infância lhes proporcionei nos Natais.
Justo é que diga que a verdadeira magia são as três, agora quatro (com a Inês) cada uma por si e todas juntas e a beleza e magia que continuamente me trazem, por serem as maravilhosas pessoas que são.

28 dezembro 2004

Aquela varina era gorda

Aquela varina era gorda
E pesada
Não tinha a leveza do mar
da madrugada

nem a frescura
do mar do meio-dia
ou a suavidade
do mar poente

mas tinha a magia
de quem traz
à cabeça
um mar ondulante.

TMara
(Do livro; AS TAREFAS TRANSPARENTES:41)

27 dezembro 2004

Memórias do baú

Sabiam que o Conde de Ferreira, falecido em Março de 1866, deixou em testamento a vontade e os meios para :«(...) construir e mobilar 120 cazas para escolas do ensino primário:»?

26 dezembro 2004

FLORIDOS CAMPOS

A todos os que, ao longo da vida, me têm ensinado a amar.
Com especial carinho para meus pais.
«Devo-lhes,
em horas de desalento, doces
sensações,
sentidas no sangue, alcançando-me
o coração,
e chegando até ao meu espírito
mais puro,
restabelecendo-me tranquilamente.»
(William Wordsworth)

24 dezembro 2004

HOJE VENHO SÓ...

...deixar o meu desejo de BOAS FESTAS, para todas/os e que a humanidade encontre (ia dizer: Re-encontre , mas parece-me que estamos ainda na fase do ENCONTRAR) o caminho.
FELIZ NATAL

23 dezembro 2004

Um conto de Natal

Há muitos anos, na véspera de Natal, o Pai Natal estava muito aflito porque ainda não tinha embrulhado as prendas todas, tinha uma rena coxa e outra constipada. Desesperado foi beber um copo. Chegou à adega e não havia nada.
Voltou à cozinha para comer alguma coisa e os ratos tinham comido tudo. Como se tudo isto não bastasse, a mulher avisou-o que a sogra ia passar o Natal lá a casa. O Pai Natal passou-se!

No meio do desespero, tocaram-lhe à porta. Com a pressa de a abrir, tropeça, bate com a cabeça numa esquina da mesa e começa a sangrar abundantemente. Já verde de raiva, abriu a porta e deu de caras com um anjinho dizendo com uma voz angelical::
* Olá Pai Natal! Boas Festas! Venho visitar-te nesta quadra tão feliz, cheia de paz e amor. Trago-te aqui esta árvore de natal.

Onde queres que a ponha?...
Foi a partir daí que todas as árvores de Natal passaram a ter um anjinho no topo ...

(Autor/a desconhecido/a)

22 dezembro 2004

UM DIA PERDI-ME NAS BRUMAS

Um dia perdi-me nas brumas.
Não sei muito bem como aconteceu. Vou contar-vos...
Caminhava ao acaso pelas ruas, num passeio daqueles que gosto. Sem horas, sem objectivo a não ser o de caminhar pela cidade levada pelas brisas, pelo vento passante.
Sempre senti e o disse: há em mim uma alma errante. Preciso destes passeios para a reequilibrar com a vida e todos os seus compromissos com horas marcadas e cada vez mais apertadas.
Mas regressemos ao assunto primeiramente aqui abordado.
A cidade aparentava uma serenidade que lhe advinha da temperatura, tépida e algo perfumada do Outono ( o que, convenhamos, no meio da cidade, com a poluição existente, é algo estranho e incomum). Mas era assim que a cidade estava naquela tarde.
As pessoas caminhavam mais lentamente do que o habitual como se a calma do dia as tivesse contagiado, ou como se quisessem aproveitar ao máximo aquele dia, aqueles momentos o que, parecendo diferente, vai provavelmente dar ao mesmo.
Por mim, que sou useira e vezeira nestes passeios vagabundos, sem norte, era a norma. Caminhava pois, sem pressa, sem destino, sem qualquer outro objectivo que não fosse o de calcorrear a cidade, de a absorver, na pele e na alma, de me fundir com ela.
O "para onde" largado como pele velha, sem mais uso, ao iniciar o passeio.
Nem tinha a noção de há quanto tempo caminhava. Só o vento doce me guiava e eu ia para onde me levava. À medida que andava ia descobrindo ruas, recantos e praças por onde nunca tinha passado. O SOL, ausente do dia, dava-lhe, ainda assim uma intensa luminosidade que o embelezava de uma forma indescritível e irreal.
(Continua....)

UM OLÁ E... ATÉ JÁ TAMBÉM!

As chegadas dos que amamos são coisa óptimas, mas implicam mudança nas nossa rotinas. Daí esta ausência de ontem. Mas é uma ausência boa. Acompanhada, mimada e cheia de velhas e novas coisas decorrentes dos afectos.
Voltarei com mais tempo.
Para já desejo que os vossos dias estejam tão bem preenchidos de contentamento e alegria quanto os meus.

20 dezembro 2004

UMA CRIANÇA CORRIA, NA BERMA DA ESTRADA

Uma criança corria, na berma da estrada.

Corria tão dentro da própria alegria
que parecia alada.

Corria solta.
Mensageira das boas novas.

Alheada, da seca e queimada paisagem,
corria.
O alcatrão quente não a queimava
pois corria
como quem pisa a matéria
de que são feitos os sonhos...

corria tão dentro da própria alegria,
num estado de pureza total,
que o seu rosto lembrava uma estrela
refulgindo de êxtase e puro contentamento.

Uma tarde, numa berma de estrada,
uma criança corria e
à sua passagem abria uma clareira
de paz e quietude que a todos atingia.


(Do livro: AS TAREFAS TRANSPARENTES: 39:40)

19 dezembro 2004

ESTOU MUITO FELIZ ;))

Amanhã, segunda-feira, dia 20 de Dezembro, chega a minha filhot'Ana (e o Pedro, claro), para passarmos o NATAL. Desta vez vem mais uns diazitos. Os f.s são tão curtos e...tão raros...E vamos estar todas juntas, Inês incluída.Gosto tanto de as ter por perto, mesmo que só uma vez por outra....Bom domingo para vocês

17 dezembro 2004

POEMA SOBRE O NATAL

Como estamos em época de Natal deixo-vos com os melhores votos, para o resto das nossas vidas, e com o meu olhar sobre o que o NATAL significa(ria) enquanto prática diária.

Natal
É ser
É nascer
É dar-se.
Dar-se é ir de porta em porta
com uma mensagem
de flores no sorrir
e estrelas nos olhos.
Uma ponte de palavras
formada
entre ti e os outros,
construída, encontrada
entre a vida, o amor e a morte.
Natal
é seres, em cada dia,
não de ti, mas de todos.
Universo novo não planeado,
não programado,
mas vivido e amado,
num desejo constante
de ternura-dádiva,
de fraternidade.
Natal
é ser criança cada dia
em cada ventre de mulher.
Todas as mulheres TUA MÃE.


TMara

MEMÓRIAS NO BAÚ

Sem periodicidade, sem compromisso, mas com vontade iremos, vez por outra, inserindo memórias de eventos de um passado recente _ sem naftalina, ranço ou similares odores.
Começo hoje com esta:
«Agustina Bessa-Luís e Isabel Magalhães são admitidas como sócias efectivas da Academia de Ciências de Lisboa. Na história desta secular instituição nunca tinham sido admitidas mulheres como sócias efectivas».(26 de Novembro de 1989)

16 dezembro 2004

NO CINTILAR DOS DIAS

Salazar afirmou, certa vez, que era mais fácil ser mandado do que mandar.
Cada um que faça as suas reflexões, a partir da lapidar afirmação a que o senhor chegou e que, "democraticamente", partilhou connosco.
Veio-me esta afirmação à memória quando ao sentar-me ao computador, de entre uma multiplicidade de assuntos, que andam em ebulição nos neuróniozinhos, se me tornaram presentes situações, infelizmente recorrentes, com que qualquer um de nós se confronta quotidianamente e que “mexem” com a ideia que detemos sobre o que são, ou deviam ser, os nossos direitos enquanto cidadãos, num estado democrático que se senta à mesa dos países avançados. Não só sobre os direitos como sobre a forma que assume a sua expressão e o conteúdo que os mesmos deveriam configurar.
Da multiplicidade de incongruências que identifiquei ocorreu-me uma frase que reputo de valor aproximado, para não dizer idêntico, aquela com que iniciei esta escrita: “é muito fácil criticar” .(Como sabem não é de minha autoria mas sendo tão de todos é como se fosse).
1º episódio – há umas semanas, a Inês adoeceu. Consulta, medicação e domicílio. Ao fim de cinco dias não estava melhor antes apresentando mais queixas. Domingo à noite pegamos na criança e fomos à urgência do Hospital de Santo António . Aí chegadas encontramos uma sala de espera atolada de mães com filhos bebés ao colo. As idades– global e maioritariamente – oscilariam entre os 18 meses e os 3 anos.
O ar estava saturado. Não havia onde nos sentarmos. Esperamos, um pouco mais de meia hora, e constatámos que durante todo aquele tempo ninguém foi chamado. No total encontravam-se lá, 34 crianças doentes. Se ao fim de meia hora nenhuma criança tinha sido chamada é de esperar, partindo do princípio que iriam chamar uma de imediato, que o tempo de espera oscilasse entre as 5 a 10 horas, consoante estivessem um ou dois médicos de serviço. Se nos ativéssemos ao tempo médio de 30’ e um médico de serviço, daria qualquer coisa como 17 horas de espera a respirar ar saturado de micróbios vários.
2º episódio – que o não é! Foi sim uma notícia que li no J.N. de 2001.03.12,(p,16).
Morrem pessoas por intoxicação reactiva entre medicamentos e alimentos, numa base tão simples como: analgésicos; anti-inflamatórios e anti-alérgicos com: vitaminas, nomeadamente as dos citrinos. Por ex. quem está a tomar um anti-histamínico deve ser “proibido” de comer citrinos e outros alimentos ricos em vitamina C.
Moral da história: os serviços públicos não funcionam; recorremos aos privados com enorme esforço económico, na convicção de que serão mais lestos e quiçá, de melhor qualidade –i.e. melhor diagnóstico – vimos a descobrir, nas páginas de um jornal, que nos andam a dar medicamentos que não produzem efeito –ai a vitamina C- ou que, na pior das hipóteses, nos podem levar à morte.

Têm o direito de pensar que estes assuntos não passam de “coisas” comezinhas. Permito-me discordar pois é de coisa pequena em coisa pequena que passamos às grandes e, continuando a não exercer o nosso direito de indignação no momento certo, talvez todo o país se esvaia em dor enquanto o país virtual continua sentado à grande mesa.

15 dezembro 2004

O DESPERTAR DAS COISAS.

Lentamente, muito lentamente, o dia vem chegando.
O Sol dorme ainda iluminando, com o seu sonhar, outros mundos.
A luz não se impõe mas a escuridão começa a desvanecer-se. Há um silêncio e um modo que tem uma substância própria. Do nada as coisas materializam-se num movimento de distensão semelhante ao espreguiçar de todos os animais desentorpecendo os músculos, distendendo-os e sentindo assim a sua própria matéria e a pujança da matéria que os constitui.
Este silêncio do acordar das coisas é diferente de todos os outros silêncios.
É um silêncio-rumor-pestanejar que se estende a tudo e a todos.
Alguns vultos que se movimentam fazem-no de uma forma diferente. Movem-se com um silêncio e uma suavidade incomuns. Lembram os tempos primordiais.
Os movimentos lentos, sinuosos e atentos dos felinos na savana, mas, contraditoriamente, sentem, na alma, uma grande segurança que contraria a expressão que o movimento adquire e afirma.

14 dezembro 2004

O QUÊ E O PORQUÊ.....

Q quê e o porquê....
... e nunca mais o movimento
e nunca mais o ir
e nunca mais o chegar sem ser chamado
e nunca mais o partir

e nunca mais o amar sem ser amado.

(Do livro: AS TAREFAS TRANSPARENTES:16)

13 dezembro 2004

EXCERTO DE:"AS ROSAS DE ATACAMA"

Aqui vos deixo um excerto de um livro que me deu muito prazer ler:
“ Não conheço aquele homem parado na margem do rio, respirando fundo e sorrindo ao reconhecer os odores que viajam pelo ar. Não o conheço, mas sei que aquele homem é meu irmão.
Aquele homem que sabe que o pólen viaja preso à arbitrária vontade do vento, mas confiante e a sonhar com a fértil terra que o espera, aquele homem é meu irmão.
E o meu irmão sabe muitas coisas. Sabe, por exemplo, que um grama de pólen é como um grama de si mesmo, docemente predestinado ao lodo germinal, ao mistério daquilo que se erguerá vivo de ramos, de frutos e de filhos, com a bela certeza das transformações, do começo inevitável e do necessário final, porque o que é imutável encerra o perigo do eterno, e só os deuses têm tempo para a eternidade.
Aquele homem que empurra a sua canoa sobre a praia de areia fina e se prepara para receber o milagre que em cada entardecer abre na selva as portas do mistério, aquele homem é necessariamente meu irmão.
Enquanto a subtil resistência da luz diurna se deixa vencer amorosamente pelo abraço da penumbra, escuto-o a murmurar as palavras exactas que a sua embarcação merece: encontrei-te quando não passavas de um ramo, limpei o terreno que te rodeava, protegi-te do caruncho e da térmita, orientei-te a verticalidade do tronco e, ao deitar-te abaixo para fazer de ti o meu prolongamento na água, a cada machadada marquei também uma cicatriz nos meus braços. Depois, já na água, prometi que havíamos de continuar juntos a viagem começada no teu tempo de semente. E cumpri. Estamos em paz.
Então, aquele homem vê como tudo muda, como se transforma no preciso instante em que o sol se cansa de ser mil vezes diminuto, multiplicado nas escamas de ouro que os ribeiros arrastam.
(...) aquele homem que dispõe na praia os seus amuletos protectores, as pedras verdes e azuis que manterão o rio no seu lugar, aquele homem é meu irmão, e com ele olho para a lua que se mostra de vez em quando entre as nuvens banhando de prata as copas das árvores. Oiço-o murmurar: Tudo é como deve ser. A noite aperta a polpa dos frutos, desperta o desejo dos insectos, acalma a inquietação das aves, refresca a pele dos répteis, põe os vaga-lumes a dançar. Sim. Tudo é como deve ser.
(...) aquele homem que espalha agora sobre a areia as sementes de tudo o que cresce no seu território de origem, para depois estender sobre elas o corpo fatigado, aquele homem é meu imprescindível irmão.
Duras são as sementes do cusculí, mas irão trazer para os seus sonhos todas as bocas ansiosas que receberam o seu sabor agridoce no tempo do amor. Ásperas são as sementes do urucuzeiro, mas a sua polpa vermelha adornou as caras e os corpos das eleitas. Dolorosas são as sementes da yahuasca, porque talvez assim disfarcem a doçura do licor que produzem e que, bebido com a ajuda dos velhos sábios, dissipa o tormento das dúvidas sem entregar as respostas, antes enriquecendo a ignorância do coração.(....)SEPÚLVEDA, Luís, 2000, AS ROSA DE ATACAMA, ASA ED., PORTO,(pp,10:12)

09 dezembro 2004

DOCE LITURGIA

Ontem fui a uma homenagem ao Maestro Manuel Ivo Cruz, pela passagem dos 50 anos de carreira artística.
A homenagem em si foi simpática como o é todo o acto expresso de reconhecimento.
Quero deixar aqui um apontamento sobre a liturgia da actuação de uma orquestra.
Depois de num primeiro momento ter decorrido a sessão de discursos, foi o palco esvaziado da mesa e das cadeiras dos oradores. Ficou nú, despojado de qualquer artifício.
Súbito, os músicos que constituem a orquestra avançam céleres sobre ele transportando cadeiras e banquetas para as pautas. O enorme espaço (creio que de uns catorze metros de comprimento, por uns oito de profundidade), fica semeado pelos objectos atrás referidos, colocados de forma aparentemente desordenada.
Olha-se e parece um desordenamento caótico . Atenta-se e vê-se uma estética, um equilíbrio, no aparente caos.
Os músicos entram transportando os respectivos instrumentos e a magia acontece.
Ao centro, à direita, uma flauta começa a fazer-se ouvir. Num grito estridente ecoa pelo palco, logo seguida de muitos outros instrumentos. O momento de afinação de instrumentos é o primeiro em que nós, auditores, somos permitidos. Entramos assim, num acto litúrgico de grande profundidade, como iniciados. Sabemos que o não somos ( no meu caso concretamente em que nada sei de música para além de a ouvir). É-nos permitido entrar por este magnífico portal onde se tece magia.
Cada um afina-se para seu lado (aparentemente) e a cacofonia de sons enche o recinto e envolve-nos criando um espaço de intensa beleza. Não conheço liturgia mais secreta, e ainda assim que a todos tão bem integre, como a da música, desde o momento da afinação de instrumentos. Parece que, juntamente, afina as almas.
Depois foi mergulhar na onda de beleza criada pelas vozes e instrumentos com as cinco peças magistralmente escolhidas.
Agora há, por todo o lado, os Concertos de Natal. Não percam.
Deixem-se tomar. Apanhem esta crista e surfem na magia dos sons.

08 dezembro 2004

EM TEMPOS SOÇOBREI!

Em tempos soçobrei
Destroço ténue
farrapo de ar
voguei nas órbitas dos teus olhos
e no lugar mais secreto do teu eu
ancorei
só do olhar fundo dos olhos me alimentei.

O mar rebentava contra os cais do mundo
As ondas amansavam nas areias de nossos corpos.

(Do livro: AS TAREFAS TRANSPARENTES:15)

07 dezembro 2004

ALENTEJO REVISITADO POR DENTRO!

O Alentejo não tem sol
é todo ele radiação

A luz
senhora absoluta.

A sombra,
diáfana e transparente.

(Do livro: AS TAREFAS TRANSPARENTES:55)

06 dezembro 2004

COMO A VIDA NOS DÁ LIÇÕES! APRENDEMO-LAS?

«Paulo, com o rosto triste e cansado, encontrou-se com a sua amiga Carla num bar, para tomar um café.
Deprimido descarregou nela todas as suas preocupações... o trabalho... o dinheiro... a relação com a sua namorada... e a sua vocação... Parecia que tudo corria mal na sua vida. Carla meteu a mão na carteira e tirou uma nota de 50 EUROS e disse-lhe:

- Queres esta nota?
Paulo ao inicio um pouco atrapalhado, respondeu-lhe:
- Com certeza, Carla... são 50 EUROS, quem não os quer?
Então Carla pegou na nota numa das mãos, amarrotou-a, e fez dela uma pequena bolinha.
Depois mostrando-a ao Paulo toda amachucada, perguntou-lhe de novo:
- E agora, ainda a queres?
- Carla, não percebo aonde queres chegar com esta
brincadeira, a nota continua a ser de 50 EUROS. Com certeza que a não vou deitar fora, se tu ma deres.
Carla alisou a nota, deitou-a ao chão, espezinhou-a e, por fim, pegou nela suja e amarrotada.
- E agora continuas a querê-la? - perguntou.
- Escuta Carla, ainda não consegui perceber onde queres chegar, mas, embora ela esteja assim reduzida, continua a ser de 50 EUROS e, até que não a rasgues, conserva o seu valor...
- Paulo, deves saber que se por vezes alguma coisa não sai como tu queres,também se a vida te prega uma partida, continuas a ser tão importante, como antes... O que deves perguntar-te é quanto
vales realmente e não quanto podes ser abatido num momento particular.
Paulo ficou como que paralisado a olhar para a Carla, sem dizer uma palavra, enquanto a mensagem entrava profundamente na sua cabeça. Carla pousou a nota engelhada sobre a mesa, perto dele e, com um sorriso cúmplice disse:
- Pega nela e guarda-a, para que te lembres sempre deste momento, quando te sentires mal... Porém deves dar-me uma nota nova de 50 EUROS para eu a poder usar com o próximo amigo que precisar.
Beijou-o na face e afastou-se em direcção à porta.
Paulo voltou a olhar para a nota, sorriu, olhou-a e com uma energia nova, chamou o empregado para pagar a conta...
Quantas vezes duvidamos do nosso valor, do que realmente merecemos e que somos capazes de alcançar de nos comprometemos. Certo que não chega prometer... Requer-se acção e, para isto existem muitas estradas a seguir.
Agora reflecte bem e procura responder a estas perguntas:
1 - Nomeia as 5 pessoas mais ricas do mundo.
2 - Nomeia as 5 ultimas vencedoras do concurso Miss Universo.
3 - Nomeia 10 vencedores do prémio Nobel .
4 - Nomeia os 5 últimos vencedores do prémio Oscar, como melhores actores ou actrizes.
Como Vai? Mal é?
Não te preocupes. Ninguém de nós se lembra dos melhores de ontem. Os aplausos vão-se embora! Os trofeus ficam cheios de pó! Os vencedores esquecem-se!
Agora responde a estas perguntas:
1 - Nomeia 3 professores que te ajudaram na tua formação.

2 - Nomeia 3 amigos que te ajudaram nos momentos difíceis.
3 - Pensa em algumas pessoas que te fizeram sentir alguém especial.
4 - Nomeia 5 pessoas com quem transcorres o teu tempo.
Como vai? Melhor não é verdade?
As pessoas que marcam a tua vida não são as que têm as melhores credenciais, com mais dinheiro, ou os melhores prémios... São aquelas que se preocupam por ti, que cuidam de ti, aquelas que de algum modo estão contigo.
Reflecte um momento. A vida é muito curta!
Tu, em que lista estás? Não o sabes?... Permite-me dar-te uma ajuda... Não estás entre os famosos, mas estás entre aqueles que eu recordo para mandar esta mensagem.
Há alguns anos atrás, às Paraolimpíadas de Seattle, nove atletas, todos mentalmente ou fisicamente desabilitados estavam prontos na linha de partida dos 100 metros. Ao disparar da pistola, iniciaram a corrida, não todos correndo, mas todos com vontade de chegar e vencer. Enquanto corriam, um dos concorrentes caiu no asfalto, deu umas cambalhotas e começou a chorar.
Os outros ouviram-no chorar. Relentaram e olharam para trás.Pararam e voltaram atrás... Todos. Uma menina com a síndroma de Down sentou-se perto dele e começou a beija-lo e a dizer-lhe:
- Agora estás Melhor?
Então abraçaram-se todos e os nove caminharam em direcção à meta.
No estádio todos se levantaram e, aplaudiram durante vários
minutos.
As pessoas que estavam presentes continuam a contar esta história. Porquê? Porque dentro de nós sabemos que:
A coisa mais importante na vida vai além de vencer por nós mesmos.
A coisa mais importante nesta vida é ajudar os outros a vencer, ainda que comporte relentar e mudar a nossa corrida. Mudar o nosso coração e aquele dos outros...
"Uma vela nada tem a perder acendendo outra vela"
Então, o que fazes envias ou apagas? ! ? »


TEXTO QUE CIRCULA NA INTERNET, DE AUTOR/A DESCOMNHECIDO/A

05 dezembro 2004

PARA A INÊS! ESCREVENDO SOBRE A AMIZADE!

Lembram-se de, em Novembro - 17, ter pedido a vossa colaboração para falar sobre a amizade? Hoje deixo-vos o produto final, como um:OBRIGADA!

A AMIZADE

A amizade é:
como o fresco da sombra,
no Verão!
Como a carícia do mar,
ao nadar!

A amizade é:
água que mata a sede,
pão que mata a fome!

A amizade é:
gostar do outro
como de nós.
Não o querer mudar.
E como é, o aceitar!

A amizade é:
Estar atento e dar,
ao amigo, o que
de nós precisar!

A amizade é,
também: A VERDADE,
mesmo que doa!
Mas não por QUERER
Magoar!

A amizade é:
Jogar a mão
e suster na queda.
É amparar,
presente estar
quando de nós necessitar.

A amizade é RIR!
Rir muito, gargalhar
mesmo sem porquê saber,
se o amigo feliz estiver!
E é também
a capacidade de
com ele chorar, mas
principalmente,
ajudá-lo sempre a andar,
pois é vasto o mundo

e longo o caminhar.

29 novembro 2004

AVISO A QUEM POR AQUI PASSA, VOLTA E MEIA....

....MEIA VOLTA!
VOU ESTAR AUSENTE POR UNS DIAS E SEM HIPÓTESE DE AQUI ESCREVER. lÁ PARA DOMINGO, 05 DE DEZEMBRO, ESTAREI DE VOLTA.
ESPERO QUE VOCÊS TAMBÉM.
POR CÁ NOS ENCONTRAREMOS ;)
XOS. CHUAC, CHUAC...........
MOLHINHOS DELES. COLORIDOS, PINTALGADOS, MACIOS E AVELUDADOS ;) @-',--

28 novembro 2004

JARDINS FLORIDOS

«Deixar de ser amada, é tornar-se invisível. Tu já não te apercebes de que eu tenho um corpo.»

27 novembro 2004

HISTÓRIA DE UM "QUOCIENTE APAIXONADO"

Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar

Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.

E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E se casaram e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.

E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.


(Autor desconhecido -circula livremenmte por aí, na net!)

26 novembro 2004

UM RIO INTENSO E SUBMERSO CORRE

UM RIO INTENSO E SUBMERSO CORRE
FORMANDO UM INFINITO DE DESEJO
PERCORRE MEANDROS OCULTOS DENSO
FLUINDO SE O ENSEJO O LIBERTANDO.
E À RÉS DO PORO RESPIRADO A TERNURA
É LUZ INCENDIANDO O CORPO TODO
NUM JOGO INVENTADO DE CANDURA
O MUNDO RODANDO DE PAIXÃO ILUMINADO.


(Do livro: AS TAREFAS TRANSPARENTES)

24 novembro 2004

JÁ QUE O MUNDO É UMA BOLA QUE REBOLA (parte 3)

(O regressado do esquecimento pela indiferença)

Esquecera-se ele de Constâncio, seu amigo desde a escola primária, ao contabilizar a ausência ou presença de amizades na sua vida, pela desvalia em que as tinha.
Fazendo jus ao nome, Constâncio era fiel a uma amizade que só existia na sua cabeça e, crê-se no seu coração. Haviam sido colegas de carteira desde a primeira até à quarta classe e continuaram no mesmo liceu e turma até ao final.
Assim, sem esforço de qualquer um, muito menos de Mércio, solidificara-se uma relação infanto-juvenil que durava, unilateralmente, ao longo dos anos, inclusive à mudança de século.
Não sendo a família de Mércio uma família ilustre pertencia à burguesia endinheirada de Matosinhos, possuindo, para além da moradia própria em que habitavam, uma segunda e opulenta casa em Espinho para onde iam a banhos durante quase todo o Verão.
Por seu lado Constâncio Oliveira Neves, era filho de trabalhadores assalariados que viviam modestamente, em casa de aluguer, sempre a deitar contas à vida, no sonho de fazer mais umas poupanças que iam enterrando na casa que herdaram na aldeia das Neves, no distrito de Beja, de onde eram oriundos e de onde tinham fugido por causa das perseguições políticas feitas pela PIDE-DGS, dada a proclara simpatia pelos vermelhos e a antipatia ao regime.
Apesar de já estarem a residir no norte há largos anos, o filho já aí fora gerado, o seu sonho continuava a ser regressar ao Alentejo. Como a maioria dos emigrantes deseja regressar a Portugal, cá envelhecer e morrer falando uma língua "
que toda a gente entende".
Depois do 25 de Abril de 1974 pensaram os pais Oliveira Neves em retornar, mas deitando contas aos anos de trabalho, às convulsões em que o Alentejo se encontrava mergulhado com a reforma agrária e o enorme atraso a que tinha sido sujeito, em represália, pelos governos de Salazar e de Caetano (atraso ainda maior do que o geral do país. Talvez só comparável ao de algumas zonas das Beiras e, principalmente de Trás-os-Montes), decidiram continuar nas suas vidas sem turbulências, dado serem pacatos, respeitadores, trabalhadores e bons vizinhos, tendo, depois de evaporada a inicial desconfiança das gentes de Matosinhos, sido bem aceites e feito inúmeras amizades ganhando o respeito dos que com eles privavam. Viviam pois, como diziam:
"remediados"!
Ora Mércio levava para as aulas, lautos lanches bem recheados de vitualhas que não faziam mesa em casa dos Oliveira Neves. Vitualhas que repartia irmãmente com Constâncio, mais por inércia do que por generosidade, facto que ao outro era alheio. Para Constâncio o que contava era que o amigo sempre dividira os lanches , sempre o aceitara e integrara nos seus folguedos, privando quase em exclusividade com ele, o que interpretava como sinal de amizade maior.
Pois foi este mesmo Constâncio que um dia lhe bateu à porta e lhe aterrou nos braços, num abraço de urso enquanto, sem parar e preso de grande comoção a raiar as lágrimas, repetia: “ora, não querem lá ver, o meu grande amigo Mércio!”
Mércio não reagiu. Como poderia ele perante esta explosão, esta avalanche de homem e de amizade que, literalmente lhe caiu em cima, sendo ele um indivíduo seco, sem emoções, quanto mais explosões?
Paralisado deixou-se ser abraçado, apalpado, a ver o estado de conservação enquanto Constâncio dizia: “
mas tu tás bem pá, tás bem! Talvez um pouco gorducho, mas tás bem....” . E lá lhe ia dando carinhosos beliscões nas bochechas.
(Fim da 3ª parte)

23 novembro 2004

O SR. MÉRCIO DA SILVEIRA

...de que vos falo lá atrás. Lá bem atrás! Telefonou.
Como não atendesse (por acaso tinha ido ao cinema ver: "A VIDA É UM MILAGRE") deixou mensagem no voice-mail a dizer que me vai fazer uma surpresa. Que está por aí a aparecer...
Pois que venha! Será bem recebido!
Aguardemos então a visita de tão imponente personagem!

20 novembro 2004

FLORIDOS CAMPOS

AVISO À NAVEGAÇÃO:
Aqui fica um pensamento para este domingo. Ou seja: amanhã!
Feeding Birds

«Para aqueles que amam o tempo não existe, (...) arrancaram o coração para o darem ao ser amado;(...)»




????????????????? NÃO SEI!!!!!

Scared To Death 2

POR VEZES TENHO A MUITO BIZARRA SENSAÇÃO DE SER INVISÍVEL PARA OS OUTROS.

NÃO O MEU CORPO FÍSICO, MAS "EU"! O MEU EU INTERIOR!

A forma como me recriam/me "representam", me olham me pensam e, afinal me vêem!

Certamente o choque entre as representações próprias e as alheias.

O choque entre a (minha) representação esperada (pelos outros) e a que eu sou, para além da que eu gostaria (?) de ser (sociológicamente falando).

Mas não é nada agradável esta sensação de invisibilidade.

?



19 novembro 2004

AFINAL HOJE AINDA SÓ É SEXTA-FEIRA!!!

Tenho uma tristeza
tão profunda e tão real
como se fosse coisa física.
Hand Hand
Pego-lhe com as mãos
e coloco-a num móvel,
à minha frente.
Desk
E observo-a. Tão espantada
quanto a noite,
por tal coisa existir em mim.

Tão grande e tão funda.

E retirando-a eu de mim,

com as mãos, ela continuar

(ainda assim) presente.

Fainting

(Do livro: AS TAREFAS TRANSPARENTES)




18 novembro 2004

A madrugada apanhou-me desprevenida. De olhos abertos, fixando a abóbada celeste. Stargazing
A luz dos candeeiros da rua ofuscava o brilho das estrelas, mas ainda assim conseguia ver muitas e vi-as rodar à medida que a noite avançou.
Posteriormente vi-as, como que diluirem-se no azul com o avançar da madrugada.
O curioso é que não tinha nada específico para fazer. Não estou a ler nenhum daqueles livros que se lêem de fôlego, sem parar.
Nenhuma outra tarefa me impunha uma "directa".
Nada de nada (conscientemente) me obrigava a manter a vigília.
Estava acordada porque sim!
Os pensamentos não me eram mais pesados do que habitualmente (talvez a tragédia - densa palavra - seja o dia a dia ser um fardo tão grande).
Era tudo e era nada: os problemas, as tristezas, as ausências..., mas também um certo bem-estar por estar viva num planeta tão belo.
O que mais doi é este amor perdido, sem razão, sem razões.
Há muito perdido e ainda tão presente.
O outro, sentido como uma parte de mim que se foi. Tanta água já correu por debaixo destas pontes....Tanta mais correrá e nós sem de nós sabermos.
Porque foi que nos perdemos um do outro no caminhar?
Como se um fosse pela bifurcação da direita e o outro, pela da esquerda.
Parecia caminharmos a par... Ilusão!
Súbita e dolorosa a percepção de que nos afastáramos irremediavelmente,que a comunicação era toda deturpada, que os interesses e a percepção do mundo nos antagonizavam, para além do imaginável.
Perdemo-nos.
Fomos encontrando bocados de nós e com eles reconstruindo novos seres, que continuam vivos e criaram novas vidas.
Não é saudosismo. Nem sei o que isso é. Nunca passei nesse quintal!
É um pouco como a consciência de algo perfeito que se teve, viveu e se perdeu!
Creation Of Adam






17 novembro 2004

PEDIRAM-ME QUE ESCREVESSE SOBRE A AMIZADE

Raining Hearts

Uma menina chamada Inês pediu-me um poema sobre a amizade.

Tenho andado a pensar na forma e no conteúdo. Quer no tocante ao conteúdo em si, quer às palavras possíveis que o tornem inteligível para crianças de oito anos, dado que pretende levá-lo para a escola, para o partilhar com a professora e colegas.

Estou na fase de escrever as ideias avulsas, que me ocorrem, para posteriormente lhes dar o corpo final.

Hoje lembrei-me de duas citações que transcrevo :

  1. «A amizade é um problema dos homens. É o romantismo deles.»(50)*
  2. «A amizade, esvaziada do seu conteúdo de outrora, transformou-se hoje num contrato de atenções recíprocas(...) num contrato de delicadeza.»(51)*

É certo que são, digamos cínicas (não porque não sejam verdadeiras, mas porque são duras como punhos) para integrar em qualqur texto para crianças.

Lembrei-me de vos deixar o desafio:

Partilhem comigo os vossos pensamentos/reflexões e experiências, sobre e de amizade, de forma que possam enriquecer o produto final.

Espero os vossos preciosos contributos. Email Balloons

Bem hajam.

*In,KUNDERA, Milan (2002)








16 novembro 2004

DESPERTAR

(3º E ÚLTIMA PARTE)
Apesar da chuva, ou talvez ainda mais por isso, era tão estranha a situação daquela mulher, sentada nua, no meio do jardim, abraçada aos joelhos a chorar convulsivamente, sem que o rosto se alterasse, que as pessoas começaram a parar e a interrrogar-se sobre o que haviam de fazer.
Foram fazendo uma roda à volta da mulher mas ela de nada se apercebia.
No corpo nu a água deslizava.
Os passantes, vestidos, estavam a ficar ensopados, mas a situação tão estranha da mulher ali sentada, nua, abraçada aos joelhos, chorando com convulsões que lhe arrancavam sons de dentro do peito enquanto o rosto não dava outros sinais de vida a não ser o rolar constante, contínuo, de lágrimas competindo com a chuva...., misturando-se com esta, mantinha-os fascinados.
Falavam uns com os outros sem saber o que fazer. Tapá-la talvez? Chamar o 115*? Alguém a conhecia?...?
A mulher sentiu o corpo abrir-se-lhe e o sémen escorrer por ele. Abundante e quente, como se acabasse de ter o orgasmo.
Deixou-o sair. Infiltrar-se na terra. Para isso ali fora. Para a fecundar .
Saiu um jorro. A mulher parou de chorar. Parou a chuva.
As nuvens voaram, céleres, abrindo clareiras de azul e o sol incidiu sobre o corpo nu da mulher que continuava impassível com um imperceptível sorriso no rosto.
Os caminhantes apressados que haviam parado, intrigados ou preocupados talvez, acharam que era melhor dispersar, já que a mulher nua continuava calma como se estivesse sozinha no mundo.
Abalaram.
E ela ficou.
Sozinha no mundo. Fecundadas.
A terra e ela.
Yin Yang
*N.B - QUANDO FOI ESCRITO AINDA VIGORAVA O Nº 115 PARA AS EMERGÊNCIAS.
(Do livro: FALAR MULHER)





15 novembro 2004

DESPERTAR

(Continuação)

Ficou. Deitado o corpo na posição inicial. Abertos os olhos fitando a cúpula dos céus e vendo a sua casa, a sua pátria.
Via-se a caminhar pela velha linha de combóio desactivada, com as botas de inverno enlameadas. Uma poalha caía ininterrupta dando um ar de sonolência ao mundo.

De vez em quando baixava-se e esgaravatava na terra.
Procurava os musgos mais verdes/dourado. Mais altos, fofos e macios para montar o presépio.
A terra conversava com ela. Sorria.
O corpo nu da mulher continuava deitado sobre a terra. O vento gelado do inverno fustigava-a. Não via. Não sentia.
Não sabia que estava ali e não na sua casa, na sua pátria.
Da mesma forma os olhos abertos, sem nunca pestanejarem, mas também sem nada olharem ou verem.
Sentou-se. Flectiu os joelhos. Dobrou o torso para a frente, sobre os joelhos que abraçou com os braços. Pensou que devia chover: "deve estar a chover na minha pátria, ...". Embalou-se suavemente.
Dos seus olhos começaram a cair grossa lágrimas, de fio..., de fio...
Chorava a mulher. O corpo, agora mais exposto ao vento gelado, enrolado à volta dos joelhos, abraçado a embalar-se ritmadamente.
No céu as nuvens escuras carregadas correram e começou a chover, violentamente.
Chorava a mulher e o mundo.
Misturadas as águas.
Guardava dentro de si o sémen.
Sentia os pêlos púbicos empastados pelos fluidos de ambos que assim perservara.
A água escorria e lavava-lhe o corpo nu.
A alma andava longe. Andava na pátria da mulher e eesquecera-se do corpo ali. Dos olhos da mulher brotavam tantas lágrimas como nunca alguém julgaria possível.
Pareciam competir, os olhos e os céus, na chuva que deitavam, abundante, sobre a terra.
Foi assim que a encontraram. Encontraram? Que a viram....

(continua)

14 novembro 2004

MISTERIOSOS FLUXOS DE ALMA(S)

Há, entre nós e a vida, um misterioso e mágico movimento de retorno.
Nos locais e momentos mais inesperados encontramos pessoas que vão desempenhar um papel determinante no nosso crescimento enquanto seres humanos o mesmo se passando com os livros.
A coincidência e o acaso não existem.
Há corrente e tensões, fluxos de energia, quer de atracção quer de retracção, que aproximam ou afastam de nós, tanto pessoas como coisas/livros, por estarmos ou não «preparados» para os ler.
Isto é, para, ao descodificá-los nos descodificarmos e ganharmos mais uma pequena parcela no caminho do auto-conhecimento em direcção à fonte.
E falo, talvez, dos nossos fugazes encontros e/ou desencontros.
Das emoções, positivas e negativas, de que tu não falas (nem tens que o fazer).

Tenho pena (apesar de não valer a pena ter pena) de não termos passado mais tempo juntos.
Será porque este não é o tempo de ou para estarmos juntos? Painted I Love You






FLORIDOS CAMPOS

Gardening

REFLICTAMOS NESTA FRASE:

«...não herdamos a terra dos nossos antepassados; ela foi-nos emprestada pelos nossos filhos.»

Saint-Exupéry (1900-44)







13 novembro 2004

DESPERTAR


House
Acordou e interrogou-se. Por que razão estava ali, naquele quarto, naquela cama?
Levantou-se e caminhou procurando orientar-se e encontrar a porta para a rua.
Eram longos os corredores da casa.
Grande. Vazia. Cheia de silêncios.
Devagar foi caminhando até saber que chegara à porta que conduzia à rua.
Percorrera quase toda a casa e não encontrara ninguém. Não ouvira qualquer ruído indicador de que, para além de si, mais alguém se encontrasse na casa.
Abriu a porta e saiu. Um patamar. Umas breves escadas e...a rua.
Foi sempre caminhando. Não via ninguém.
Sentia os ruídos da vida, o sopro do vento e o ar, vivo, a entrar-lhe nos pulmões.
Porque estava ali e não em casa? Na sua pátria?
Caminhou como quem conhece o caminho.
Tree 5 Tree 2 Tree 3 Tree Tree 4 Tree 2 Tree 5 Tree 4 Tree
Foi dar a um imenso campo, jardim ou bosque. Procurou-lhe o ponto central e deitou-se, de costas. Abertos os braços, em cruz. As pernas abertas também, ligeiramente afastadas.
A tocar a maior superfície possível de terra com o seu corpo franzino.
Os olhos mantinham-se abertos desde que acordara. Lá no alto estava o céu, mas não o via. Sentia. Só sentia.
Sentia o frémito da terra-mãe debaixo do corpo. Sentia um vento gelado a fustigar-lhe o corpo, mas não sentia frio. Ouvia, dentro de si, mais profundamente do que ao nível simples dos ouvidos, a conversa murmurada das plantas rasteiras e do arvoredo.
(continua)









12 novembro 2004

AQUELA MULHER JOVEM CAMINHA


Aquela mulher jovem, caminha.
Pesada das horas de trabalho,
dos sacos das compras, das horas
nos autocarros. Embaciados os gestos.


A luz não a ilumina, envergonhada
da vergonha que sente. Teimosa
continua em frente, qual animal
perdido, a quem a vida não consente.

(Do livro: FALAR MULHER)


Mouse On Wheel





11 novembro 2004

FRAGMENTOS 1

SnorkelGuiadas as águas do corpo, pelo brando rumor do mar, caminhou até à praia.
Cerrado, espesso e frio o nevoeiro. Invisível o mundo. Só por este secreto diálogo, das águas presas às águas correntes é a orientção possível.
Ouve as vozes das carpideiras.
Por elas sabe que chegará à praia. Lugar de todos os inícios.
É cada vez mais espesso o nevoeiro. O vento arrasta grandes e geladas núvens brancas que a atravessam como a um corpo imaterial.
Avolumam-se as vozes das carpideiras.
Estão por todo o lado. Como o nevoeiro.
Não se lhes vê a origem.
O doloroso choro é o único som existente no mundo. Nada se ouve para além dele. Envolvente, gritado e sustido por dezenas de vozes.
Como um arrepio arranha tudo o que alcança.
O volume aumenta e diminui numa cadência de dor, sempre presente,sempre sustida; em todos os lugares, mesmo no mais espesso leito do nevoeiro.
Às cegas caminha pela praia. Procura as carpideiras, mas o seu choro é tão espesso como o nevoeiro, sempre tão perto e tão intocável. Toca-nos, mas não nos permite tocar-lhe.
Fugidio. Errante e no entanto envolvente como um útero, não lhe permite alcançá-las.
Tudo passa por ela como por um ser incorpóreo. Caminha sempre.
O frio envolve-a cada vez mais. Não é possível a orientação naquele muro gritado, opaco de dor e nevoeiro.
Cortante como gume de gelo.

(Do livro: FALAR MULHER)








PEQUENO POEMA

Visit My Mail Stamp!
FURTOS

Entre a casca e o olhar, a pele.

(INÉDITO)







10 novembro 2004

PORQUE É PRECISO OLHAR O MUNDO COM OLHOS DE CRIANÇA

...partilho algumas palavras/poemas de encantar
para nos re-ensinarem a OLHAR :
"Silêncio é o barulho baixinho!..."Fairy
Sara Peixoto, 3 anos

"Um livro tem palavras que fazem sonhos."Relaxing By The Fire
Joana Cruz, 3 anos

"Poesia é uma coisa que não é a mesma coisa mas é igual"Dove
Beatriz Bruno Antunes, 4 anos

"Este gelado até inverna as mãos."
Gonçalo Gonçalves, 4 anos

"Estou com tosse. Engoli frio um dia." Snow Storm
Inês Fernandes, 4 anos

"Eu faço magia quando abraço o meu pai." Big Hug
Cláudio Almeida, 4 anos

"Quando o ar cheira bem é porque os astronautas no espaço estão a comer rebuçados."Lollipop 2LollipopLollipop 2
Gustavo Almeida, 5 anos

"O céu à noite é um lençol com estrelas."StarsStarsStars
Gustavo Almeida, 5 anos

"Os namorados são amigos de casamento"Bride & Groom
Ariana Semedo, 6 anos

"O Amor é o dobro." Love You A TonLove You A Ton

Pedro Martins, 5 anos

Circle Of Hearts
(Desconheço autor/a de recolha. Maria Rosa Colaço? - talvez)