30 março 2006

Aniversário da Inês



As palavras faltam-me. Só sei dizer-lhe que:

Aqui um poema sobre a amizade feito a pedido dela, há dois anos atrás.

29 março 2006

Texto casual


Nada de incomum aconteceu.

Pôs-se então a reflectir se a razão do seu
despertar estaria em si.
O que sonharia na altura?

Lembrava só, e muito vagamente,
um cravo rubro, contrastando vivo,
contra um céu de noite escura.

27 março 2006

As velhas senhoras (parte VI)




Links para os anteriormente piblicados:
- I
- II
- III
- IV
- V

Depois de jantar levantamos a mesa, nesta época sempre no jardim, colocamos a louça na máquina e muitas vezes dou um pequeno passeio pela beira-rio.
Há uns quatro anos Adelaide ainda me acompanhava. Depois começou a escusar-se...As pernas pesam-lhe, sente-se trôpega e receia o piso incerto. Eu também, mas pego numa bengala que pertenceu a meu avô Alexandre, com um pequeno punho em prata, e levo-a para me amparar nalgum desequilíbrio.
Depois de colocada a louça na máquina abro o portão do jardim, respiro amplamente a brisa marinha, estendo o olhar pela vastidão das águas da foz e já do mar, misturadas e em combate ou abraço, saúdo alguém conhecido e atravesso a rua até ao passei à borda do rio. Depois, devagar, inspirando bem, ando quinze ou vinte metros, num e noutro sentido, delicio o olhar com a paleta de azuis, rosas, anilados e violetas que cobrem o céu, mar e rio (ainda ontem as cores eram os rosas de Carneiro nos quadros), miro e remiro os pescadores da borda rio (e por dentro sorrio sempre. Pesca inglória se o objectivo for apanhar peixe. Mas outros valores devem nortear estes filhos de Adão que por aqui enxameiam e a quem conheço maioritariamente os nomes).

Vou-os cumprimentado gentilmente à passagem, pois também gentilmente me tratam.

Cumprido este pequeno mas delicioso passeio volto a atravessar a rua (por vezes um pescador deixa canas e carretos e vêm ajudar-me pois que sendo teimosa não uso, na circunstância, a passadeira, mas bem diante de minha casa onde, por sinal, a rua estreita.

Regresso a casa, ao doce conforto dos cheiros e dos afectos inerentes a estes, bem como à suave e doce companhia de Adelaide. Mulher invulgar e de grande sabedoria a quem muito quero. Um bem-querer mútuo, não duvido.


(continua)

24 março 2006

Campos

**************Por favor: a ler, debaixo para cima ( o texto na imagem. LOL*).
Tenho andado meio (mais do que meio...) desaparecida porque, entre outros factores, o meu "tamagochi" estava marado.
Hoje dispendi 5 horitas - consecutivas e...intensivas - mas parece que agora já funciona.
**********Já abre, já fecha, Já lê o correio...etc, etc....


23 março 2006

Gratidão à vida



*e como parece que hoje todo o universo conspira a nosso favor*

***agora só falta ser-lhe atribuída uma bolsa.......


A propósito do sistema judiciário português, in: Jornal "Público", 2003.06.01,(5)

21 março 2006

dedicaram este dia á poesia...

Posted by Picasa


e ela continua, aqui , com um poema meu e... acolá.

Por lapso este trabalho (imagem e texto) não foi guardado com a identificação, mas creio que é da autoria da
Raquel.
A ela o meu pedido de desculpas e se estiver atribuíndo errada autoria agradeço à ou ao autor que me desculpe e informe.
O meu obrigada a quem o realizou
.

20 março 2006

Chamam-me




Chamam-me. As vozes chamam-me insistentemente chamam-me.
Não lhes sei a origem corpórea, não a vejo, mas são audíveis, embora suaves e baixas, quase sussurro.
Chamam-me.
Dizem o meu secreto nome, que só os que muito me amaram conhecem.
Conheciam. Sabiam. Sabem. Pois eles mo deram.
E esse nome, num chamamento, ecoa em tudo ao meu redor e vibra no sangue que me alimenta, percorrendo cada secreto espaço do meu ser.

Partiram. Ambos partiram.
Nem dia do pai, nem dia da mãe.
Presentes.

Mas presentes são, presentes estão nesta minha orfandade que me fere e rejeito pois sei que órfã não sou, não importa o negativo e doloroso sentimento de ausência, de orfandade, décadas, tantas décadas volvidas.

Presentes, sempre presentes no pouco de realmente bom quem em mim existe. Deles me veio. Do seu amor e cuidar. Do leite com que me alimentaram, da água que me deram a beber, da mão que me estenderam, que sempre ali esteve, está e estará, dos olhares e ternura (disfarçada) e do orgulho entremeado de dores que o meu crescer contra eles (acabamos sempre por crescer contra eles. É da natureza do crescimento, da independência e autonomização do ser humano) lhes causou.

Chamam-me e ouço-lhes, as serenas e brandas vozes murmurando o meu secreto nome numa carícia que sempre me envolve, sabendo que estão perto, embora os meus olhos físicos os não vejam.

Obrigada a ambos, meus pais.

17 março 2006

Ia eu, cuidando da vida...



...nem com excessivos cuidados, mas nunca sem alguns, quando a VIDA tropeçou!

Juro que é verdade. Não tropecei.
A vida tropeçou e arrastou-me no tropeço.
Tenho pensado muito nesta volta, que como podem ver, pôs tudo de cabeça para baixo! Até a casa..., e concluo que, de facto, não tropecei.

O grande paradoxo é: como pode a vida, sem acção minha, tropeçar?

Como pode a vida tropeçar e arrastar-me no trambolhão, na reviravolta...?
Sabem, como quando uma grande e marinha onda nos enrola e perdemos o sentido de orientação, submersos no turbilhão das águas, normalmente com muita areia de permeio, sem saber onde está a areia-chão- baixo e o cima-ar-vida-leveza-respiração.

Só posso concluir que algures, noutro momento do percurso, noutra vida, tropecei - e que tropeção-tram bolhão - e a reacção só agora chegou.

Mas que me apanhou desprevenida e me deixou desorientada, deixou.


APRENDIZADO: No infinito mar do espaço-tempo as ondas que causamos podem tardar no refluxo, mas não nos falham!

15 março 2006

Nós, humanos


«Quando aprendemos a amar e a cuidar de nós, não seremos fonte do mal para ninguém.»Hay, Louise L.(2004). O Poder Está Dentro de Si. Cascais: Editora Pergaminho (52)

Devemos aceitarmo-nos tal qual somos, com qualidades e defeitos - o que não quer dizer que os não tentemos eliminar.
Se, por exemplo, formos muito críticos atraímos a crítica sobre nós, pois as leis do universo devolvem-nos sempre aquilo que damos, seja em actos, palavras ou pensamentos.

No fundo é bom que tenhamos bem presente que somos o nosso próprio reflexo e quando vemos algo nos outros é porque esse “algo” está em nós.

No fundo, ao não aprendermos a amarmo-nos gera-se culpa – ainda que num nível não consciente – e ela actua procurando redenção pelo castigo se não sairmos desse padrão.
Somos os nossos próprios algozes.

A beleza, justiça e honestidade da vida reside aqui: tudo o que damos na vida é-nos devolvido!

É a lei da causa e do efeito a funcionar.

Um ponto de partida é reconhecer quem somos, como somos, aceitarmos e amar-mo-nos.
Lembrar que tudo o que nos acontece na vida começou em nós, de nós saiu e o universo está meramente devolvendo.
Procurar a culpa fora é comum.
É necessário olhar para dentro e aceitar a responsabilidade pelas experiências que vivenciamos, pois num momento anterior, gostemos ou não do facto, fomos os seus causadores.
Agora a vida só nos está devolvendo o que, em qualquer momento do percurso fizemos, desencadeamos.


14 março 2006

No mistério do sem-fim


No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;

no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

(Poema de Cecília Meireles)

10 março 2006

Um César em Viamonte



um infinito silêncio

(UM CÉSAR EM VIAMONTE)
--Que vem aqui fazer um César?—perguntareis, bons viamontenses.--Que vem fazer com as suas sandálias, a toga, a túnica, as pústulas, os vícios, a administração da justiça, o maquiavelismo ante litteram, as suas frases feitas há milhares de anos e dois novos meses entre Novembro de Dezembro, um César em Viamonte?
Atolar-se na lama que enche as ruas, sofrer os ásperos frios que penetram nas almas, cansar os mediterrânicos olhos no bloqueio verdenegro dos montes, caçar aí perdizes e coelhos, pescar, no rio, bogas, tencas, escalos e as últimas trutas ( chondrostoma polylepis, tinca-tinca, rutilus arcasi, salmo trutta ), sentar-se num dos quatro marmóreos banco que se espalham pelo largo da Câmara, visitar as obras do futuro parque, ir até ao café?Onde instalar um César? Na pensão de muros salitrosos, janelas de caixilhos semipodres e cortinas picadas pelos dejectos de várias gerações de gordas moscas de gado, cozinha enegrecida pelo fumo, sala de jantar desconfortável , onde, à mesa redonda, com os pés na braseira, se alapardam caixeiros-viajantes, terceiros-escriturários, guarda-fios? No edifício da edilidade, em cujo rés do chão funciona a Repartição de Finanças, com os sobrados de madeira carunchosos e rotos e os de tacos desnivelados?

No Tribunal ou na Conservatória do Registo Civil? Na cadeia sem presos, mas com as camas de ferro desconjuntadas e as enxergas manchadas de urina cobertas de esburacados e finos cobertores? No hospital? Sim, o hospital é um edifício moderno, arejado, amplo, limpo. “Só que esta gente não vem aqui tratar-se senão em última instância”, dirão ambos os médicos , e um hospital, enfim, por muito funcional que seja, não é, na verdade, o lugar mais apropriado para receber um César mesmo um tanto epiléptico. Talvez em casa do juiz, não fora o facto de o casal ter quatro filhos e estar presentemente sem criada; ou na do delegado, não fora este estar preocupado com os concursos, não ter também criada, nem lenha, nem mobília tão conservada e sólida.Por que não levá-lo, em triunfal cortejo de carros de bois, mulheres de luto, homens muito velhos, pobres comerciantes, funcionários públicos e garotos ranhosos, para casa do visconde e Viamonte, notável que celebrizara o nome da povoação pelos seus amores com uma cantadeira , tocados em lá menor e maior, ré, sol, fá, dó sustenido em todas as guitarras do princípio do século? Porque, ao certo, ao certo, não se sabia onde ficava o seu solar. Diziam uns que ele se situava nos confins da vila – um casarão em ruínas onde, entre mal tratado gado, se albergavam, hoje, duas ou três famílias de pobres jornaleiros e pastores. Outros afirmavam que a nobre casa se erguera junto ao tanque para onde se voltava, exasperada, a gárgula da igreja matriz a quer chamavam sede. Pouco se sabia também do visconde. Havia quem dissesse que jamais estivera ele em Viamonte, havia os que contavam que trouxera à vila a cantadeira, acordando, surpreendendo os íncolas com prolongadas noitadas de fado, escandalizando a escumalha com a sua abissal paixão de nobre-fim-de-raça. Se não fora uma rua com o seu nome—a rua do café, que ia do pelourinho ao largo da Câmara--, por que não dizer até que o fidalgo jamais existira? E mesmo assim, por que não poderia uma rua, uma ruela, um beco, em confronto com as vias das urbes, ter o nome de um mito?

Havia, pois, um grande problema: hospedar César.
E, além desta dificuldade de não pequena monta, uma outra, não menor, se apresentavas: que havia, em Viamonte, digno de se mostrar ao augusto romano?O estafado e gasto pelourinho?As minas de alabastro e mármore que há muito já estavam paralisadas por desinteresse da companhia inglesa sua concessionária que, a braços com a falta de mão de obra e de infra-estruturas, se vira obrigada a encerrar a exploração?A igreja matriz, barroca e triste, onde, os homens de um lado, as mulheres do outro, adoravam um deus desconhecido?Uma capela particular com um alto-relevo policromado, em que uma Nossa Senhora, sentada e de perna cruzada, dava o regaço azul a um Menino Jesus adormecido?

As mulheres em homens—os homens que haviam partido para a França, para a Alemanha, para as Astúrias; que tinham ido combater em Moçambique, na Guiné, em Angola?Os poucos homens válidos e os estropiados?Os vários presidentes da Câmara, que, após os mandatos, passeavam sorumbáticas reformas de outros cargos ou se alinhavam, catatónicos, nas mesas dos cafés, sumariando, lamuriosamnete, as realizações efectuadas sob as suas gerências?Não, um César não é aqui preciso. Seria mais útil um barbeiro, uma parteira, um electricista, um odontólogo, um carpinteiro conscienciosos, um oculista, um engraxador ou até um posto de gasolina super, talvez um quiosque onde se vendessem todos os Corin Tellado, Guidas e Sonho que a mocidade devoraria para não deixar de pensar apenas em face dos aparelhos de televisão ou um cinema que exibisse os filmes estreados há um ano no Porto (a 325 quilómetros de Viamonte) e há cerca de quinze meses em Lisboa (a 573 quilómetros de Viamonte).
Não, os Césares não fazem falta.

António Rebordão Navarro
(Um Infinito Silêncio, 1970)




Nota Bene - O livro "Um Infinito Silêncio" foi premiado em 1970, com o prémio Alves Redol.
O Júri foi constituído por: David Mourão Ferreira; Eduardo Lourenço;Jacinto Prado Coelho; José Palla e Castro e Óscar Lopes.

08 março 2006

Porque hoje é o dia 8 de Março


E instituiu-se que fosse o nosso dia.

Apesar de só fazer sentido k todos os dias sejam nossos,

deles,

de todos,

apesar de tudo e face às discrepâncias (uso uma palavra mansa)

continuemos a aceitar este dia ,

como nosso, no feminino.



Que hoje, o teu amor, os teus amigos homens

Te digam e façam sentir como

És uma pessoa especial.

Que eles se lembrem e festejem

E venha um dia em que nunca mais seja necessário lembrar.

06 março 2006

Acordei hoje não querendo acordar

Acordei hoje não querendo acordar.
No pré-acordar, que precede o total despertar, minha alma avisava-me de que algo estava errado no dia.
Que havia uma incompletude, algo forte e perigoso me esperava quando acordasse para o dia e para o mundo.
Claro que levei em linha de conta de mal-estar decorrente de algum sonho....O que poderia, de tão negativo, existir no dia que me incitasse a não acordar qual eterna-adormecida?

Ignorei o forte e poderoso aviso. Não o devia ter feito.

Eis-me, despojada de protecções, que é coisa que não uso, a não ser contra as condições climáticas, exposta a agressões ou deslealdades.
Sempre ouvi dizer que “uns são mais filhos do que outros” sempre assim foi neste pequeno paraíso à beira-mar plantado e deveria estar habituada, mas como já disse por escrito algures: não acredito que as pessoas a tudo se habituem.
Eu não! E de mim sei!

E assim, minha alma, mais desperta do que eu, no sono me avisou que nele, sono, continuasse. Como caso não lhe fiz aqui sangrando estou.

P.S - «Fraternidade, do latim fraternitate (s.f). = Parentesco de irmãos; irmandade. Amor ao próximo; fraternização.
União ou convivência como de irmãos; harmonia, paz, concórdia, fraternização.».



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Apoiemos a procura activa de crianas e joves desaparecidos. Basta ir
AQUI e escolher o modelo que queres colocar no teu sidebar.
As fotos dessas crianças irão surgindo aleatóriamente, sempre actualizadas, com acesso a informações e a uma linha informativa em caso de avistamento.
Podes ver,ao lado, o que coloquei.

03 março 2006

Chegam as palavras

Posted by Picasa

Chegam as palavras

coloridas, na ponta
do lápis
da caneta
do giz...

chegam como
molhos de flores
silvestres coloridas
odoríferas.

Chegam as palavras
como cactos
eriçados
como cardos
como urtigas
picam, cortam
como facas
estilhaçam
como tiros
dilaceram
como predadores
descarnam
como a morte.

Chegam as palavras
como sons
pelo ar.

Chegam as palavras
como símbolos
no papel
na tela
no vidro
na madeira
no ecran
no ferro
na cal
na pedra
na areia
na pele....

chegam as palavras
em qualquer suporte.



Chegam as palavras
Pensadas
ditas
de boca, na boca
escritas
ouvidas
lidas.

Chegam as palavras

eruditas
comuns
incomuns
polidas
ordinárias.

Chegam as palavras
com uma intenção
exposta
encoberta.

Chegam as palavras

acolhedoras
frias
de estímulo
de regozijo
de repúdio
de paz
de guerra
de amor
de ódio
de fúria e raiva
chegam as palavras.

Independentemente de como chegaram
as palavras atingem
os vulneráveis corpos
as serenas expostas almas.
Atingem-nos
sem que lhes saibamos
o porquê.

Chegam as palavras.

Chegam as palavras
embrulhadas
envernizando
ideias.

Falsamente neutras
chegam as palavras.

02 março 2006

01 março 2006

Quantas vezes?


Quantas vezes?

quantas vezes pode
um humano coração
partir-se?

quantas vezes?

quantas vezes pode
o humano coração
reconstruir-se?

e de cada vez
que se parte
e de nós se aparta,
voadores estilhaços,
que partes
a nós retornam?