07 maio 2005

Necessidade premente

127972AtilioFranciscoPinho.jpg
(foto por : Francisco Pinho)
Necessidade premente
Entrar em cada quarto e partir.
Quebrar os vasos, as jarras, os vidros.
Desmontar as camas e as mesas.
Rasgar os papeis e as memórias.
Fazer uma fogueira, até deixar
arder todo o recheio. Repor as paredes
nuas e vazias, como vazia está
a silenciosa casa que habita.
Povoá-la de pó e estranhos animais.
Deixar a água correr até fazer um rio.
Mergulhar violentamente, para ficar
emudecida e bruta, como pedra,
no fundo. Inútil, como a vida.
Com as unhas rasgar a carne
e puxar as veias, uma a uma.
Compor vermelhas melodias
de um fantástico pôr-do-sol.
Puxar os tendões, os nervos, a força
e atirá-los ao turbilhão do espaço
como molas, ou tensas cordas,
de violino. Esfrangalhar de si,
o vazio corpo e oferecer-se ao cosmo,
num último e inútil abraço.
(por TMara)

14 comentários:

Menina Marota disse...

Minha querida TMara, há momentos na nossa vida que nos apetece fazer tudo isso e, ainda pior.

Mas depois, relaxamos e vimos que não nos leva a nada o derrotismo.

Sei-o por experiência própria.

Para um momento calmo e descontraído,venho convidar-te a visitar o meu novo blog.

É um blog que pretendo seja diferente, mas que continuará a ter a essência daquilo que sou...

O anterior (eternamenteMenina) continua... o primeiro amor não se esquece... vou ver é se não ficam com ciúmes um do outro, porque estou disposta a ficar com os dois... eheh

Um abraço e bom fim de semana ;-)

Anónimo disse...

Querida amiga:
Quantos de nós não temos esse tipo de ataques, de neuras e tudo o mais…?
Infelizmente todos nós estamos num só novelo... como chamam os budistas, a roda do Smasara! Ainda assim temos em nós a força da mente, a fé... e tens-nos a «NóS» que aqui passamos para te deixar carinho e auxilio sempre que precises;) O texto apesar do que transmite está muitíssimo bem redigido; Parabéns!
Mil beijinhos*******************

Anónimo disse...

Queimar o passado? Rasgar o passado? Destruir o passado? Mas como? Se ele é nosso e não nos larga? Aprende a viver com ele...eu também tenho dessas coisas, todos devemos ter... Um xi coração, tmara :-)

cris disse...

Estes momentos são importantes como catarse e factor catalizador de uma nova fase. Uns nós desfazem-se, outros se constroem. Desejo-te energias para esta transição.
Bom fds.

agua_quente disse...

Entendo essa necessidade, por vezes. Cortar com tudo o que é material, destruir e destruirmo-nos e fundirmo-nos com o universo.
Belo, amiga, mas um pouco assustador. Beijos

lique disse...

Amiga, essa sensação pode ser terrível ou libertadora. Unirmo-nos com o cosmos pode bem ser uma atracção... fatal. Beijos e bom fim de semana.

Daniel Aladiah disse...

Querida TMara
Adoro poemas com esta força, em que se rasgam os pulsos na escrita, deixando-a com a vida que brota do nosso sangue...
Um beijo
Daniel

SL disse...

São fases...todos estes momentos e necessidades são permanentes durante toda a nossa vida!
Jinhos

Fátima Santos disse...

UÚ na sou só eu!!! rssssssssss bom fds e pudesse eu e enviava as andorinhas a visitar-te

Raelma Mousinho disse...

gostei do poema =) forte!
fiquei refletindo que às vezes forçamos e nos esforçamos, esticamos ao máximo parecermos com a corda de um violino, e a arte é não se partir.. é difícil viver.. mas tmb é prazeroso e é de onde tira-se a maravilha do som.
beijosss querida!!!
Rah

Cláudia Félix Rodrigues disse...

Olá, minha querida. Está tudo bem. Não te preocupes. Tenho andado com imenso trabalho e chego a casa tarde e cansada. Só isso.
De resto estou bem. Continuo a acompanhar a minha princesa Beatriz e mais uma novidades que vou postar agora mesmo no meu Mar.
E tu? Estás bem?
Beijinhos de Luz. Grandes. Imensos.

Fabi Carneiro disse...

TMara...
vc sempre falando ao coração, alma, mente e tudo mais que movimente o nosso interior.
Amei o post.

Beijos.

Ah! Vc poderia me passar aquela tarefinha de novo??
Quero pagar minha dívida...
;)

vf disse...

Palavras intensas de um Ser intenso...
Numa recordação vivida, sentida...

Amaral disse...

Ena, que texto tão impressionante, tão negro e, ao mesmo tempo, tão cheio de sangue e morte…
Até me deixas arrepiado. Que é isso, que necessidade premente é essa que te leva a buscar tantas palavras duras e violentas?... A vida merece mesmo isso?...