09 dezembro 2011

convite&desafio- Poema: Re-volver poema 1.1 Lilian

RE-VOLVER 

No peito-húmus, 
um músculo ávido de palavras. 
Revolver a terra, 
adubo em gotas, 
versos irrigados. 

O verbo cala, 
o solo seca, 
racha-se a criança - 
migalha de pão dormido. 

Fome e chão, 
pisa descalça 
em brasas da indiferença. 
Pele e sangue ressequidos, 
aridez de lágrima, 
espinho e barro 
a maquiar a pele, 
manchas de verde e amarelo. 

Chora a pátria, 
pétrea de matas pálidas, 
alopecia de cores, 
extensas clareiras. 

Terra vermelha 
coberta do pó, 
rugas no mapa, 
pistas de pouso - 
Clan-destinos. 

Onde o branco, 
a pureza, 
a promessa? 

Traída a terra, 
ouro de tolo, 
sorriso de icterícia, 
parcos dentes 
de mastigar solidão. 

Céu de anil, 
nuvens sanitárias, 
homem esquálido 
a plantar pesticida. 

Traída a terra, 
clamor rouco e abafado, 
fumaça dos charutos cubanos, 
pendurados nas bocas patronais, 
sem lei e sem letra. 

Traída, 
a terra lamenta por seus filhos, 
amamentados de esmola, 
de enteados cuspindo confeitos, 
mordendo, 
com presas de ouro, 
o amanhã e a decência. 

Traída a terra. 
Punhal enterrado no seio, 
mãe órfã de rebento raquítico. 
Abre-se a fenda, 
engole o que resta: 
homem e praga, 
riso e lágrima, 
orgulho e carbono. 

Num futuro fóssil, 
tropical tupiniquim, 
semear e colher... 
Milagre! 
Lílian Maial 

1 comentário:

jorge vicente disse...

Que belo poema, querida Lilian!!!

Muitos abraços meus!
Jorge