31 janeiro 2005

Os meus melhores amigos são alliens!


Frú-Frú




OS MEUS MELHORES AMIGOS SÃO ALLIENS
(excerto do conto)


É a mais pura verdade e só a descobri hoje. Por alturas do lanche.
A minha mãe veio visitar-me e estávamos na sala, lanchando, quando esta descoberta me atingiu, fulminante como um raio, entre duas dentadas na torrada, crocante, como só ela sabe fazer.
A mãe falava e eu ouvia-a, deliciada, matando as saudades da sua voz e do seu jeito tão peculiar de discorrer sobre as coisas; as memórias, acontecimentos passados e recentes.
Falava ela então da cadela Batalha, depois de já ter falado do gato Pimpolho e de como este ouvia, e reconhecia o assobio de meu pai a uns três quilómetros, plantando-se, desde logo, à porta de casa vindo não se sabia de onde, esperando-o.
Lembrava, na sua voz suave e pausada, o dia em que a cadela fora salva de ser abatida por meu pai, numa visita ao Monte dos Galhardos.
Queixava-se o bom do homem que já tivera que pagar indemnizações e tratamentos hospitalares porque quando o pessoal andava nas mondas, ou ceifas, mandavam uma mulher com “enfusas
[C.E1] ” pedir água do poço, que cedia de bom grado, mas o diacho da cadela não podia ver as mulheres e atacava-as, sendo que se lhe não deitassem a mão as esfacelava. Assim sendo, dera ele ordens ao maioral para a abater.

[C.E1]Designação popular no Alentejo para as bilhas de barro.


TMara

29 janeiro 2005

Como as mulheres são vistas e acabam por se ver....


O Chapéu violeta!
(COMO A MULHER É VISTA E SE VÊ.....)
Aos 3 anos ela olha para si mesma e vê uma rainha.
Aos 8 anos ela olha para si mesma e vê a Cinderela.
Aos 15 anos ela olha para si mesma, vê uma bruxa e diz: "mãe, não posso ir assim para a escola!!!"
Aos 20 anos ela olha para si mesma e vê-se muito gorda/muito magra, muito alta/muito baixa, com cabelo muito liso/muito encaracolado, mas decide que vai sair assim mesmo...
Aos 30 anos ela olha para si mesma e vê-se muito gorda/muito magra, muito alta/muito baixa, com cabelo muito liso/muito encaracolado, mas decide
que agora não há tempo para consertar essas coisas. Então, sai assim mesmo.
Aos 40 anos ela olha para si mesma e vê-se muito gorda/muito magra, muito alta/muito baixa, com cabelo muito liso/muito encaracolado, mas diz: "sou
uma boa pessoa" e sai mesmo assim...
Aos 50 anos ela olha para si mesma e vê-se como é. Sai e vai para onde ela bem entender...
Aos 60 anos ela olha para si mesma, sai de casa e conquista o mundo....
Aos 70 anos ela olha para si mesma e vê sabedoria, risos, habilidades...sai para o mundo e aproveita a vida...
Aos 80 anos ela não se importa muito em olhar para si mesma. Simplesmente põe um chapéu violeta e vai se divertir com a vida...
Talvez devêssemos por o chapéu violeta mais cedo....
Post scriptum por TMara: deixo este chapéu violeta para todas as mlheres ;)
(Texto que circula na Internet- autor/a desconhecido/a - com a devida vénia à minha amiga Bêel k mo enviou:))

TMara

28 janeiro 2005

As Tágides



Traziam, outrora, as tágides,
inspiração aos poetas,
brilho de fósforo aos olhos das mulheres,
sal saturado de vento aos barcos na espuma,
a música do canto à gente ribeirinha,
sumida de saudade,
espavorida de dores.
Traziam, outrora, as tágides,
as marés, o mar e a lua,
o rolo das vagas,
as insónias lentas nas noites
em que o verão incendiava
ou a prateada chuva forjava, nas vielas,
fantasmas futuros do fado.
O rio corria azul (ou seria verde?)
As casas nasciam da pedra (ou seriam de água?)
A fala dos homens confundia-se
com o rocegar das gaivotas (ou seriam nuvens?).
Nos becos, os muros dividiam as colinas
e, com a sua lentidão,
as cores iam formando a substância das árvores
e eram os perfumes do ar
o sabor de aventuras ou dos metais,
o equilíbrio das vozes, rápidas e densas
que, dentro das casas,
amavam, choravam e transformavam o fogo e a pedra,
a cal e a mansa madeira,
o cereal em pão, a fuligem em barro,
o zinco em lâmina, as lágrimas em fulgor,
o linho em eternidade.
Seria Lisboa essa cidade de tágides e ninfas
na imaginação do sonho?
Seria Lisboa essa cidade fábrica de rumores,
de cheiros, de claridade branca?
Seria Lisboa, sobre lo mar,
a que barcas novas mandava lavrar?
Seria Lisboa essa memória da emoção das gentes
com o marulhar das águas ...
... ou será Lisboa esta efémera hora matinal
em que a maresia morre
no volume que as pedras erguem,
na bruma dos fumos sem luz,
no choro aflito de uma criança
frágil como um vidro,
na escuridão dos jardins,
nas rugas velhas das águas do rio,
no definhar das árvores,
na vozearia do insustentável peso dos odores,
no coração ausente ou no tropel dos ruídos?
Que trazem hoje as tágides aos sinos inaudíveis,
aos gatos errantes,
aos cais de restos,
às ruas de chão brusco,
às estátuas cínzeas?
Fiéis à sua cidade amada,
trazem as tágides a Lisboa a carícia fulgurante
da sua inexplicável luz.
Loura é Lisboa quando a primavera explode.


Este capítulo faz parte integrante da obra de Orlando Neves "Odes a Lisboa"


(Uma Tágide) Venus por C Burne-Jones
TMara

27 janeiro 2005

A VOZ



Esta é a minha fala, esta sou eu que falo, esta é a voz que ouço (creio ser a minha) e que me diz de mim. Quem sou, do que gosto, o que sonho, o que me magoa. Esta é a voz que me fala da que sou, para além da visão que as outras pessoas possam ter de mim. A que me fala de um secreto eu, meu e eu, somente por mim conhecido porque a voz me fala, e falando me constrói, porque, lembro de a minha mãe ler um livro bonito e ao mesmo tempo assustador em que dizia: “No princípio era o Verbo.”E como esta frase sempre me encantou, me pareceu uma forma mágica um dia perguntei: “Mãe, o que quer dizer?”Respondendo-me ela que se referia ao começo do mundo e da vida e que nesse começo, a palavra, que era o que verbo, queria dizer é que tinha o poder de fazer as coisas acontecerem (como o mágico fazia no circo, pensei eu e guardei esta ideia de belo e mágico através do poder da palavra e foi por isso que quando comecei a ouvir a voz, na minha cabeça, a ter longas conversas comigo não o disse a ninguém, guardei o segredo e a voz só para mim com medo de que o encantamento se quebrasse se o contasse a alguém e eu deixasse de ser real).Duvidam?A minha avó Deolinda, mãe da minha mãe, contava-me muitas histórias do tempo das princesas, em que as fadas e as bruxas faziam acontecer coisas estranhas. Bem mais estranhas do que a de eu desaparecer se contasse aos outros da existência da voz e de a minha vida depender de ela continuar a falar comigo.

TMara

25 janeiro 2005

O país ficou ontem mais pobre!

Ontem partiu! Para outras dimensões, mundos outros, um bardo do meu país.
Não era muito conhecido do chamado "grande público".
Trabalhava como a formiga e, como a cigarra, cantava a língua portuguesa no sossego da sua casa. Chama(va)-se Orlando Neves, o amigo que partiu.
Jornalista, homem de letras (poesia, prosa, crónica) engajado com o teatro, a cidadania e a política. Cansou-se, ou desencantou-se! Vivia como um eremita admitindo poucos no recesso do lar.
É hoje largamente desconhecido, por esquecimento de quem de direito, mas, verdade se diga, também por opção sua, dado que o país tem a tendência a esquecer os que não aparecem, confundindo a escrita/a obra com o homem e a sua vida.
Trabalhava a palavra como quem respira, Um exercício diário.
De um pequeno livro: "MORTE MINUCIOSA", de 1996, deixo-vos um poema :

1994

Os retratos que olho.
Eis a serenidade
da dor, semelhante
ao sono. Que longe estou
dessas fontes donde
vinham o medo e o riso.
Deles é o tempo,
apenas o tempo,
que me olha.
Verdadeiramente vivos,
com a ciência certa
que lhes vem
da falsa imobilidade.
Aqui estou eu,
esperando
que a luz vos dissipe,
para me conter na memória
e entrar, cauteloso,
na vossa enigmática
pacificação.
Prometo-vos o silêncio,
o sangue do coração,
como um doce estremecimento.
Porque merecemos a morte.
Sem o freio do sonho.

(63:64)

A violência doméstica e...nós...

O fenómeno da violência doméstica tem vindo, a pulso, a ganhar visibilidade na nossa sociedade e a ser encarado como o problema social que é.O primeiro passo foi a ultrapassagem do foro do domínio privado.Para ser rigorosa devo dizer: mais do que privado, considerado quase sagrado e inviolável, em que a casa de um homem era o seu castelo e em que a castelã era coisa menor, mais um objecto do proprietário.
Recordo factos da minha infância em que a posse se estendia não só à cônjuge mas às outras mulheres da família – irmãs e mãe – se estas tivessem o “azar” de enviuvarem ou de ficar solteiras, e que se expressava através das mais abjectas formas de dominação e exploração que possamos imaginar as quais, sendo socialmente aceites, eram recobertas com um manto de silêncio.
Era frequente mulheres solteiras nunca virem a casar porque, a cargo dos irmãos, estes as mantinham em clausura, dentro das próprias casas, não saindo, não convivendo, não tendo hipótese de verem serem vistas, conhecerem e serem conhecidas.De casos mais extremos soube em que, com cumplicidades várias foram asiladas como loucas.
E falo de situações de que tive conhecimento ainda não há meia centena de anos atrás. Estas mulheres não detinham quaisquer direitos e, socialmente, um enorme manto de hipocrisia, em nome dos bons costumes, recobria todas estas acções.
A razão de ser prendia-se com factores de ganância. Não casando elas os bens continuavam a ser administrados pelos irmãos, que nunca prestavam contas e que, mais cedo ou mais tarde, acabavam por os anexar ao seu património.Esta a violência que desde muito criança apercebi no meio da burguesia.
A outra, a dos “pobrezinhos”, essa tinha expressões mais físicas.Entre uma e outra venha o diabo e escolha.A cultura recobre todos estes aspectos e há sempre um ditado popular adequado a cada situação e momento. Até ao ponto de baralhar e fazer confundir, afecto com violência: “ se lhe bate é porque gosta dela”.
Até as mulheres interiorizaram estas mentiras. Era fácil. Tem sido fácil.Foi difícil passar-se a considerar o crime de violência doméstica/ familiar como crime quando à luz do código penal sempre foi crime agredir terceiros.Com resistências e com a influência das políticas da U.E Portugal teve que se passar a considerar a violência doméstica como um crime de natureza pública.As relações entre homens e mulheres mudaram a uma velocidade astronómica, em Portugal, considerando o terreno que havia a recuperar.As e os jovens de hoje foram criadas (os) dentro de modelos de convivência, de igualdade e de respeito que nos levam a pensar que muito caminho se desbravou e que a conquista, no campo dos direitos entre géneros seria um espaço, suficientemente claro para cada um se posicionar sem pisar o outro género.
Há um par de anos houve um surto de homicídios, muito destacados nos noticiários televisivos. Numa dessas situações, a repórter de serviço, frente à casa onde o marido tinha morto a mulher a tiro, circulava inquirindo os vizinhos. Eis que ouvi, da boca dessa jovem, esta pergunta:“ O que é que ela (a vítima) fez ao marido?”

24 janeiro 2005

Portugal visto por Eça...

...ainda e sempre tão actual. Um retrato do país que incomoda muito mais se pensarmos que assim tem sido e assim continua!

Nunca Eça esteve tão certo... (e escreveu-o no ano de 1871!)

"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado comoum inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!"

Eça de Queirós , 1871

23 janeiro 2005

Prendinha para esta domingo :)

The Dummy
by Michael Mack


In that forgotten part of town
Where wasted hopes and dreams abound,
A wrinkled man with life near end,
In hopes to have at least one friend,
Fashioned bits of wood and things
And made a dummy run by strings.

He sat alone for hours on end,
Conversing with his only friend
And found delight within the fact
That he controlled it's every act.
He told it how he never had
A chance, since all his luck was bad
Although he'd tried so to succeed -
The dummy nodded and agreed.

And how his journeys in romance
Had never given him a chance,
And wasn't it a crying shame
That he was always held to blame
When everyone knew, oh so well,
That life is but a living Hell,
Controlled by lust and power and greed?
The dummy nodded and agreed.

With patience that would rival saints,
That dummy sat through all complaints
And, with each little expert tug,
He'd droop his head or bow or shrug
And give some comfort to the man
Who held his lifelines in his hand
And helped to fill a lonely need
When he just nodded and agreed.

Senility increased with time
As did the old man's phantomime,
And feverish fingers pulled with glee
The dummy's dance of misery.
They never left each other's side
Until the day both stopped and died.
We found them lying, hand in hand,
The dummy - and his wooden friend.

22 janeiro 2005

Com o título: «RISCO DE "MORTE SOCIAL"»

o Público divulgou ontem, (hoje, quando escrevo), dados de um relatório (ainda em finalização) de um estudo, intitulado "Tipificação das situações de exclusão em Portugal continental", encomendado pelo Ministério da Segurança Social, Família e da Criança.


As conclusões divulgadas indicam que foram categorizados seis(6) grupos de concelhos com diferenciadas situações-tipo de inclusão/exclusão social.
O "tipo 6" é o que apresenta maiores traços de exclusão social sendo referido que,"(...) de positivo pouco mais têm que uma taxa de criminalidade pequena(...)".
É neste tipo que estão incluídos 68 (cerca de 1/4) dos concelhos, situados nas regiões de: Trás-os-Montes; Dão-Lafões e Baixo Alentejo.
As características indicadoras da "morte social", em consequência da esclusão, passam por: excessiva ruralidade com peso relevante do trabalho agrícola; défice de infra-estruturas; taxa de analfabetismo na ordem dos 17,26%; alta taxa de desemprego (em 26 concelhos é superior a 10%); apresentam os piores valores do IRS, "per capita".
O estudo conclue ainda que este território, habitado por 7,8% da população portuguesa, " (...) está deprimido, empobrecido e desqualificado".
De acordo com a notícia o relatório está disponível no site do ministério em: «».
Certo é que à hora em que coloco esta informação no blog ainda lá se não encontra.
Vale a pena procurar o relatório e fazer uma leitura atenta, para melhor percebermos o atraso, bem como o risco, em que o país se encontra.

20 janeiro 2005

Última parte

Agradecimento a
Fernando Guimarães
E a: AS QUATRO IDADES


(ÚLTIMA PARTE)

Lendo o livro Marta descobriu um outro mundo. Um mundo real que nós não vemos. Percebemos isso pela serenidade que dela emana. Uma paz que flúi e transporta uma imensa alegria.
É tudo isso que nos atinge e nos faz invejar Marta. E se fôssemos lá e lhe tirássemos o livro...? Ainda que por um breve instante....
Talvez o livro também nos quisesse ler e permitisse ter acesso a esse mundo tão serenamente real e encantatório que vislumbramos.
Eis que Marta volta ao livro. Não, o livro é que sobe, lentamente, até Marta, até se lhe adaptar à posição reclinada da cabeça, para que se possam ler.
Não sabemos como, não sabemos traduzir esse facto, mas sabemos que, enquanto os olhos de Marta lêem, as palavras escritas, é o livro que continua a ler Marta. As palavras mero veículo da sua voz. E aquele diálogo continua, ali, bem à nossa frente. Tentamos aproximarmo-nos, queremos entrar naquele diálogo, mas a bolha-universo que a envolve e que se expande, pulsante, não deixa.
Aquele espaço não nos pertence, diz-nos.
Sem hostilidade, mas sem dúvidas ou hesitações.
Que só queremos ver a capa..., o nome do livro, dizemos nós...
Que a capa e o título nada nos diriam.
O livro que nos lê não é o mesmo.
Cada um tem o seu.
Como toda a vida é uma busca contínua, se o quisermos verdadeiramente, temos que continuar a ler, a procurar....
Cedemos. A contra gosto, porque queríamos compartilhar daquela bem-aventurança, mas sabemos que o livro nos fala assisadamente e não lhe podemos fechar os ouvidos.
Marta fascina-nos. Não sabemos ao que fomos nem porque nos encontramos ali, naquele Centro, defronte de Marta.
Sabemos, no entanto, que, enquanto Marta permanecer, não teremos qualquer outro objectivo na vida.
Nem memórias.

Só aquele momento interessa. Só ele é real.
Só aquele momento é passado, presente e futuro.

Por TMara. In: FALAR MULHER (89-90-91)

19 janeiro 2005

Continuação do post do passado Sáb, dia 15

Agradecimento
a Fernando Guimarães
e a AS QUATRO IDADES
(CONTINUAÇÃO)
Na nossa frente abre-se um amplo corredor, vazio, brilhante de luzes de néon que piscam como as das árvores de Natal.
As paredes, ao fundo, são só isso. Paredes sem qualquer decoração. Sem qualquer preocupação estética.
Que observa ela?
Os olhos regressam-lhe ao livro. As mãos sobem lentamente e adapta o corpo ao livro, à leitura.
Não é Marta quem lê. É o livro que a lê a ela.
Marta lê e queda-se. O livro lê-a, até onde ela não conseguiria nunca.
Levanta pontas, afasta nuvens e torvelinhos, ilumina caminhos sombrios e vai lendo Marta através das palavras impressas e Marta vai-se abrindo à leitura que o livro lhe exige. deixa que todas as portas e janelas se abram e que a luz entre e a ilumine até tudo ficar claro e as feridas saradas.
É dessa luz que emana aquela bolha que sentimos alastrar.
De vez em quando Marta descai, num estado quase letárgico, as mãos-livro para o colo, e queda-se.
Num mudo diálogo, para nós, responde-lhe. Fala à leitura que ele lhe faz.
Diz-lhe das suas razões. Não há qualquer resistência nem a espanta o que há de insólito no facto de ser ela o livro que é lido, pelo livro que julgava ir ler e que nas mãos se sustenta; leve, como frágil ave, borboleta ou flor.
As lojas, do lado direito do corredor, estão fechadas e tapadas com plásticos cinza e rosa-choque, em alternância. Ao fundo há uma parede feia. Talvez uma imensa porta em cruz. Preta , com uma cruz verde ao centro.
À direita dessa aparência de porta há uma outra loja. Fechada. Com gradeamento.
Não há nada de atractivo no corredor por onde Marta parece flutuar, ainda que vejamos o seu corpo sentado na mesma cadeira.
Por TMara. Do livro: FALAR MULHER:88:89
(Fim da 2ª parte. Continua...)

18 janeiro 2005

Gaivotas

Gaivotas

Três gaivotas
no telhado: três
gotas de água
salgada
na maresia
da tarde. Ou antes:
três dálias brancas
florindo
no musgo verde
das telhas.

Albano Martins(1998).”O Espaço Partilhado:31

17 janeiro 2005

Bush "INVASOR"

A invasão continua. Veio agora a lume que, desde meados de 2004, as tropas americanas fazem raids militares no Irão e que estE será o próximo país a ser invadido. O que fará o resto do mundo? Apanhar o combóio????
REVOLTAR-SE, IMPOR SANÇÕES E O QUE MAIS FOR NECESSÁRIO PARA PARAR ESTA ESCALADA DE VIOLÊNCIA?

P.S - NÃO DEIXEM DE LER O POST ABAIXO.É POR UMA BOA CAUSA :)

16 janeiro 2005

APELO PARA A HUMANIDADE

ESTE TEXTO FOI RETIRADO, NA INTEGRA, DO BLOG:
«DIÁLOGOS FRATERNOS" «http://dialogosfraternidade.blogspot.com/»

Desculpem a inépcia.

Não consigo colocar o endereço em html. PASSEM O TEXTO E A PALAVRA!

BEM HAJAM, POR ISSO!
"Tivemos a tristeza de ver recentemente o Tsunami, causando uma grande destruição e vitimando um número inconcebível de pessoas em sete países da Ásia. Sabemos que esse tipo de facto é um acontecimento natural, porém havemos de analisar e acrescentar que a intensidade desse tsunami mostra-nos claramente que o desequilíbrio ambiental é, incontestavelmente, potencializador de forças naturais deste porte. Cabe a nós, definitivamente, uma reflexão séria sobre o assunto e buscarmos maneiras mais correctas de lidarmos com o espaço que vivemos, para que não sejamos nós os responsáveis por catástrofes desta natureza.Nós blogueiros, propomos desde já, unirmo-nos em um alerta para a humanidade, e implantarmos cada um de nós, a nosso modo e em nosso ambiente, medidas práticas de mudanças!É tempo de se falar abertamente. É tempo de se abordarem as questões em profundidade e não de forma restritiva. É tempo enfim, de se falar a sério sobre a questão ambiental e ecológica. Sobre a humanidade!E com razão. É que cada vez mais se toma consciência de que o combate pela preservação, não tem fronteiras, não é regionalizável e de que a resposta ou é global ou não será resposta.As chuvas ácidas, o efeito de estufa, a poluição dos rios e dos mares, a destruição das florestas, não têm azimute nem pátria, nem região. Ou se combatem a nível global ou ninguém se exime dos seus efeitos.As pessoas ainda respiram. Mas por quanto tempo?Os desertos ainda deixam que reverdejem alguns espaços estuantes de vida. Mas vão avançando sempre.Ainda há manchas florestais não decepadas nem ardidas. Mas é cada vez mais grave o deficit florestal.Ainda há saldos de crude por extrair, de urânio e cobre por desenterrar, de carvão e ferro para alimentar as grandes metalurgias do mundo. Mas à custa de sucessivas reduções de reservas naturais não renováveis.Na sua singeleza, o caso é este:Até agora temos assistido a um modelo de desenvolvimento que resolve as suas crises crescendo cada vez mais. Só que quanto mais se consome, mais apelo se faz à delapidação de recursos naturais finitos e não renováveis, o que vale por dizer que não é essa uma solução durável, mas ela mesma finita em si e no tempo que dura. Por outras palavras: é ela mesmo uma solução a prazo.Significa isto que, ou arrepiamos caminho, ou a vida sobre a terra está condenada a durar apenas o que durar o consumo dos recursos naturais de que depende.Não nos iludamos. A ciência não contém todas as respostas. Antes é portadora das mais dramáticas apreensões.O que há de novo e preocupante nos dias de hoje, é um modelo de desenvolvimento meramente crescimentista – pior do que isso, cegamente crescimentista – que gasta o capital finito de preciosos recursos naturais não renováveis, que de relativamente escassos tendem a sê-lo absolutamente. E se podemos continuar a viver sem urânio, sem ferro, sem carvão e sem petróleo, não subsistiremos sem ar e sem água, para não ir além dos exemplos mais frisantes.Daí a necessidade absoluta de uma resposta global. Tão só esta necessidade de globalização das respostas, dá-nos a real dimensão do problema e a medida das dificuldades das soluções. Lêem-se o Tratado de Roma, O Acto Único Europeu e mais recentemente as conclusões da Conferência de Quioto, do Rio de Janeiro e Joanesburgo, onde ficou bem patente a relutância dos países mais industrializados, particularmente dos Estados Unidos, em aceitar a redução do nível de emissões. Regista-se a falta de empenhamento ecológico e ambiental das comunidades internacionais e dos respectivos governos, que persistem nas teses neoliberais onde uma economia cega desumanizada e sem rosto acabará por nos conduzir para um beco sem saída.Por outro lado todos temos sido incapazes de uma visão mais ampla e intemporal. Se houver ar puro até ao fim dos nossos dias, quem vier depois que se cuide!... e continuamos alegremente a esbanjar a água do cantil.Será que o empresário que projectou a fábrica está psicológica ou culturalmente preparado para aceitar sem sofismas nem reservas as conclusões de uma avaliação séria do respectivo impacto ambiental?Mesmo sem sacrificar os padrões de crescimento perverso a que temos ligados os nossos hábitos, há medidas a tomar que não se tomam, como por exemplo:
Levar até ao limite do seu relativo potencial o uso da energia solar e da energia eólica.
Levar até ao limite a preferência da energia hidráulica sobre a energia térmica.
Regressar à preferência dos adubos orgânicos sobre os adubos químicos.
Corrigir o excessivo uso dos pesticidas.
Travar enquanto é tempo a fúria do descartável, da embalagem de plástico, dos artigos de intencional duração.
Regressar ao domínio do transporte ferroviário sobre o rodoviário.
Repensar a dimensão irracional do transporte urbano em geral e do automóvel em particular.
Repensar, aliás, a loucura em que se está tornando o próprio fenómeno do urbanismo.
Reformular a concepção das cidades e das orlas costeirasDito de outro modo: a moda política tende a ser, um constante apelo às terapêuticas de crescimento pelo crescimento. È tarde demais para desconhecermos que, quando a produção cresce, as reservas naturais diminuem.Há porém um fenómeno que nem sempre se associa ás preocupações da humanidade. Refiro-me à explosão demográfica.Com mais ou menos rigor matemático, é sabido que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Assim, em menos de meio século, a população do globo cresceu duas vezes e meia !...Nos últimos dez anos, crescemos mil milhões!... Sem grande esforço mental, compreendemos aonde nos levará esta situação.Se é de um homem mais sensato e responsável que se precisa, um homem que olhe amorosamente para este belo planeta que recebeu em excelentes condições de conservação e está metodicamente destruindo; de um homem que jure a si mesmo em cadeia com os seus semelhantes, fazer o que for preciso para que o ar permaneça respirável, que a água seja instrumento de vida e dela portadora, e os equilíbrios naturais retomem o ciclo da auto sustentação, empenhemo-nos desde já nessa tarefa, com persistência e determinação.Se é a continuação da vida sobre a terra que está em causa, e em segunda linha a qualidade de vida, para quê perder mais tempo?...Por isso apelamos a todos quantos se queiram associar a este movimento pela preservação Natureza, pela Paz e pelo desenvolvimento harmonioso da Humanidade, para subscreverem este Apelo.Ao fazê-lo estamos a afirmar a nossa cidadania, enquanto pessoas livres, que olham com preocupação o futuro da Humanidade, o futuro dos nossos filhos!
Lista de Subscritores
Idiomas

posted by Fernando B. at 1:00 PM "


FLORIDOS CAMPOS

Hoje tinha pensado colocar outro texto ou a continuação do de ontem. Este, que há tempos me chegou pela internet, veio ao meu encontro e achei que era a hora de o usar pela sabedoria que encerra.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Há pouco tempo, estava no aeroporto e vi mãe e filha despedindo-se.
Anunciaram a partida, elas abraçaram-se e disse a mãe: -Eu amo-te filha. Desejo-te o suficiente.
A filha respondeu: Mãe, nossas vidas juntas tem sido mais do que suficiente.
O seu amor é Tudo o que sempre precisei. Eu também lhe desejo o suficiente.
Elas beijaram-se e a filha partiu. A mãe passou por mim e encostou-se na parede.
Pude ver o que ela queria e precisava chorar. Tentei não me intrometer nesse momento, mas ela dirigiu-se a mim, e perguntou: Você já se despediu de alguém sabendo que seria para sempre?
Já, respondi. Minha senhora, desculpe-me pela pergunta, mas por que é que foi um adeus para sempre?
Estou velha e ela vive tão longe daqui. Tenho desafios à minha frente e a verdade é que a próxima viagem dela para cá será para o meu funeral.
Quando se estavam a despedir, ouvi-a dizer: "Desejo-te o suficiente".
Posso saber o que é que isso significa?
Ela começou a sorrir. É um desejo que tem sido passado de geração em geração na minha família.
Meus pais costumavam dizer isso para toda a gente. Ela parou por um instante e olhou para o alto como se estivesse a tentar lembrar-se dos detalhes e sorriu mais ainda.
Quando dizemos "Desejo-te o suficiente", estamos a desejar uma vida cheia de coisas boas o suficiente para que a pessoa se ampare nelas. Então, virando-se para mim, disse, como se estivesse recitando: Desejo-lhe sol o suficiente para que continue a ter essa atitude radiante. Desejo-lhe chuva o suficiente para que possa apreciar mais o sol. Desejo-lhe felicidade o suficiente para que mantenha o seu espírito alegre. Desejo-lhe dor o suficiente para que as menores alegrias na vida pareçam muito maiores.
Desejo-lhe que ganhe o suficiente para satisfazer os seus desejos materiais.
Desejo-lhe perdas o suficiente para apreciar tudo que possui. Desejo-lhe "olás" em número suficiente para que chegue ao adeus final. Ela começou então a soluçar e afastou-se.
Dizem que leva um minuto para encontrar uma pessoa especial, uma hora para apreciá-la, um dia para amá-la, mas uma vida inteira para esquecê-la.

EU DESEJO-VOS O SUFICIENTE !!!
(Fonte anónima)

15 janeiro 2005

Maria estava no centro comercial

Agradecimento a Fernando Guimarães
e a «AS QUATRO IDADES»

Maria estava no centro comercial. Não gostava desses espaços. Só os usava por causa de algum filme que lhe interessase particularmente.


Procurava as horas mortas e lá se enchia de coragem para enfrentar aqueles espaços que lhe pareciam monstruosas projecções dum alucinado e alucinante futuro-presente.


O livro descaira-lhe nas mãos.
Ficara ali como se não existissem paredes à sua volta. Como se fora outro o espaço que ela e o seu corpo ocupavam.
Os olhos, olhavam e viam. Mas não o que os outros viam.
Dela emanava uma paz que criava uma espécie de bolha envolvente, com tendência para se expandir e criar um universo próprio e novo.
Marta chegara, sentara-se e principiara a ler um livro. Via-se que o lia atentamente.


De repente ocorre uma transfiguração que se percebe porque nos atinge, com uma força poderosam uma força misteriosa.
Tenta-se, mas não a compreendemos.
É-nos intangível. Está-nos distante ainda que a vislumbremos.
Os olhos não se desviam de Marta tentando decifrar o enigma. Os nossos olhos seguem o trajecto que os olhos de Marta nos parecem seguir, agora que o livro lhe descaíu e ficou levemente inclinado no colo, como uma extensão das próprias mãos. Do próprio corpo. De Marta.

(Fim da 1ª parte)
Por TMara -(Do livro: FALAR MULHER:87:88)

14 janeiro 2005

HEI-DE COMER A ALEGRIA ÀS DENTADAS

Hoje apetece-me reafirmar:
Hei-de comer a alegia às dentadas.
De manhã saboreá-la-ei
lentamente
degustando.
E o seu gosto inebriante
desfar-se-á na boca e espalhar-se-á
por todo o corpo
com o gosto das cores das penas de um pavão.
Cintilante.
Dar-lhe-ei dentadas
até a fazer rir às gargalhadas
com cócegas
e finalmente toda minha
e de todos
repô-la-ei, inteira
e esfuziante.
(Por TMara. In: AS TAREFAS TRANSPARENTES:18)

13 janeiro 2005

Versão moderna da Fábula da Cigarra e da Formiga

« Era uma vez, uma formiguinha e uma cigarra, muito amigas.
Durante todo o outono, a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o periodo de inverno. Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem do convívio com os amigos
no fim do trabalho.
O seu nome era "trabalho" e o seu apelido "sempre". Enquanto isso, a cigarra so queria cantar nos grupos de amigos e nos bares da cidade; não desperdiçou um minuto sequer, cantou e dançou durante todo o outono, aproveitou o sol, curtiu a valer sem se preocupar com o inverno que estava para chegar.
Então, passados alguns dias, começou a fazer frio. Era o inverno que estava a começar. A formiguinha, exausta de tanto trabalho, entrou para a sua singela e aconchegante toca repleta de comida. Mas alguém chamou o seu nome do lado de fora da toca. Quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpreendida com o que viu. A sua amiga cigarra estava ao volante de um Ferrari com um aconchegante casaco de vison. E a cigarra disse para a formiguinha: Olá amiga, vou passar o inverno a Paris. Será que tu poderias cuidar da minha toca?
E a formiguinha respondeu: Claro, sem problemas ! Mas o que te aconteceu? Como é que conseguiste dinheiro para ir a Paris e comprar esse Ferrari?
E a cigarra respondeu: Imagina tu que eu estava a cantar num bar, na semana passada e um produtor gostou da minha voz. Fechei um contrato de seis meses para fazer shows em Paris... A propósito, a minha amiga deseja algo de lá ?
Respondeu a formiguinha: Desejo sim. Se tu encontrares por lá um tal La Fontaine (autor da fábula original), manda-o ir para a Puta que o Pariu....!!!!!
- Moral da História: "Aproveita a vida, sabendo dosear o trabalho e o lazer, pois o trabalho em demasia só traz benefícios nas fábulas do La Fontaine e ao teu patrão. »

(Autor/a desconhecido/a)



12 janeiro 2005

Música ambiente (?)

Há quem não saiba viver com e no silêncio.
Pessoalmente gosto do silêncio, de alguns silêncios.Necessito do silêncio como do ar, da água....
Mais, necessito do silêncio para me sentir, me ouvir, me reconstruir.
Ouvir o próprio silêncio é das coisas mais agradáveis que a natureza tem para nos oferecer
Sou das pessoas que se sentem profundamente incomodadas com as “músicas” ambiente por todo o lado. O resultado final é uma cacofonia insuportável, irritante e desgastante.
O tempo de espera ao telefone tornou-se numa epopeia capaz de, na maioria das situações, rebentar os tímpanos a qualquer mortal, para além de as músicas seleccionadas serem, por norma, inadequadas para o efeito pretendido: manter-nos em espera, serenos e bem dispostos!
Alguém decidiu que para estarmos BEM DISPOSTOS temos que estar mergulhados numa balbúrdia de ruídos, sem sentido, mas que, teoricamente, nos dispõem bem e serão sinónimo de alegria.
O facto é que, penso, temos medo de nós mesmos, da nossa humanidade, da mesma forma que, cada vez mais, temos medo da morte. O barulho, tal como está, afasta-nos do centro de nós mesmos. Faz-nos perder de vista as coisas essenciais e a essência das coisas e de nós.Em síntese
recorro a uma citação: «Sabemos que o mundo está a construir-se sobre abismos. Enchemo-lo de ruídos para esquecer onde estamos (Frei Bento Domingues, OP, “Luz acesa na noite de mistério”. In: jornal PÚBLICO, 2003.06.01:6)

11 janeiro 2005

CONVITE: porta aberta e...boca livre

Está a decorrer desde as 00H00, uma festa em casa do Eduardo. A morada é:
«http://edynet.blogspot.com/»
Todos são bem-vindos (fui convidada também). E é uma festa linda porque hoje, na net, circula ums seiva viva de solidariedade, sem compromissos ou favores. Só pelo prazer de dar. Apareçam e deixem um comentário ao Eduardo. Ele não está mas deixou a casa aberta para todos nós. E deixou bilhetes, palavras soltas. Partiu, por um tempo, à boleia procurando novas inquietações e interrogações.
Encontramo-nos por lá. Até já então....

Estado de graça

Hoje peço a voz aos pequeninos e aqui deixo parcelas de encanto:
O amor
é um pássaro verde
num campo azul
no alto
da madrugada.
Víctor Barroca Moreira -9 anos
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O amor veste-se da cor do sol
O amor é uma paisagem de reflexo na alma.
O amor é verde como a esperança.
O amor é o carinho, a alegria, a verdade.
O amor da Pátria é lutar contra a Pátria dos outros.
O amor é alga pintada de espuma no mar profundo.
O amor veste-se de cores do sol.
O amor da mulher é a paisagem do homem.
Vítor Figueiredo - 10 anos
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O que é um anjo?
É um homem que tem o sol pendurado atrás da cabeça.
Fernando Brás - 6 anos
É um pássaro cantador.
Pedro Naia- 5 anos
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Os meus passos são de flores.
Eu, uma vez, pisei o sol,
mas não o magoei porque
os meus pés saõ pequeninos.
Víctor Pinho - 8 anos
XXXXXXXXXXXXXXXXX
Do livro: "A criança e a vida". Recolha de Maria Rosa Colaço

09 janeiro 2005

Floridos campos (O índio e as canções)

" (...) Um etnólogo que tinha passado uma grande quantidade de tempo com um grupo de índios, navajos, se não me engano, para estudar as suas canções.Gravou centenas delas, e aprendeu a decifrar-lhes todas as sílabas. E aquilo era tão conspícuo que teve mesmo que perguntar. Ouve lá, disse ele a um amigo navajo. Isto não deixa de ser curioso. Todas as vossas canções falam da água. Pois, respondeu o navajo. Nós, como todos os povos do mundo, fazemos das nossas canções hinos às coisas mais preciosas que não temos. Ao dizer isto o navajo franziu as sobrancelhas e fez uma pausa, surpreendido por um pensamento que ainda não lhe tinha ocorrido. Tem piada, disse, porfim, ao estudioso. As vossas canções... são todas sobre o amor, não são?"


(Fonte desconhecida)

08 janeiro 2005

Adoro o despertar dos dias

É uma coisa mágica o despertar dos dias. O azul da noite, às vezes quase preto de tão escuro, começa a clarear, vai viajando por diversos azuis até que num, mais esmaecido, começam a surgir os rosas, os alaranjados e os anilados.
Nessas alturas a minha rua é uma imensa fita estendida, calma, espreguiçando-se, mas dormindo ainda. Hoje, quando levantei os estores e abria as janelas, surgiu-me no céu, à direita, um minguante perfeito e dourado-róseo, como que se a Lua se espreguiçasse sentada numa chaminé.
Estava iluminada, resplandecente, apesar de não passar de um muito fino e perfeito gume em forma de foice.
O acordar dos dias é um espectáculo sempre renovado e de grande beleza. Só necessitamos olhá-lo e ver a magia desdobrar-se perante nós.

07 janeiro 2005

É com o silêncio

É com o silêncio que as mulheres tecem
As roupas do mundo.
o fuso e a roca eram só instrumentos
(uma quase justiifcação)


As vestes são tecidas com o silêncio
com o sangue dos olhos
com as lágrimas dos dedos.


Com o silêncio e no silêncio as mulheres tecem
longas vestes
enormes tapetes e carpetes
belas e luxuriantes cortinas.


Com tudo o que tece, silenciosamente,
a mulher do mundo tenta tapar
os buracos
tenta estancar o sangue
que corre copiosamente.

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Hoje dedico este meu poema a todas as vítimas das catástrofes. As naturais e as causadas pelo homem, em guerras.
(Do livro:AS TAREFAS TRANSPARENTES: 52)


06 janeiro 2005

«Só todo o branco é meu irmão?»

Deixo-vos hoje uma das belíssimas (pela sua capacidade de análise crítica, solidariedade e engajamento social) crónicas do jornalista Sérgio de Andrade, publicada no Jornal de Notícias de Terça-feira 04 de Janeiro de 2005:14 (opinião), com o título acima.

«Não foram os orgãos de Comunicação Social que inventaram que a emoção varia com a latitude. Isto é, que nos emocionamos mais com um desastre fatal em Espanha do que com uma tragédia na Ucrânia ou do que com uma hecatombe na China.
Mas a emoção varia também com a nacionalidade. Por isso, muitos países atingidos pela catástrofe no Sudeste asiático mandaram para lá jornalistas, cada qual preocupado, acima de tudo, com a sorte dos seus compatriotas.
Nada mais natural. Só que é por demais evidente que, após a nacionalidade, as televisões do Mundo ocidental passam á categoria seguinte do interesse noticioso. E informam-nos do que aconteceu com aqueles a quem, eufemísticamente, os ingleses chamavam "europeus" e os americanos ainda hoje chamam "caucasianos". Por outras palavras - brancos.
Estamos, nós, europeus, ocidentais, brancos, em estado de choque porque muitos dos "nossos" morreram lá longe. Ouço as televisões apontar números: uma dezena de belgas, uma centena de finlandeses, um milhar de suecos. E, pergunto-me: por uns tantos alemães, quantos milhares de indianos ou tailandeses? Por uns tantos italianos, quantas dezenas de milhar de indonésios ou cingaleses? Largos minutos dedicados à odisseia de um menino nórdico, louro e de olhos azuis. E os milhares de meninos asiáticos, morenos e de olhos escuros?
Antes de mais, os turistas, os brancos. E os "indígenas", os "nativos"?
Há, para os media ocidentais, uma quota de condolência e horror variável com a cor da pele das vítimas?
Nessa não vou! Para mim, mais de cem mil seres humanos morreram, iguais na desgraça, embora diferentes na tez. Porque, para mim, todo o homem - e não só o homem branco - é meu irmão».

Sérgio de Andrade escreve no JN, semanalmente às terças-feiras.

05 janeiro 2005

Correm os dias

“Os dias correm iguais
aos dias que vão distantes!”

Veio-lhe esta frase à ideia. Não lembra quem a disse, ou escreveu: É memória antiga, de mais de noventa anos. Lembra-se de sempre a ter tido!
Agora, nos seus noventa e nove anos, olha as imagens do noticiário, na televisão, sobre o terramoto e maremoto na Ásia e a frase assalta-lhe o pensamento.
É bem verdade que os dias correm iguais quando não há perdas, mortes, desgostos arrasadores, tragédias como esta.
Os dias não correm agora iguais para as pessoas em todo o mundo. Principalmente as de lá, mas também muitas de outros pontos do globo que perderam familiares na catástrofe. Tão pouco para os que nada perderam directamente, como ele, mas que olha, observa e sente uma profunda dor por tantas vidas ceifadas, tanta destruição, tanto sofrimento!
Ao seu lado, ou outros internados na instituição, choram. Abertamente as mulheres. Os homens fungam, assoam-se ruidosamente tentando disfarçar a comoção.Ele não. Dói-lhe a alma. Tem uma dor constante no peito, mas não chora lágrimas dos olhos. Chora na alma.

04 janeiro 2005

Solidários na memória e na dor

Coloquemos, hoje à noite, velas acesas nas janelas de nossas casas e amanhã, pelas 11H00, façamos 3 min. de silêncio e meditemos, in memoriam de todas as vítimas do cataclismo na Àsia.
São duas correntes mundiais expressando solidariedade. Para quem pense que estes actos são meramente simbólicos permito-me lembrar que "o pensamento move montanhas" e termino com uma frase que me impressionou, pela força que possui, e retirei do blog da minha filhot'ANA (http:facilitareiki.blogs.sapo.pt/):
«Por baixo das tuas palavras está escrito o verbo de Deus».

Indignação

Por razões alheias à minha pessoa, mas em que me vi envolvida tenho visto mais dos nossos serviços de fiscalidade do que gostaria. E temos uma relação conturbada e traumática (com fundamentos), no que me respeita.
Para não variar e alimentar a péssima impressão recebi ontem o aviso de pagamento referente ao IRS de 2003. Duas folhas A4, profundamente escritas, pelo computador, em que as assinaturas dos funcionários são impressas ou fotocopiadas e não manuscritas, sem data de envio em qualquer uma, o envelope sem qualquer registo de data também.
O que lá vem impresso é que deveria efectuar o " pagamento voluntário até :2004.09.15". Por baixo da assinatura do funcionário consta a data de saída: "2004.11.29"
Logo aqui se vê como poderia cumprir o pagamento até à data limite se a notificação, em teoria, saiu das mãos deles (????) 14 dias depois.
Porreiro, so cool...!
Para alé dessa, na folha 2ª, diz que:"Fica citado(a) de que foi (foram) instaurados (...) processo de execução fiscal devendo proceder ao pagamento da dívida exequenda e acrescido no prazo de 30 (trinta) dias a contar da concretização desta citação":
30 dias a contar de quando?,
pois nesta folha não há qualquer data senão a 2ªjá anterirmente referida?
Isto é, a data em que TEORICAMENTE, os papeis sairam das mãos do funcionário e das finanças?
Cada vez tenho mais a certeza de que o estado português NÃO é uma "pessoa de bem".
O valor a pagar é, felizmente, irrisório. A minha indignação não é pelo montante. É pela falta de rigor (para não dizer mais), e de critérios.
Todos sabemos das grandes dívidas ao fisco, que dariam para reequilibrar o orçamento e que são sistematicamente adiadas, se não perdoadas. Não quero perdões. Quero justiça, critério, rigor e isenção no tratamento, que é coisa que não tenho recebido e que a maioria dos portugueses/as, trabalhadores/as por conta de outrém não têm, não recebe e parece que não vai passar a ter, a receber.
Irei lavrar o meu protesto, por escrito. Uma vez reclamei, não obtive resposta a não ser (se é que se pode considerar resposta) uns meses depois receber novo aviso, desta vez para pagar quase o dobro da quantia inicial.
E paguei!
Não tendo obtido qualquer outra resposta!
Reafirmo: o estado português não se comporta como uma pessoa de bem para com os seus cidadãos.


Mais do que uma Rosa Branca...

@-',---
pelos sobreviventes do maremoto, é necessário uma outra cadeia de solidariedade que se expresse em donativos.
Para além de na TV passarem as contas bancárias de ONG's, aqui deixo alguns endereços electrónicos onde se podem informar :
«http://www.medicosdomundo.pt/»
«http://fundacao-ami.org/ami/matriz.asp»
«http://www.unicef.pt/»
Depois do susto, depois do pasmo, é necessário agir e continuar a agir.
Desloquem-se à agência mais perto ou vejam on-line como podem contribuir.
Se cada um de nós fizer um pequenino esforço o sofrimento de muita gente é minimizado.Vale a pena. Vamos lá a começar o ano com actos e não só com intenções.
P.S - desculpem-me os que já agiram. Alguns de nós são mais lentos....

03 janeiro 2005

O que o teste diz k sou:


Que coisa meiga você é?

A magia da vida

Liberta da gravidade
mergulhava em galáxias,
supostamente inexistentes,
que naquela noite
se desvendavam,
se descobriam e a si
descobriam.


No seu invertido vôo
de cometa,ou anjo,
a menina subia,
subia, e do seu peito
um outro fogo explodia
iluminando a noite o dia.

(Inédito, por: TMara)

02 janeiro 2005

FLORIDOS CAMPOS

«A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.»
(Merleau-Ponty»

01 janeiro 2005

Ali estava a mulher observando

Ali estava a mulher observando o começar do dia.
Era um Inverno temperado, mas as madrugadas perpassavam sempre um arrepio da pele ao interior do corpo, pela quebra das temperaturas, pela humidade no ar e, parecia-lhe, pela surpresa do acordar que cada dia acarretava, tanto ao mundo quanto aos seres.
Surpresa a mulher procurava as marcas da diferença, quaisquer que elas fossem. Porque sim, tinham que existir. Porque em todo o mundo, em todo o lado, como se as vidas disso dependessem, a maioria das pessoas festejara, ruidosamente, a passagem de mais um ano como coisa rara, quando afinal é cíclico e com dias certos: 365, ou 366 dias em anos bissextos.
Já ao sair do banho se olhara atentamente ao espelho procurando indícios de algo diferente em si. Nada. As diferenças aconteciam independentemente da mudança de ano, que, ao fim e ao resto, não passava de um marco temporal. Mais um.
O conjunto dos anos, mas principalmente as ocorrências da vida, ao longo de múltiplos quotidianos, isso sim, isso é que pesava na balança das mudanças, pensou!
O ano mudara, sem o frenesim, endoidecido do de fim do século a que assistiu espantada. Literalmente espantada com a loucura que se apoderara de quase toda a gente.
Mas o ano mudara, ela mudava lentamente como em todos os outros dias do ano e só daí a algum tempo se perceberiam as mudanças, as físicas e as interiores.
Pelo planeta as guerras, as mil e mal disfarçadas (umas mais do que outras) frentes de guerra continuavam. Israel continuava com o muro da nossa vergonha (já que eles a não têm mais). Parece-lhe que o facto de o povo judeu ter sido vítima do holocausto nazi, legitima agora (para muitos deles), quase todas as atrocidades e barbaridades.
Os palestinianos continuam, arrasados a dar as vidas, colhendo outras, em total desespero de causa....Atrocidades atrás de atrocidades. O Afeganistão, o Iraque..., céus, o terramoto e o maremoto..., de facto nada mudou de 2004 para 2005. A acontecer levará o seu tempo. Será um ano? Parece-lhe pouco o espaço de um ano para tamanha confusão e, e quê? Receia a palavra que lhe surge. Coíbe-se de a dizer. Olha o dia esperando novas e luminosas madrugadas.