24 maio 2005

A propósito do post de ontem e em torno dos vossos comentários




A propósito do post de ontem e em torno dos vossos comentários sinto necessidade de acrescentar algo:
1- o texto não se refere à designada “condição feminina”, “fadas do lar”, “domésticas” ou designações afins;
2 -não é produto de qualquer estado de espírito pessoal.

Tento retratar a situação de mulheres mentalmente doentes (doença específca) em que, muitas vezes, o 1º sinal/sintoma visível é a total confusão da casa. Na casa.

No estrangeiro já há quem estude esta situação.
Estas mulheres são designadas “recolectoras”.


Ao longo de quase trinta anos de trabalho de terreno encontrei muitas situações como a descrita.
Em que a casa é o 1º “agente” a “falar-nos” da confusão mental em que aquela mulher se encontra. Em que a sua cabeça se encontra.

Desestruturada. Um caos que a ultrapassa, a esmaga e a que se sente impotente de escapar.

Incapaz de pedir ajuda porque se não apercebe de que está doente, marcada pelo ferrete sócio-cultural de dona de casa *(só porque nasceu mulher, independentemente de ser também um agente económico para lá das paredes da casa, no mercado de trabalho. Portanto duplamente rentável.) considera-se um fracasso, uma desarrumada, uma desleixada...

E o conjunto dos pensamentos continua a desestruturá-la, a criar novelos enrodilhados e cheios de nós, alimentados agora não só pela impotência (sentida/ vivida) mas pelo complexo de culpa, de falha na tarefa de por ordem na casa, na vida.

Por norma estas mulheres escondem tão bem o problema que quem convive com elas fora do seu ambiente, não conhece nem tem como o identificar.

Interrogo-me se as leituras que consideraram falar eu de um modelo de mulher (em vias de) extinção, ao fazerem esta leitura não estarão afinal bem infectadas, assombradas, obcecadas na sua rejeição pelo modelo que tem sido dominante nos últimos 3 séculos?

Não afirmo que assim seja!

Como disse atrás interrogo-me e busco compreender o porquê destas interpretações porque por mais que releia o texto não lhe encontro ecos que para aí me conduzam.

Se em vez da palavra “mulher” estivesse escrito “homem”, como o interpretariam?
(POR FAVOR FAÇAM ESTE EXERCÍCIO E DIGAM-ME DE VOSSA JSTIÇA!)
Se tal vos peço é porque busco compreender onde falhou o texto.

Continuando no universo feminino: há muitas situações como a atrás referida; há muitas mulheres com vícios secretos (desde o álcool a outros), tenazmente escondidos do pesado olhar avaliativo da família e do social (próximo) em geral.

Que a "mulher já não é......"cada vez menos mas ainda demais em minha opinião!
Infelizmente optimismo em excesso creio. Tendemos a pensar o mundo à imagem do nosso pequeno universo. Da nossa tribo de pertença...

Para lá das muitas situações com que me tenho defrontado e que são, infelizmente bem reais e actuais vi, há tempos, um documentário sobre a matéria e foi ele que despoletou a necessidade de escrever.

A título de nota de rodapé: obrigada ao

Manoel Carlos
Pelos seus sempre construtivos comentários.
Estou familiarizada com a teoria do caos, mas situações como a que tentei descrever já estão para além de um caos reorganizador se não houver uma intervenção técnica de suporte.

Obrigada a todos pelos contributos que me estimularam, levaram e levam a continuar esta reflexão.
Aos que em mim a personalizaram, deixando palavras de apoio e incentivo o meu bem hajam pela vossa preocupação, errada embora.

* - atentemos que por norma, nos casais, as tarefas domésticas continuam a ser assumidas (por ambos) como pertença do elemento feminino em que os homens "AJUDAM"!

Esta palavra diz tudo. Ajudar quer dizer fazer algo pelo outro, referente a algo que é da sua responsabilidade e não de quem a executa.

8 comentários:

Amaral disse...

Apenas poderei falar, por aquilo que conheço, leio e me tem sido transmitido. Continuo a pensar o que referi anteriormente. Neste planeta, a situação da mulher nos países árabes é a que todos sabemos. Aqui, só uma mudança muito radical poderia colocar a mulher numa situação diferente. Nestes países, a crença não mudará, infelizmente, tão cedo.
A mulher africana tem afinidades ancestrais que lhe colocam problemas específicos, mas é uma mulher que poderá fazer emergir valores conducentes a uma melhoria das suas condições de vida.
A mulher ocidental dispõe dum conjunto de "direitos adquiridos" e "barreiras ultrapassadas" que lhe acrescentam problemas que eram somente do domínio masculino.
Isto para dizer o quê? Que a mulher mentalmente doente tem, como o homem, desajustes na sua mente, motivados por diferentes factores. O caos que a esmaga será um caos como outros caos que esmagam milhares de homens internados em hospitais por esse mundo fora.
A mulher ocidental continua (felizmente) a libertar-se da exclusividade do "ferrete sócio-cultural de dona de casa". Na própria Inglaterra, assiste-se a um retorno da mulher pretender "voltar à tarefa de criar os filhos", deixando para trás profissões bem remuneradas, e entregando-se de alma e coração ao cuidar da casa, do jardim, dos filhos, de si própria, adquirindo uma liberdade própria, que em outras épocas não tinha.
Vejo a mulher brasileira "procurar viver", vejo a mulher norte-americana e europeia em posições de destaque na vida sócio-cultural.
O que eu posso concluir é que o problema é um problema do "ser humano", não da mulher ou do homem em particular.
Desculpa se acabei por levar o assunto para outras áreas…

Conceição Paulino disse...

Amaral - puseste muito bem a questão, vindo ao encontro do meu pensamento. A questão é tanto do homem como da mulher. Usei a mulher, talvez pq me defrontei + com casos neste género e pq acaba sendo visível através da cas enqt no H. continua encoberto só aparecendo se ele decidir expor-se o k, raramente acontece. Ontem é k me parece k o facto de usar a palavra "mulher" desviou as atenções para as questões de género.O k vos pedia era k substituissem a palavra e vissem k era de ambos, do ser humano, apresentando embora características diferenciadas. Obrigada pelo retorno. Bjs e;)

Anónimo disse...

TMara, ontem não visitei o teu blog, por isso,quando aqui cheguei,há pouco, li atentamente o post que referes.
1º Entendi que falavas de mulheres com desequilíbrios afectivos. Todavia, pensei que esse quadro pudesse passar por qualquer mulher,em algum momento...dou-te um exemplo, quando, há meses perdi a minha Mãe a minha mente ficou tão perturbada, tão desamparada, que a casa toda se reflectiu. A minha dor contaminou a casa por algum tempo...
2º Como sabes, quando falamos especificamente de mulheres (lembras-te do exemplo da "Espera" dos meus posts?) logo se fazem escutar vozes,masculinas e femininas, referindo as mudanças verificada recentemente, cantando as maravilhas da "Nova Mulher" (tão fantasiada...) e tratando com alguma implacbilidade as "Mulheres do Passado". Não sei seestamos sob influência de "wishful thinking", excesso de optimismo, sorte de quem opina, ou distracção...

Um beijo enorme!

mfc disse...

No "nosso mundo" as coisas estão a melhorar sem se chegar ainda a uma situação desejável.
No resto do mundo,Àsia-África e América Latina, nem é bom falar!

JPD disse...

Olá TMara!

Se fizermos o exercício de comparar a situação da mulher desde o 25 de Abril até agora; v erifiar como foram alteradas as perspectivas da integração docial da mulher rompendo todos os graus de desigualdade; como as relações entre mulheres e homens nos domínios privado, do azer, do trabalho, podemos constatar que houve em 30 anos avanços completamente inesperados.
Haverá imenso que fazer e o género já não é tão constrangedor para a mulher, mesmo na província, quanto terá sido há anos felizmente idos.
O caso que editaste, corresponde a um quadro de patologia a que ninguém poderá estar a salvo de ser vítima e que carece de uma atenção muito cuidada das pessoas que estão mais próximas dessa doente, depois de um clínico geral que fara a triagem e reconduzirá o doente para uma especialidade que responda adequadamente.
Termino, acrescentando que tiques machistas serão sempre desajustados e sem qualificação.
Relativamente à condição da mulher em regimes ou sociedades em quea laicização ne sequer está feita, onde a prepotência religiosa esmaga tudo e todos, aí há toda uma evolução a fazer.
Bjs

Mitsou disse...

Tens toda a razão. E agradeço-te o esclarecimento/divulgação. Admito que a minha leitura esteja infectada porque também eu vi no texto uma situação de desânimo (quanto muito depressão, e esta, também, uma doença "tipicamente" feminina). Sabes, creio que estamos tão habituados aos desabafos feitos nos blogs que os vemos em todo o lado...Beijinho grande, querida e atenta TMara.

Fátima Santos disse...

mas TMara eu que li o post das explicações antes do original, digo-te que a situação que (de modo muito "indirecto" dai, creio as dúvidas que surgiram se querias acercar da temática que me pareceu ser a tua preocupação deverias (credo sei lá!!) fazer outro tipo de texto)mas a questão mulher/peso de dona de casa (por mais que seja diferente o que faz na casa!!! por mais que sejam partilhadas as tarefas todas da casa!)verus o que chamas de "confusão mental" e afins, esta temática existe e tem todo o sentido dirigida para a MULHER. Uma mulher é que tem (o homem tem outros e não saõ poucos!) o "peso" do estereotipo ancestarl de tratarda casa. Numa situação de fragilidade qualquer que seja a origem, e mais ainda se ela não tem profissão, mas mesmo que a tenha, a "culpa" do desarranjo na casa pode ser a "pescadinha de rabo na boca2 que vai acentuar a fragilidade (chememos assim mesmo que eufemisticamente) Quero eu dizer que ser tratado substituindo homem por mulher, ou, a fazeres, estás a tratar outro tema OUTRO: Beijoca.

blimunda disse...

li os dois posts. e digo-te com toda a sinceridade: entendi tão tão bem o que queres dizer que nem vou dizer mais nada.