31 dezembro 2005

O que queremos para 2006?

O que todos desejamos (pelo menos assim o expressamos), ano após ano, desde que tenho memória das coisas do mundo e da vida, virou já um cliché, porque as repetimos exaustivamente e nunca as alcançamos.
Por vezes parece até que estão cada vez mais distantes apesar da "sociedade da abundância"!


São elas:
PAZ;
o fim da FOME e da MISÉRIA;
TRABALHO;
JUSTIÇA
e SAÚDE.

O que não queremos mais ver no mundo:


A brutal realidade da "mancha" de fome no continente Africano, o mais castigado.

Não esquecendo a Ásia e a ìndia.

O que é a fome ?

A fome é a escassez de alimentos que, em geral, afecta uma ampla extensão de um território e grande número de pessoas.

VALORES NO MUNDO:

Cerca de 100 milhões de pessoas estão sem tecto;

1 bilhão de analfabetos;

1,1 bilhão de pessoas vivem na pobreza, destas, 630 milhões são extremamente pobres, com renda per capita anual bem menor que 275 dólares;

1,5 bilhão de pessoas sem água potável;

1 bilhão de pessoas passando fome;

150 milhões de crianças sub nutridas com menos de 5 anos (uma para cada três no mundo);

12,9 milhões de crianças morrem a cada ano antes dos seus 5 anos de vida.

Esta situação deve-se tanto a causas naturais como HUMANAS. Destas últimas lembremos algumas:

-Instabilidade política;

-A guerra;

- Os conflitos civis;

- As invasões;

- A destruição deliberada das colheitas;

- A influência das transnacionais de alimentos na produção agrícola e nos hábitos alimentares das populações do denominado Terceiro Mundo;

- A utilização da "diplomacia dos alimentos" como arma nas relações entre os países;

- A relação entre a dívida externa do Terceiro Mundo e a deteriorização cada vez mais elevada do seu nível alimentar.

O QUE A "FOME" DE PODER E A INCOMPREENSÃO FAZEM:

Intransponíveis muros!

Em vez de pontes:MUROS!

Altos. Instransponíveis.

Novas fronteiras vigiadas com armamento topo de gama para destruição maciça.

Ódios criteriosamente alimentados como "burros a pão de ló" e enormes campanhas de marketing de opinião tentando justificar o injustificável aos países mais longínquos envolvidos nos seus pequenos afazeres e negociatas. Aos seus cidadãos que vêem o horror servido na T.V, com a naturalidade da exposição de qualquer insignificante evento.

A saturação visual até à indiferença.

A guerra e o seu cortejo de horrores, abusos, destruição, vítimas, doenças, fome e misérias várias...


O que eu quero, como todos, pão na mesa de toda a gente no planeta; paz; respeito entre todos independente de raça, credo religioso e outras pequenas diferenças, porque, como diz o poeta: É MAIs O QUE NOS UNE DO QUE O QUE NOS SEPARA!

Só temos que olhar sem antolhos!

Quero ver sorrisos nos rostos e não prantos. Quero um colo com sorrisos, amor e alimento para cada criança neste planeta

Para mim, para os meus, minhas filhas e meu país quero as mesmas coisas, mas a dimensão é tão micro-micro que nem vale a pena falar do assunto. É irrelevante.

30 dezembro 2005

o k dizem k diz o meu dia de nascimento


***Your Birthdate: November 6***


You tend to be a the rock in relationships - people depend on you.
Thoughtful and caring, you often put others needs first.
You aren't content to help those you know... you want to give to the world.
An idealist, you strive for positive change and dream about how much better things could be.

Your strength: Your intuition

Your weakness: You put yourself last

Your power color: Rose

Your power symbol: Cloud

Your power month: June


What Does Your Birth Date Mean?
www.blogthings.com/whatdoesyourbirthdatemeanquiz
/

29 dezembro 2005

Trago novas de uma Antologia de poesia sobre o Natal

Trata-se de uma antologia organizada por Vasco Graça Moura, intitulada: “NATAL....NATAIS”, abrangendo oito séculos de Poesia sobre o Natal.

É uma edição Millennium – PÚBLICO e garanto-vos que vale bem a leitura e este olhar diacrónico sobre os Natais ao longo dos séculos por vários poetas portugueses.

O NATAL DOS POETAS

Numa noite em que nasciam
crianças aos milhares
e outras morriam sem assistência médica
e outras morriam brincando com bombas
e outras morriam esmagadas
por fugitivos automóveis;
numa noite de Inverno,
numa noite de névoa
sobre os barcos sem equipagem junto ao rio;
numa noite de ruas desertas e casas fechadas
aos que andavam perdidos e sozinhos,
três poetas sentaram-se a uma mesa
e decretaram a paz e a alegria

E decretaram a paz
para os que, cabelos soltos nas mãos das noites frias,
viviam na cidade onde agora estavam,
respiravam o mesmo ar
e liam as mesmas notícias dos jornais.
E decretaram a paz
para os que tinham
os olhos riscados pelos dedos do medo.
E decretaram a paz
para os que traziam
a angústia dos dias misturada no sangue.
E decretaram a alegria
para as crianças que estavam nascendo em todo o mundo.
E decretaram a alegria
para as jovens que sentiam os seios despontar.
E decretaram a alegria
para as mulheres que eram mães.
E decretaram a alegria
para todos os seres.

Foi então que Jesus Cristo
nascido há quase mil
novecentos e sessenta anos,
sorriu no céu que cobria a mesa
onde três poetas se tinham sentado
para decretar a paz e a alegria.


António Rebordão Navarro

26 dezembro 2005

Há um ano o mar varreu a terra...


...no sudoeste asiático provocando um assustador número de mortos e uma devastação como há muito não havia memória.
Aldeias e cidades foram devastadas, desaparecendo do mapa e os seus habitantes, em números incalculáveis, morreram.
Quando a natureza se rebela é assustadora e relembra-nos o nosso insignificante lugar na ordem das coisas, do mundo.


Para além das naturais mudanças ocorridas no globo terrestre e que causam cataclismos naturais não podemos ignorar o efeito dos humanos actos sobre o equilíbrio do mesmo.

Da poluição, nas suas múltiplas vertentes, causada pelo nosso modo de vida e pelas fábricas e empresas outras, às guerras, aos ensaios de armamentos, temos uma vasta panóplia desestabilizadora e potenciadora da aceleração destes processos.

Por todas as vítimas, as que morreram, as que ficaram despojadas dos seus entes queridos e tudo o mais

24 dezembro 2005

Revisitando o NATAL


Porque o Natal se repete diariamente no nascimento de cada criança.
Porque o Natal, simbólico nascimento de Cristo, passa hoje.
Deixo, em revisitação, o meu sentir sobre o que o NATAL significa(ria) enquanto prática diária.

E como este sentir ainda não se alterou em mim é o único poema que sobre o Natal escrevi.

Natal
É ser
É nascer
É dar-se

Dar-se é ir de porta em porta
com uma mensagem
de flores no sorrir
e estrelas nos olhos.
Uma ponte de palavras
formada
entre ti e os outros,
construída, encontrada
entre a vida, o amor e a morte.

Natal
é seres, em cada dia,
não de ti, mas de todos.
Universo novo não planeado,
não programado,mas vivido e amado,
num desejo constante
de ternura-dádiva,
de fraternidade.

Natal
é ser criança cada dia
em cada ventre de mulher.

Todas as mulheres TUA MÃE.

22 dezembro 2005

Como se tudo fosse possível ou



Como se tudo fosse possível ou
impossível
escuto o teu silêncio,
as pausas do discurso,
a voz que soa entre os
lábios fechados.

Como se fosse o mar,
Como se fosse o vento
Como se a vida fosse
Possível impossível
.



António Rebordão Navarro





........................BOAS FESTAS

..................................BOAS FESTAS

....................................................BOAS FESTAS
............................................BOAS FESTAS
.............................................................................BOAS FESTAS

20 dezembro 2005

2 poemas de Friedrich Holderlin



ANTIGAMENTE E AGORA

Quando eu tinha verdes anos, as minhas
manhãs eram felizes;
À noite, eu chorava. Agora que sou mais
velho,
O meu dia desponta sem alento,
Mas a minha noite é sacrossanta e serena.

*

O CURSO DA VIDA

O meu espírito soltava-se nos céus, mas o
amor
Em breve o fez descer: a dor curva-o mais
para a frente ainda.
Percorro, assim, a órbita da vida
Para voltar à origem de onde vim.


Friedrich Holderlin


P.S - voltei para colocar este post scriptum, pois lembrei-me que o Pinto Ribeiro tem, em Holderlin, o seu poeta preferido.
Dedico-lhe então hoje estes 2 poemas.

19 dezembro 2005

Os inexistentes problemas que...



(....) nos atazanam os dias, provocam discussões, rupturas familiares, cisões, guerras e destruição.


Vem esta conversa a propósito do comentário do Nilson do Nimbypolis de k cito um excerto:

«Tiveste a capacidade de provocar um debate.(...)Ainda que tudo isto fosse à volta de um problema que nem sequer existe...»

A estranheza desta frase atingiu-me em cheio.

Dei por mim a concordar e a perguntar-me como poderiam então haver tantas opiniões e paixões desencadeadas sobre esta matéria e tantas outras que conduzem países e homens a fazer guerras, a criar preconceitos, racismo..., bom estão a ver o extenso rol que temos pela frente.

De imediato me lembrei do Manel do Montado da sua experiência de guerra, ou deverei dizer de operações de paz? que partilha connosco de uma forma rica e brilhante nas suas crónicas.
Senti curiosidade.
O que diria ele perante esta afirmação?

Concluí que a contradição era aparente, mas real.
Não é um problema real.
De facto nada o é: a forma de falar, de comer, de vestir, de estar,a cor da pele; a orientação sexual; a religião, e por aí fora, ..., NÃO são problemas reais, mas são problemas culturais e sociais e daí lhes advém a pseudo-realidade que "compramos".
Passam a ser problemas porque como tal os instiuímos.
Onde se fundamentam então as razões para a cisão, cisões, destruição, ódios, incompreensão, inefelicidade, miséria.... que provocamos uns aos outros?

O Nilson disse algo tão simples e tão verdadeiro.
Andamos a viver em função de inexistentes problemas, mas deixamos que nos atazanem os dias.
Retirem, a uns a paz de espírito, a outros a PAZ de viver e tudo o resto.

Que provocam cataclismos, miséria , fome, morte e destruição sob todas as possíveis formas imagináveis e muitas outras que nem sonhamos e estão aí, infectando o planeta, as cabeças, corações e almas dos humanos.

Que processo poderemos desencadear para que esta consciência, a da irrealidade destes pseudo-problemas, se espalhe como rastilho e a concórdia e a paz passem a ser uma verdade e a frase: «O Natal é quando um homem quiser» ganhe substância e realidade?


Sugestões aceitam-se.

17 dezembro 2005

SOBRE UMA PROVEITOSA CONVERSA A MUITAS VOZES



Nos últimos dias tivemos, aqui e no blog da Adryka, uma proveitosa conversa a muitas vozes na sequência do meu post do dia 14 e de um comentário por ela aí colocado (podem encontrá-lo no post abaixo) sobre a retirada dos símbolos religiosos das escolas.

Senti necessidade de “falar” com ela sobre o assunto e daí surgiu uma missiva que acabou em «Carta aberta à amiga Adryka» (post abaixo).

Vozes se ergueram a propósito de uma e outra posição.
Cada uma dessas vozes defendeu o seu ponto de vista com respeito e dignidade.

Não sei se esta animada conversa levou sempre, ou em todos os participantes, a uma maior abertura de espírito e compreensão sobre o pensamento e as razões de quem defendia a posição contrária e seus porquês.
Só posso desejar que assim tenha acontecido.

Para mim foi enriquecedora e quero agradecer a todas e todos os que nela participaram a expressão das suas ideias deixadas em qualquer um dos blogues.

Se lermos atentamente os comentários encontraremos textos muito ricos e que merecem uma boa reflexão e maturação. Nada é só a preto e branco!!
Há uma infinidade de cinzentos e todas as gradações são enriquecedoras e necessárias.

Agradeço também à Adryka o desportivismo com que recebeu e respondeu à minha carta aberta.

A lição mais importante que retirei deste debate de ideias foi o da quantidade de gente boa, preocupada, leal e correcta que por aqui anda.
Provaram-me mais uma vez algo em que acredito, mas que sabe sempre bem ver confirmado: que o ser humano, apesar de ser muito bera quando quer, ou quando não sabe ou não pode ser de outra maneira, é, maioritariamente, um ser espiritual e de luz em busca da verdade numa base profundamente ética.

Creio que nos ficámos a conhecer melhor e que esta amizade virtual saiu reforçada e a ganhar.
Pelo menos comigo assim foi. É!

A todos vocês o meu bem-hajam e um imenso obrigada pelos contributos e honestidade intelectual mostrada.

15 dezembro 2005

Carta aberta à amiga AdryKa

A propósito do meu post anterior sobre a posição da igreja católica e a retirada de crucifixos das escolas, a Adryka deixou o comentário abaixo expressando o seu sentir, que respeito mas de que discordo.
Ia responder-lhe por email mas achei que o poderia fazer desta forma aberta a todos, ajudando a clarificar, pelo menos, o meu pensamento sobre a matéria.

«Lamento, muito que as escolas não ensinem ás criancas coisas tão importantes como a importancia de Deus na vida Delas, não falo de religiões, falo de Deus. A retirada dos crucifixos, só prova que são como pilátos fazer o que vos quizerdes.Um dia todos vamos pagar por isto, quanda as crianças de hoje um dia homens e mulheres, vos perguntarem porque me escondeste que Deus existia. Beijos - Adryka»

CARTA ABERTA À AMIGA ADRYKA
Minha querida
temos posições diferentes nesta matéria e, provavelmente noutras, mas em muitas outras temos posições coincidentes. Já deu para perceber isto no tempo de net e de leituras mútuas que fazemos.
Em primeiro lugar discordo de ti que devam ser as escolas a falar de Deus (sob qualquer forma que se pense). Essa é, desde o nascimento, uma função da família pela prática e pelos ensinamentos de conduta, regras e valores.
Faz, necessariamnete parte do processo de socialização primária a que cada um de nós é sujeito e, considero-a matéria do foro íntimo, num primeiro patamar da família no seu todo, em segundo lugar , de cada um de nós.
Num certo momento da vida os pais podem ou não desejar que os filhos sigam a religião que professam e orientam-no para as igrejas pretendidas onde, em conjunto com a família os ensinamentos continuam e lhes falam de Deus.
Não me assumo como católica (nem qualquer outra coisa), considero as religiões, pelo menos na forma que têm assumido, como dispensáveis, pois para nos ligarmos ao divino, a Deus não necessitamos de intermediários. Basta amar os outros, o mundo, a natureza, a vida e a nós mesmos e sentiremos a forte presença do divino amor incondicional, se quiseres, de Deus.
Já li a Bíblia mais do que uma vez. Considero-a uma leitura fascinante e rica e tenho-a em casa para, sempre que queira, a ela voltar.
A personagem de Jesus é uma figura guia na minha vida pois os seus ensinamentos são sábios para a vida e nosso percurso espiritual.
Pena que tão pouco seguidos sejam por muitos dos que se assumem, ou designam, como católicos praticantes. O respeito e a tolerância baseada no amor seriam muito maiores do que são e o mundo um melhor lugar...
As minhas três filhas não foram baptizadas, deixamos-lhes a liberdade de escolher a religião que pretendiam professar.
A minha filha mais velha, entre os 12- 14 anos foi aluna do colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, depois de eu ter tido uma longa conversa com a directora (Madre Superiora) explicando a posição familiar sobre a religião e a catequização.
Garantido o respeito pelos nosso princípos ela lá andou e, chegava a casa surpresa porque quando, nas aulas, lhes solicitavam redacções sobre condutas e modos de agir face a situações que lhes ilustravam, no final, depois de devidamente avaliadas e classificadas, a professora/Madre pedia-lhe sempre para ler á classe a redacção dela por ser a mais bem orientada no amor e respeito ao outro. Em suma, a que mais se proximava do ideal cristão perseguido.
Questionava-se ela porquê, se as colegas eram alunas do colégio desde a infância , onde tinham aulas de religião e moral, frequentavam a catequese e a Igreja, coisa que ela nunca fizera....
Falámos sobre o assunto e ela percebeu. Religião e moral não são a mesma coisa.
E regras morais tinha-as ela e tem, bem como as irmãs, de uma forma intensa e honesta que me fazem orgulhar imenso das pessoas que hoje são.
O exemplo é a maior e melhor escola e é na família que ela está.
Nós, a sua família não católica, nunca lhe escondemos Deus. Falamos-lhe muito de um algo divino que assume nomes diferentes, mas que essa variante é uma coisa cultural porque na essência é o mesmo e que vibra em nós num anseio de sermos melhores pessoas e alcançar níveis superiores de ligação.
Com os nossos humanos defeitos eramos (somos) pessoas honestas que viviam/vivem de acordo com o que pensam e que Jesus afinal tão bem exprimiu.
Se cada um não sentir a presença, a faúlha divina dentro de si, não são as igrejas, muito menos os crucifixos nas escolas que o vão despertar.
Uma confusão muito comum (infelizmente) é confundir religião com moral, valores, conduta e princípios.
Digo-te, não te sobressaltes pois a espiritualidade é uma sede e um fome do ser humano e cada um a perseguirá com as bases que as famílias e a comunidade informal, e só estas, lhes proporcionam desde o berço.
Beijos de luz e paz, amiga Adryca

14 dezembro 2005

Escolas e símbolos religiosos

O porta-voz da igreja católica foi racional e sensato.
Referiu ser a resultante de um aspecto cultural e não religioso; lembrou, aos distraídos, a separação da igreja e do estado pelo que nada de polémico encontraram na determinação de retirar os crucifixos das escolas.
Falou bem.
E eu aplaudi.
Prematuramente, conforme pude constatar.
A terminar o senhor remete para as escolas e professores a decisão de retirar ou manter os crucifixos.....
Ora quer isto dizer que a Igreja, através do seu porta-voz, entende que as normas, determinações e leis emanadas do estado português podem ou não ser seguidas segundo decisão de cada cidadão individual...
Comentários para quê?

Como dizia o fernando Peça: e esta hemmmmm?

P.S - nada tenho contra nem a favor. Quero dizer: não me incomodam mas sou seguramente a favor da retirada que já devia ter ocorrido há décadas.
Cultural e democraticamente temos que fazer a separação DAS igrejas do estado, já que vivemos num estado laico, ou então ser, intelectual e moralmente, honestos e colocar em todas as escolas símbolos de toda e qualquer religião existente no território nacional...
Creio que muitas não têm símbolos e, para além do mais, seria uma grande confusão tanto símbolo espalhado pelas paredes. Assim me parece .

11 dezembro 2005

Do Sorriso


Hoje dedico os meus posts à poesia de Jorge Castro, entre nós, neste mundo de convívio tecido entre a palavra e a imagem, sem a presença física, conhecido como ORCA do Sete Mares que há pouco tempo publicou o livro Contra a Corrente.
*
Do Sorriso
*
já alguma vez te disse
do quanto o teu sorriso me evoca a luz clara da madrugada?
*
não os poentes ocidentais
de amarelos pintados nas fachadas do casario
como gritos
mas a serena luz
clara e fria das manhãs
que nos sulca a face
com a temperatura azul de uma lágrima
e abre o peito à vida remoçada
*
entenderás agora
porque me afasto de ti
o justo espaço
do receio
de não caber dentro de mim
tanta luz
tanta ansiedade
este temor de romper
a solidão que me conforta?

10 dezembro 2005

Parto

Parto.
Com meus pés de areia e água
desbravo caminhos.
Refaço o corpo e o caminho.

Se é rugoso e áspero pouco importa.

Todo o caminho que se faz se torna dócil percurso

entre o sonhoe o desejo

manso correr de águas, macio pisar em folhas e musgos.

E assim sempre as areias e as águas que nos compõem se renovam. Caminhando....

P.S - porque hoje é sábado deixei

aqui fragmentos do meu pensamento. Passa por lá, espero-te.

09 dezembro 2005

Poema da mulher nova


Vejo-te no mundo que não para,
como um grande lenço rubro desfraldado.
Vejo-te em mim, quando me sinto massa
com milhões de braços e de pernas e uma cabeça de anjo.
Vejo-te na vida em marcha,
nas mãos estendidas.
Vejo-te em toda a vibração,
nas plantações cobertas de girassóis e de papoulas,
no topo dos tractores pulverizando a terra.
*
Vejo-te nua das sedas
com a boca rasgada numa canção de futuro
como um punho ameaçador à pestilência dos homens.
*
Vejo-te bela
com os cabelos ao vento,
em frente,
sem um talvez: perfeita.
*
Vejo-te mãe de milhões de homens novos,
de rosto calmo e olhos firmes,
através das labaredas e do fumo,
sem país e sem lar, a caminho da vida
- na descoberta constante.
*
Mário Dionísio

05 dezembro 2005

Entre o pulsar de duas respirações

Entre o pulsar de duas respirações a do nascimento e a da morte, morreu ao contrário.

Horas antes de nascer, 36 anos depois, uma das grandes vozes da poesia romântica portuguesa, também, de alguma forma, uma poeta maldita, remetida para uma poesis não considerada de 1ª água, decidiu terminar o seu viver, este breve voo de condor, de asas cortadas, ou quebradas, que ensaiou em êxtases de alegria e dor que nos legou.

Entre o pulsar de duas respirações,

a da vida e a da morte (não serão a mesma? O que as distingue?) viveu intensa e desesperadamente projectando-se para um infinito de emoções e sentimentos, vastos demais para o nosso burguês, hipócrita e provinciano mundo português.

Na passagem dos aniversários da morte (1º) e do nascimento (depois) deixo estes Haikus, como homenagem:



Haikus para FlorBela Espanca


Florbela Espanca
*
Charneca sem fim
possível medida da
excessiva alma.
*

FlorBela
*
Nasceu sob o signo
da imensidão. Do excesso.
Absoluto amor.

*
Florbela Espanca I
*
Mulher poeta
Alma sem limites. Voo
de águia pró além.

Recordando Florbela

1894: A 8 de Dezembro, nasce Florbela Espanca em Vila Viçosa. 1930: a 7 de Dezembro Em Matosinhos, Florbela põe fim à vida.

«"- As almas das poetisas são todas feitas de luz, como as dos astros: não ofuscam, iluminam...."

Quem é realmente Florbela?
Ninguém é definível numa só dimensão, num só conjunto de qualidades. Todo o ser é uma intersecção de adjectivações diferentes e até opostas, ensina-me, desde a juventude, o meu amigo Diogo de Sousa, que cursava Filosofia.


No caso da poetisa tem a particularidade de ser ela própria a evidenciá-lo, permanentemente e sem constrangimentos. Parafraseando António José Saraiva e Oscar Lopes na História da Literatura Portuguesa: estimula e antecede o "movimento de emancipação literária da mulher" que romperá "a frustração não só feminina como masculina, das nossas opressivas tradições patriarcais...."

Na sua escrita é notável, como dizem os mesmos mestres, "a intensidade de um transcendido erotismo feminino". Tabu até então, e ainda para além do seu tempo, em dizeres e escreveres femininos.»


Volúpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A núvem que arrastou o vento norte...
-- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...

Florbela Espanca

03 dezembro 2005

Há muitos mundos


Dentro deste mundo físico, planeta que habitamos, há muitos mais mundos do que aquele que os nosssos sentidos (visão e não só) identificam e conhecem ou...reconhecem.
No nosso mundo social o mesmo se passa.
Há universos paralelos que nos escapam por inteiro.
Fazemos parte de uma tribo.
Com ela nos identificamos, por ela olhamos e vemos, aferindo pelos valores padrão da mesma. Tudo o que os nossos sentidos captam é filtrado por grossas lentes que, social e culturalmente, colocámos sobre os olhos, manto envolvendo a mente e obstruíndo a visão do espírito.
Construímos um mundo de barulho que nos agride e criou-se (alguém) o mito de que pessoas silenciosas, que falam baixo, que ouvem música baixo e que gostam de estar em silêncio são pessoas tristes.
O mesmo se passa com o estar-se só.
Associa-se, invariavelmente, o acto de estar só à solidão triste e acabrunhada, a um estado de espírito melancolico ou depressivo...
Prezo o meu espaço de solidão (comigo e com o mundo), prezo o silêncio. Gosto de ambos. Não temo nenhum pois são muito ricos e pacíficos.
Fernando Pessoa disse um dia: « Se te é impossível viver só, nasceste escravo» e eu concordo com ele.
E tu, que me lês?
*
P.S - Já deixei o meu contributo no ORGIA POLÍTICA

02 dezembro 2005

Palavras do contra

Estas são palavras do contra porque a nossa cultura ocidental chama, indiscriminadamente, preguiça, coisa má e feia, ao acto de parar, deixar de fazer algo que seja economicamente considerado útil.

Quando, parar é uma necessidade do ser humano. Parar e absorver a beleza, respirar e religar-se ao mundo, à natureza.

Pessoalmente sempre "parei". Volta e meia páro. Se o não fizer afogo-me, morro sufocada.
Necessito sentir o vento, molhar-me na chuva e nela caminhar sem destino, olhar a lua e as estrelas, parar para ver o pôr-do-sol e o nascer.
Parar a ouvir o diálogo do mar, dos amantes, o riso das crianças, o sussuro das árvores..., o som da água correndo solta e ciciando encantamentos...Parar para me ouvir.
*
«O trabalho nem sempre é necessário ao homem. Existem coisas como a sagrada ociosidade, cuja cultura é, agora, perigosamente negligenciada.»
George MacDonald (1824-1905)
*
«Se fores capaz de passar uma tarde perfeitamente inútil de uma forma perfeitamente inútil, aprendeste a viver.»
Lin Yutang (1895- 1976)
*
P.S -(Agora tenho estado meio parada, mas por razões de saude.
Porque o meu corpo se queixa e recusa agir, até escrever ou ler. Não tarda estou bem. Obrigada pela vossa companhia. Navegar por aqui, neste universo de imagens, sons e letras é uma outra forma de parar. Um tempo só nossso. De leituras e cumplicidades)