15 novembro 2004

DESPERTAR

(Continuação)

Ficou. Deitado o corpo na posição inicial. Abertos os olhos fitando a cúpula dos céus e vendo a sua casa, a sua pátria.
Via-se a caminhar pela velha linha de combóio desactivada, com as botas de inverno enlameadas. Uma poalha caía ininterrupta dando um ar de sonolência ao mundo.

De vez em quando baixava-se e esgaravatava na terra.
Procurava os musgos mais verdes/dourado. Mais altos, fofos e macios para montar o presépio.
A terra conversava com ela. Sorria.
O corpo nu da mulher continuava deitado sobre a terra. O vento gelado do inverno fustigava-a. Não via. Não sentia.
Não sabia que estava ali e não na sua casa, na sua pátria.
Da mesma forma os olhos abertos, sem nunca pestanejarem, mas também sem nada olharem ou verem.
Sentou-se. Flectiu os joelhos. Dobrou o torso para a frente, sobre os joelhos que abraçou com os braços. Pensou que devia chover: "deve estar a chover na minha pátria, ...". Embalou-se suavemente.
Dos seus olhos começaram a cair grossa lágrimas, de fio..., de fio...
Chorava a mulher. O corpo, agora mais exposto ao vento gelado, enrolado à volta dos joelhos, abraçado a embalar-se ritmadamente.
No céu as nuvens escuras carregadas correram e começou a chover, violentamente.
Chorava a mulher e o mundo.
Misturadas as águas.
Guardava dentro de si o sémen.
Sentia os pêlos púbicos empastados pelos fluidos de ambos que assim perservara.
A água escorria e lavava-lhe o corpo nu.
A alma andava longe. Andava na pátria da mulher e eesquecera-se do corpo ali. Dos olhos da mulher brotavam tantas lágrimas como nunca alguém julgaria possível.
Pareciam competir, os olhos e os céus, na chuva que deitavam, abundante, sobre a terra.
Foi assim que a encontraram. Encontraram? Que a viram....

(continua)

Sem comentários: