De repente, acorda-se,
No meio da noite,
Com uma urgência
de coisas por dizer,
de coisas por fazer,
de pessoas por amar,
de estimar o amor
da vida, das coisas e das gentes.
Acordamos, de súbito,
no meio da noite.
Em sobressalto
porque despertamos
do pasmo com que,
em qualquer casa, um submerso
olho, de vidro, nos olha
com aquático e parado olhar.
Acorda-se, súbito,
no meio da noite,
dominados por um silêncio
tecido de milhares de ruídos
subterrâneos,
iluminados por um fio de luz
do candeeiro,
talvez
para nos encontrarmos,
a sós, connosco.
(Por TMara)
e hoje o país ficou + pobre!
com o desaparecimento de duas incontornáveis vozes portuguesas, cada uma na sua área.
Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade resolveram partir na mesma madrugada de Junho.
Façamos silêncio para os continuarmos a ouvir.
Talvez conversem agora sentados numa estrela.
17 comentários:
Como sempre, gostei das tuas palavras...há dias em que simplesmente acordamos assim :) Beijo grande e boa semana
O teu poema é belo. Há estranhas noites e dias de uma melancolia extrema. Como hoje. Eu só consigo estar triste. Beijos
Belíssimo poema, amiga, que dá gosto ler nesta manhã triste. Muito mais pobres ficámos, sem dúvida. Beijinhos
Ficámos mais tristes...mas creio que eles não iam gostar de nos ver assim...
As tuas palavras de sobressalto como que pronunciavam estas duas mortes de homens que tanto marcaram as nossas vidas.
TMara, lindo poema. Quanto a Alvaro Cunhal e Eugénio de Andrade, somente podemos apreciar a sua obra e agradecer por terem estado connosco. Um beijinho (mandei-te um e-mail).
"Acorda-se, súbito,
no meio da noite,
dominados por um silêncio
tecido de milhares de ruídos
subterrâneos,
iluminados por um fio de luz
do candeeiro,
talvez
para nos encontrarmos,
a sós, connosco."
Um poema de uma sensibilidade extrema!
O País perdeu este mês de Junho, três Homens que dignificaram, pela sua postura e arte, o nome de Portugal.
Um abraço terno ;-)
De súbito, no meio da noite, acorda-se da viagem dum sonho. Dum sonho real que o corpo não detém em nenhum lugar possível. No meio da noite, o corpo desperta, e o cérebro procura atabalhoadamente um sentido racional que não encontra.
TMara,
Foram sem duvida alguma duas figuras marcantes e com os seus lugares na história recente do nosso país.
Mais dois grandes homens e duas referências que se perdem.
Muito bonitas e sentidas estas tuas palavras.
Bjs.
Um beijinho pelo poema lindíssimo e um abraço apertado no dia triste que vivemos hoje.
Um minuto de silêncio por eles..e palavras eternas pela obra que fizeram.
Bjitos Mara...uma sensibilidade extrema, a tua :-)
Querida TMara
Acordamos de noite e ficamos admirados por ainda estarmos vivos com tanto para fazer e sem saber bem para quê...
Outros há que não acordam e deixam de ser mortais...
Um beijo
Daniel
Sabes, a noite passada também eu senti uma inquietação estranha. Escrevi no meu blog, naveguei pela net, tentei ler...depois ouvi as notícias. Adorei o teu poema e quanto aos que partiram...foram simplesmente o meu poeta favorito e um Resistente que sempre respeitei. Um grande beijinho para ti, TMara
Olá Tmara!
A noite tanto pode ser a rainha das ilusões onde todos os factos, acontecimentos ou premonições ganham uma dimensaõ, um fulgor que nos pode sobressaltar muito. Compreendo esse teu estdo de espírito. Muitas vezes é terrivelmente angustiante; outras, pelo contrário, são reveladores e, nesses casos, meu deus, que emoção!
Bjs
Você colocou tão lindamente o meu súbito acordar...
Tomara sim, que Eugênio e Álvaro estejam sentados em uma estrela.
Beijo grande
Gostei basntante do Poema, quanto a Eugenio de Andrade sempre apreciei bastante as suas poesias, e sim concordo contigo, talvez esteja com Alvaro Cunhal Sentado numa Estrela a conversar...
Esperemos que sim...
Beijinhos*
Vim ler outra vez o teu poema e só consigo dizer belo!
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