25 dezembro 2008

porto de abrigo


porto de abrigo

recordo a sua voz a dizer-me em tom de oráculo: toda a cisma gera sofisma.
Alva, era um ser iluminado. Decididamente tinha a capacidade de desvendar a alma do ser humano nos seus mais esconsos recantos e mistérios.

alma de grande bondade percebia, antes de qualquer outra pessoa, os ventos de mudança, quer fossem colectivos quer individuais. nunca usou em seu proveito esse poder ou dom. nunca utilizou qualquer parlogismo nas respostas que nos dava quando inquirida sobre alguns assuntos por mais melindrosos.

a vida segue o seu curso e no decurso desta muitas vezes nos afastamos geograficamente de pessoas significantes em nossas vidas. foi isso que aconteceu entre mim e Alva. e digo, entre mim e Alva porque fui eu quem partiu. ela continuou na velha mansão a cuidar de tudo e de todos.

a chegada da carta, escrita pelo seu punho, com a sua letra alongada, quase cuneiforme, deixou-me intrigado. várias vezes a virei e revirei antes de me decidir a abri-la.
anunciava-me o nosso reencontro, pois chegaria dentro de dia e meio.
se esta viagem era, por si, razão de surpresa dado Alva nunca ter saído da terra, da mansão e terrenos ao redor, o facto de me designar por patrono deixou-me estupefacto e curioso.

se justiça havia no mundo e alguém merecia essa designação era ela. não eu.
o que significaria tal inversão de papeis ao dar-me tal tratamento?

tentei manter-me imerso no trabalho pois o facto inédito da viagem e o título usado tornavam-se uma inquietação cada vez maior.

chegada, falámos de tempos vividos. deu-me notícias de nascimentos e falecimentos, de alterações ocorridas na terra durante a minha longa ausência.
sabia que de nada serviria questioná-la sobre os dois factos que tanta estranheza me causavam.
falaria quando chegasse o momento certo. o equilíbrio necessário estivesse reposto entre nós depois de tanto tempo.

falou e eu, estupefacto, nada fui capaz de dizer. viera anunciar-me as medidas a tomar dentro de poucos dias pois chegara a hora de partir. viajar para o outro lado do véu, disse.

as lágrimas afloraram meus olhos, a alma encolheu-se dentro de mim. voltei a ser o menino de quem sempre cuidara e perdido me senti.
estivesse onde estivesse, sabê-la viva na mansão, era a fonte de toda a minha energia e segurança. agora o meu eterno porto de abrigo movera-se para vir dizer-me que chegara a hora, que se ia….
depois me disse que eu era muito mais do que imaginava. não era um homem comum.
ao longo dos séculos sempre viera para jogar um papel importante no seio da humanidade. ela fora a minha guia nesta vida, mas os meus poderes eram superiores aos dela. eu era o patrono. ela a eterna seguidora, a discípula, mas estava honrada com a missão que tivera nesta encarnação.

chegara a hora. devia retornar à mansão e preparar-me antes da sua partida, pois havia muito trabalho a fazer. sabia-me pronto. só tinha que aclarar a visão interior e re-ligar-me ao meu eu superior de que a vida mundana me mantivera deliberadamente afastado até ao dia certo. e esse dia chegara.

19 dezembro 2008

Talvez um poema de Natal e desafio a todas/os


talvez um poema de Natal



dizem:
- tens um ar cansado!

sim, tenho!
tenho um ar cansado.

cansados alma e ser.

a matéria que o corpo
constitui,
a imponderável invisível
e etérea substância –
pó das estrelas –
que a alma, espírito,
o SER, constitui.

a unidade que sou,
cansada.

cansada de des-amores
em todo o
tipo de relações entre os seres.

cansada a alma
exausto o corpo
frustrados tantos sonhos
logo repostos por sonhos outros
que a vida é movimento -
acção e reacção –
fé em si e nos outros…

em jeito de balanço,
bem ao alto, ergo
o cálice da água que nos
constitui e digo:


_ varram-se, para longe,
ilusórias, unilaterais
amizades.
cesse o pranto da alma
em que o corpo soçobra.
altivos e belos
se ergam os lírios do campo
e a majestosa
os céus corra,
simultâneos os seus quatro
ciclos.

quedem-se as vozes
no silêncio
e nele se reconstrua
um mundo sem logros
bem-vinda toda a diferença seja –
riqueza maior
da humana espécie -
e que
a intemporal mensagem
ao longo dos séculos
por tantos dita,
nos corações faça eco
e ninho. casa e CAMINHO.

“ama o “OUTRO” como a ti mesmo.”

sempre esquecemos:



- o “outro” somos nós!

_________________________

Aqui deixo um desafio a quem quiser entrar: fazer um acróstico com a palavra NATAL
Enviem para Tostimara@mail.com que o colocarei aqui.
Não esqueçam o nome e o link do vosso blog para o referir.
o meu contributo com 2 acrósticos:
I

..Nascimento da
..Àgua da vida
.Tu”…eu, unidade em
..Amor e
..Liberdade.

II

Nada morre. nunca tal
Acontece. quando
Tu, que desconheço, morres a
Alma, nossa e única, se
Liberta e voa e um grito de dor
............................ [sempre ecoa]
TMara
______________________________
III

.Neste dia do ano
. Antes do nascer do sol
. Talvez as aves
. Amanheçam
. Livres em mim.’
_________________________
IV
Numa longa espera
Agora e sempre
Trago tua magia
Assente e certa
Leve suave brisa.
_______________________________
V
Nome infinito
Apenas lido agora
Tu e eu veementes
Após o Inverno gelado
Lamento da neve...
_______________________________
VI
Neve cai. suave e
Alva sobre o mundo. em
Tudo reflecte a luz da
Alma. viajante
Luar no céu de nosso olhar.
_________________________________
VII
Nada no mundo existe a não ser
Alma, espírito solto em ondulações
Tu , Eu, em pura energia de
Amor para além do vácuo do espaço,
Liberto para o início de toda a criação
_____________________________
VIII
Nada se move tudo se aquieta na
Alvorada dourada e mansa
Todo o mundo se ilumina
Ao nascer o astro-rei
Luzeiro nos caminhos da vida.
__________________________________
Nada sei de assuntos de
Alma pois perdida em mim anda
Tal etérea presença a ponto tal que
Assim me perco com a esperança
Lume leve que me consome.
___________________________________
Nada é impossivel.
Amor é sustento intemporal.
Tudo resulta dum simples gesto.
Abre os braços à vida, e sê
Livre vontade em compaixão!
__________________________________
Nuvens, neblina, névoa
Ando sempre à deriva….eu sei…
Tropeço, mas não caio…
Abro a boca para falar….
Lentas, as palavras desistem de mim
___________________________________
Não existe só este dia
Amar é ser-se nobre e constante
Tem a máxima diária!
Amizade e todo o amor é o
Lema da vida e nos faz sorrir!
__________________________________
Nesta noite os
Amantes reencontram-se
Trazendo memórias de
Amor e
Luz
__________________________________
Nada tenho a dizer…
Apaixono-me….
Tenho momentos e poemas….
Andam sorrisos perdidos….
Laços, luzes, brilhantes.
__________________________________
Nutre a terra com teus
Abraços e forma uma palavra de
Trigo: todo o cante e toda a
Aurora é a voz do menino que se
Levanta.
__________________________________
Nem sempre o caminho se abre
Ao sonho bonito de um Pai Natal
Todo enfarruscado a descer da chaminé;
A mais das vezes é um homem de verdade
Ladrão de sonhos, de risos, de meninos sem fé!
__________________________________
Numa noite igual a tantas outras
Alguém especial nasceu!
Trouxe a bondade e esperança,
Alegria para todos os povos,
Luz para os homens de boa vontade
_________________________________
Não sermos tudo ou nada
Apenas existir.
Todos sem memórias nem antecipações,
Apenas ao presente sermos fiéis
Limitando-nos a ser Luz, Espírito
__________________________________
Nnoite escura em claro
Amor, que na vida
Tem herança
Alegria em muita dor
Longo choro de criança!...
_________________________________
outros natais
Nada soava naquele cenário de guerra
até mesmo o forte vento se calara
tudo em volta era razia e a terra
ao sentir-se por fim livre da metralha
latejava como se doce acordara
.
Num recanto mal coberto da poalha
a que o alvor da manhã já nos furtara
tiritando uma criança em alva palha
a sua mãe que entre o medo já sorri
lhe oferta o seio que a fome ansiara
.
No mais fundo do casebre descobri
as mãos presas 'inda à arma que matara
tão ferido no olhar jazente ali
a cobrir com seu corpo o filho e a mãe
lado a lado o pai que por eles lutara...
________________________________
Namoro com a vida
Amo o ar que respiro
Tudo ganhou sentido
Alimentei-me de sofrer
Lá, onde tudo é descabido

18 dezembro 2008

Apresentação da reedição - por Edium Editores - dos livros ROMAGEM A CRETA e 27 POEMAS, de António Rebordão Navarro


Para visitares o site da Edium clica sobre o nome.
Em Janeiro de 2009 terá lugar a apresentação em Lisboa. Oportunamente divulgarei: dia [local - Campo Grande, 56] - e hora.
NOTA - fotos de minha autoria.

10 dezembro 2008

Convite - reedição do 1ºRomance de António Rebordão Navarro

Leitura de textos a cargo do actor António Reis.

Comparece e...divulga.

NOTA - CLICA NA IMAGEM E AMPLIA O CONVITE

SOBRE O AUTOR:

António Augusto Rebordão e Cunha Navarro nasceu no Porto em 1 de Agosto de 1933. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi Delegado do Ministério Público em Vimioso e Amarante, Director da Biblioteca Pública Municipal do Porto e Director Editorial, tendo exercido a advocacia.

Secretariou e dirigiu a Revista Literária Bandarra, fundada por seu pai, o escritor Augusto Navarro.

Foi co-director e também co-autor de Notícias do Bloqueio e director-adjunto da revista literária Sol XXI.

Colaborou em diversas publicações e encontra-se representado em várias antologias.

Fez parte da direcção e foi Presidente da Assembleia-geral da Associação de Jornalistas e Homens das Letras do Porto e Vogal do Conselho Fiscal da Sociedade Portuguesa de Autores.

Alguns dos seus poemas estão traduzidos para castelhano, francês, checo, neerlandês e sueco. Em 2002 foi-lhe atribuído o “Prémio Seiva” (Literatura).

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E aqui deixo o novo rosto de cada uma das obras:

(capa pelo pintor Vítor Ferreira)

(capa pelo amigo Filipe Ferreira)

08 dezembro 2008

OS CAVALOS DO TEMPO



Os cavalos do tempo são de vento.
Têm músculos de vento,
nervos de vento, patas de vento, crinas de vento.

Perenemente em surda galopada,
passam brancos e puros
por estradas de sonho e esquecimento.

Os cavalos do tempo vão correndo.
Vêm correndo de origens insondáveis,
e a um abismo absoluto vão rumando.

Passam puros e brancos, livres, límpidos,
no indescontínuo imemorial esforço.
Ah! são o eterno atravessando o efémero:
levam sombras divinas sobre o dorso...


TASSO DA SILVEIRA, in Regresso à Origem, 1960

03 dezembro 2008

a FESTA do livro 22 OLHARES SOBRE 12 PALAVRAS

vai continuar!
Agora em Lisboa.
Nestes 22 Olhares há bloggers de todo o país.
Daí a necessidade, mais, a vontade, de fazemos outra apresentação mais a Sul.
Muitas amigas/os co-autoras/es vieram fazer a festa no Porto, mas os seus amigos e familiares aguardam uma oportunidade de a fazer.
Dia 5, Dez, 19H30, estaremos na Livraria Barata (Av. Roma)
-" vem e traz outro(s) amigo(s) também..."
Será uma festa de liberdade - de expressão e afectos - de solidariedade e respeito - encontros e re-encontros de quem só se conhecia pela escrita e reconhece nas ideias e sentires - por tudo isto nos é tão necessária a tua presença, pois fazes parte deste largo e solidário colectivo em que navegamos.