22 abril 2008

texto com que participei no 2º Jogo das 12 Palavras

O dom

Sempre o envolvente ruído, pairando.
Pesada sombra sobre a ténue linha de meu pensamento.

O psicólogo dissera aos pais:
- Vossa filha pode ser tudo (acentuando tudo) o que quiser nesta vida.
Seja na área das letras, ciências, até nas artes...


Ouvia o que era dito bem como os pensamentos de todos. Aqueles que as pessoas não querem partilhar - que não querem que os outros conheçam - tantas vezes contrários ao que as bocas dizem.
Sempre assim fora.
Por isso me isolava muito.
Todas aquelas vozes, umas mais nítidas do que outras, o torvelinho de emoções de cada ser, as felizes e as destrutivas – e estas eram predominantes - invadiam-me sem licença. Transformavam-me o cérebro numa caixa de -Pandor(a) que se abria para dentro, derramando-se no meu ser, arrastando-me para indesejadas e tenebrosas viagens.
Pesadelos acordados a todas as horas.
Dia e noite. Nem o sono me libertava destas agressões.

Em criança o ruído de tantas vozes e emoções era mais suave. Cheguei a brincar com "amigos" que, do nada, se corporizavam diante de meus olhos.
Cedo me apercebi que os pais pensavam ser imaginários e ao escutar os pensamentos deles, não expressos, mas tão nítidos como os ditos, percebi que melhor era não falar no assunto, muito menos referir o que mais tarde vim a ler em livros e que denominavam "dom".

Dom? Um autêntico tormento.
Escadarias no vazio. Para o vazio - o Inferno de Dante a correr em meu cérebro e alma - construídas com todas as emoções e dores humanas - as físicas e todas as outras - cujos degraus não passavam de armadilhas que quase me conduziram à loucura.

Aprendi a controlar esta invasão. Nunca na totalidade, mas o suficiente para me manter lúcida.
Li sobre Yoga e meditação. Li não. Estudei, trabalhei, pratiquei. Pratico.
E tem-me ajudado.
Senão há muitos anos que estaria num colete-de-forças …

Meus pais nunca perceberam que sendo nós citadinos passasse o máximo tempo só, vagueando pelos campos desertos, com os livros e o que mais fosse necessário, nunca esquecendo um lanchinho e um chocolate. A água bebia-a pelas fontes.

Tinha que silenciar os alheios e envolventes pensamentos, negra e esmagadora sombra.
A maioria carregados de tantas emoções destrutivas, raivas, ódios, maldades inimagináveis …

Isolada nos campos, desfrutava finalmente o silêncio, o calor do sol… mergulhava o corpo num leito de flores selvagens, ou nos trigais, e podia, finalmente, ouvir os meus pensamentos, sem interferências.
*
- (…) dizia ele aos pais que eu poderia ser o que quisesse na vida…Poderia, disse-o bem.
O que sou hoje?
*
Mera sobrevivente que recusou ser cobaia ou enriquecer utilizando o denominado…dom de que falo hoje pela primeira vez!
*
Dom...ou maldição nesta sociedade?


E porque vale a pena ir até lá e ler os textos, vou deixar-vos aqui, em retribuição ao obreiro e operário ( e que trabalheira deve ter...) desta ideia o texto com que participou:
«Entardecer
Uma ténue linha de sol ilumina as flores do vaso no degrau por onde a sombra já se estende alongada.

Sentado neste recanto, onde a envolvente vida dos arbustos me protege do vento, estendo a mão para a caixa e retiro um chocolate.

Ergo os olhos do livro de viagens e observo o gato a espreguiçar-se para de seguida, na liberdade que lhe é característica, sem necessitar autorização ou licença, dar uma volta sobre si e voltar a enrolar-se aproveitando o último calor do sol.

Deixo-os diluir e fundirem-se nos meus afectos. Sol, gato e chocolate. »
Eremita

12 abril 2008

Gostas de desafios? Vai até ao Eremitério...

... há novidades das boas por lá.

O Eremit@ lançou um auto-desafio a quem quiser aderir.

O Jogo das 12 Palavras.

Com 12 palavras escolhidas por 4 participantes, por ordem alfabética, sem conhecimento uns dos outras, duas vezes por mês, são escolhidas 12 palavras.

O jogo lúdico, como ele diz, consiste em cada participante pegar naquelas 12 palavras e construir um texto - prosa ou poema, em que elas constem.

Estas foram as do 1º Jogo
Na altura divulguei via email. A maioria das amizades disse que 1º ia ver ...
Pois está na altura. Passem no Eremitério e poderão deliciar-se com 25 textos entre prosa e poesia e ver a variedade de abordagens e desenvolvimentos que cada participante seguiu para além da qualidade dos textos. O segundo será lançado no inicio da próxima semana, segundo me respondeu e poderão informar-se das palavras e forma de participação no post que ele vai colocar.

E este o meu pequeno contributo que lá está:

«onde a luz?

tinha os olhos de um azul céu ou, em turbulentos dias, cor do mar em avassaladora tempestade criando, quando assim nos fitava, impossível e imenso distanciamento, mas na serenidade do ser, olhando-nos olhos nos olhos uma intensa luz de farol cintilava, iluminando-nos, arrastando-nos para a luz que irradiava, num intenso desejo de com ela comungar sentimento e vida em unidade e total fusão.

agora fito seu amortecido e erodido olhar.
onde a luz?»

01 abril 2008

para ti mãe, no dia de teu nascimento


com orgulho por te haver tido em minha vida,
com gratidão por tudo que me deste e com amor.