Pedra a pedra, levantas o muro.
Tanto assim a discórdia apetece?
Deste lado do muro, depuro
cada dia que a vida amanhece.
Pinceladas de cor e feitiço
das manhãs a florir madrigais
na menina que atreve um derriço
e se esconde a mentir os seus ais...
E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro...
Meio-dia! No sino da Igreja,
badaladas precisam as horas.
Uma açorda fumega na mesa.
Faltas tu! Por que tanto demoras?
E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro...
Pela tarde, sufoca o braseiro
deste sol que encandeia e nos cresta.
Arrojado, quem é o primeiro
a gritar que este rumo não presta?
E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro...
Num altar de esperança exaltante,
é a vida que grita e palpita
contra as iras do vento ululante
e bandeiras de fúria e vindicta...
E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro...
José-Augusto de Carvalho
Um fascinante olhar, o de José-Augusto de Carvalho neste poema, em que cruza a vontade de um futuro socialmente justo para todos com o sentido simbólico do 25 de Novembro dos idos de 75.
a propósito do 1º de Dezembro...
gostava que os feriados a eliminar tivessem sido votados por todos nós. Dói-me que a comemoração de um momento histórico de recuperação da nossa independência, como é o 1º de Dezembro, assim seja descartado, tanto mais que vivemos tempos conturbados em que a independência, a auto-determinação e identidade lusa estão fortemente postas em causa (novas formas de colonialismos) - já penhoradas!
1 comentário:
e como deixar de penhorar esse futuro?
com a poesia?
com a palavra?
será que isso basta?
ou bastamos Nós, os de Vida Grande que escrevem, que amam, que olham olhos nos olhos e que se atrevem a dizer
BASTA!
muitos beijos e abraços para ti e para o grande poeta que é o josé augusto de carvalho
Jorge
Enviar um comentário