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17 dezembro 2011

Convite&desafio/ POEMA: Exortação! J-A C


Exortação!

Quebradas as amarras, sobre as águas
balouça, livre, a barca da esperança!
Não fiques mais carpindo dor e mágoas.
que só quem persevera é quem alcança.

Se perdição houver, que fique o gesto!
Perdido já está quem se rendeu.
Se bem que neste outono, aqui me apresto
a ser mais um Abril que floresceu...

Recuso-me a deixar a triste herança
dum solo pátrio exausto do milagre
que se renova em cada primavera!

Quem quer deixar morrer a esperança?
Que a força a resistir nos salve e sagre
enquanto a vida em nós se regenera!...
7 de Dezembro de 2011.
Viana*Évora*Portugal

15 dezembro 2011

convite&desafio: poema METAMORFOSE

Metamorfose 

É quando a noite cai e o frio na lareira
descobre que sem lenha o fogo não se ateia,
que um grito de aflição assombra a pasmaceira
que anestesia há muito o povo desta aldeia.

E tocam a rebate os sinos da capela!
O burburinho cresce e vai de rua em rua.
E quem não vai, está olhando da janela
a vida que palpita e livre se cultua.

E corre o rapazio, ousando a sedução
de ser e de crescer nas asas da cantiga,
como o pião que roda e roda em sua mão
até parar feliz e exausto de fadiga!

E o frio se transmuta em fogo e ganha alturas,
instante a crepitar antemanhãs maduras!

14 dezembro 2011

convite e desafio/ 2 Poemas

Cárcere
®Lílian Maial

 

Urge a palavra perpétua 
condenada à boca 
solitária
engolida 
qual bolo de espi
nhos

A língua lambe 
sorve enjaulado grito
feito crime perfeito 
violação dos sonhos

Os olhos cospem intenções 
e não confessam

As mãos sacodem as grades
- grilhões de encardida esperança -
trancada às  sete chaves 

Num canto esquecido 
o lacre, no peito, inflama
e escorre 
corrosiva dor clandestina
a clamar justiça e alimento
que a fome não cala com o tempo

Ergue-se do cativeiro da inércia
a mão que ara a terra da mudança

Revolve o coágulo árido e seco
Pulveriza o suor
Aspergindo a força do homem
O futuro

Há que libertar o verbo
convolar os silêncios
e sentenciar  a dor

A flor do cárcere desabrocha no poema.

__________________________________

Terra de ilusão


O meu país é um sonho sonhado
Por soldados e marinheiros, lenda
Antiga de um paraíso encontrado.
Feira franca, leilão d’almas em venda.

Meu país, mundo nunca conquistado
Ao reino da fantasia é senda
De um caminhar só mal esboçado
Onde, após o erro, não há emenda.

O meu país é contínuo sonhar
Povoado por almas a penar
Penas passadas, terra de ilusão….

Meu país, contínuo derruir
De esperanças que perdemos a rir
Enquanto se nos parte o coração.

Conceição Paulino
(poema da década de 76 - cada vez mais atual)

13 dezembro 2011

convite e desafio/Crise, QUERER

Quadro de Dórdio Gomes
(Arraiolos26 de Julho de 1890 — Porto12 de Julho de1976)
Querer


Não me quero cativo
de quanto me disser
um saber que se quer
poder imperativo.

Quem sabe e quem não sabe?
Que sabes tu e eu não?
Tu tens o teu quinhão 
do todo que nos cabe.

Eu quero descobrir e quero descobrir-me!
Eu quero desbravar e quero desbravar-me!
Que cada queda a dar seja um grito de alarme
na vontade a subir e cada vez mais firme!...
Gabriel de Fochem
Viana*Évora

visão do mundo

o mundo |fora de mim|
corre e agita-se

é um mundo que recuso
no mais íntimo da alma

é um mundo feito de
                              pressa sem objetivo
                              raiva
                              rancores acumulados
                              ódios novos
                              e antigos, anquilosados

é um mundo feito de
                             competição
                             hipocrisia
                             sorrisos ensaiados
                             esgares apertados
                             dedos enclavinhados
                             corações enlutados

é um mundo feito de
                            dominação
                            esmagamento
                            dilaceração
                            destruição e
                            aniquilamento do ser
                           ………
                           Contradição
é um mundo feito de
                           homicídio consentido
                           eleito, entronizado
                           batizado, abençoado.

é um mundo feito de
                           crimes.

é um mundo que nos envergonha.

é um mundo que me dói
é um mundo em que não participo
é um mundo em que não existo
é um mundo que urge mudar.

Conceição Paulino in,
O meu país é um sonho sonhado, 2009:14-15

11 dezembro 2011

Para o Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva

Legendei como: portuguêsmente

Para o Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva
aqui deixo, chegada do Brasil e com autorização do autor, esta bela reflexão, em forma de soneto, contra a arrogância de quem pensa que tudo sabe e nunca erra.
O P.R já ­­­o afirmou alto e em bom som para o país mas, porque mesmo muito sabendo o ignorado é incomensuravelmente maior e o erro condição de aprendizagem aqui o deixo, na esperança de que lhe sirva para alguma coisa bem como a muitos outros que nos desgovernam.

Penitente
Herculano Alencar

O erro é a mão do aprendizado.
Erremos, pois, com douta inteligência,
pra que tenhamos plena consciência
de quanto um ser humano é limitado.

Só se é sábio quando, ao ter errado,
recompõe-se do erro a obra feita.
Pois que a criação é imperfeita
e mesmo a perfeição tem seu pecado.

Quem nunca errou, não sabe se aprendeu.
É cego, e surdo, e mudo como eu
e outros literatos desvalidos.

Há de escrever na lápide vazia
a página final da poesia
de um livro que jamais há de ser lido.*



*O poema foi escrito noutro contexto.  Achei que "cabia como uma luva" pelo que pedi autorização para o fazer.
************
e porque há pensamentos e reflexões que merecem maior visibilidade aqui deixo um comentário que a Titas deixou na postagem intitulada contra a indiferença «talvez assim o bom povo português acorde, e reflicta sobre a mensagem 'elogiosa' dum tal sr. Jürgen Kröger, representante da Comissão Europeia na troika,os tais funcionários de 5ª ou 7ª linha, a saber: «Portugal não é a Grécia: há estabilidade e as pessoas são boas». Percebemos a mensagem: as pessoas más (e os países maus) manifestam-se, as pessoas boas (e os países bons) deixam-se espoliar.

Constituição da República Portuguesa Artigo 21.º
Direito de resistência

Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.

09 dezembro 2011

convite&desafio- Poema: Re-volver poema 1.1 Lilian

RE-VOLVER 

No peito-húmus, 
um músculo ávido de palavras. 
Revolver a terra, 
adubo em gotas, 
versos irrigados. 

O verbo cala, 
o solo seca, 
racha-se a criança - 
migalha de pão dormido. 

Fome e chão, 
pisa descalça 
em brasas da indiferença. 
Pele e sangue ressequidos, 
aridez de lágrima, 
espinho e barro 
a maquiar a pele, 
manchas de verde e amarelo. 

Chora a pátria, 
pétrea de matas pálidas, 
alopecia de cores, 
extensas clareiras. 

Terra vermelha 
coberta do pó, 
rugas no mapa, 
pistas de pouso - 
Clan-destinos. 

Onde o branco, 
a pureza, 
a promessa? 

Traída a terra, 
ouro de tolo, 
sorriso de icterícia, 
parcos dentes 
de mastigar solidão. 

Céu de anil, 
nuvens sanitárias, 
homem esquálido 
a plantar pesticida. 

Traída a terra, 
clamor rouco e abafado, 
fumaça dos charutos cubanos, 
pendurados nas bocas patronais, 
sem lei e sem letra. 

Traída, 
a terra lamenta por seus filhos, 
amamentados de esmola, 
de enteados cuspindo confeitos, 
mordendo, 
com presas de ouro, 
o amanhã e a decência. 

Traída a terra. 
Punhal enterrado no seio, 
mãe órfã de rebento raquítico. 
Abre-se a fenda, 
engole o que resta: 
homem e praga, 
riso e lágrima, 
orgulho e carbono. 

Num futuro fóssil, 
tropical tupiniquim, 
semear e colher... 
Milagre! 
Lílian Maial 

07 dezembro 2011

Novos contributos - Poema/convite e desafio

6.
Ouço o som do desencantamento

ouço o som do desencantamento
a crescer, a encher-me os ouvidos,
a estalar, a subir pela boca,
a atingir o cérebro em pressão
e incandescência ao ponto da loucura

ouço o som do desencantamento
que em mim começa
e em mim existe
por permitir
                 a infância
                 o amor
                 a esperança

ouço o som do desencantamento
sinto-lhe o gosto sempre a seco 
na boca
árida de palavras

ouço o som surdo do vosso desencantamento
vejo-o rebentar nas pupilas abertas
em explosões de luz e som.

O desencantamento
|o meu e o vosso|
têm pontos comuns

sinto-lhe o gosto que detesto    

 Conceição Paulino,
 in O meu País é um Sonho Sonhado,
No, la pintura no está hecha para decorar las habitaciones. Es un instrumento de guerra ofensivo y defensivo contra el enemigo. ("Não, a pintura não está feita para decorar casas. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo.")
Cquote2.svg
 Pablo Picasso, sobreGuernica




Delírio
Cada dia que passa, o mundo é mais pequeno.

As notícias que chegam, desnudam as misérias paridas pelo incensado avanço duma civilização que se reclama, aos quatro ventos, dos direitos humanos.
A civilização que, num frenético leilão, compra e vende consciências.
A civilização que avilta a dignidade em chás de caridade e em paradas de pompa e circunstância.
Ah, e como as pantalhas de todas as latitudes disputam, como as feras, a presa indefesa, em ações concertadas de eficaz e paciente anestesia!
Ah, e como a presa indefesa e quase inerme voga na corrente dum recuperado Hades, donde foi banido Caronte e a sua barca!...


É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender, cada vez a preços mais acessíveis, as manhãs sem sol, o mar sem vida nem aventura, a desgraça sem fim da desesperança!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender o elixir da alienação, para, mais e mais, ser garantida a ostentação dos poderosos!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender as lotarias que fazem um rico e desesperam milhões de pobres!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender balelas coloridas que distraiam o dia sem fim e torturam de sonhos a noite da vida!

É preciso lamentar! É urgente lamentar! É inadiável lamentar o luto dos sobreviventes da catástrofe!

É preciso chorar! É urgente chorar! É inadiável chorar o pranto continuado das carpideiras que, por trinta dinheiros, elegem heróis os mortos, os mortos que já nada podem reclamar aos vendedores de ilusões e mentiras e aos carcereiros desta penitenciária de segurança provada, que pretende a fuga impossível e a morte o alívio que resta!

É preciso calar! É urgente calar! É inadiável calar os gritos lancinantes dos condenados!

É preciso calar! É urgente calar! É inadiável calar as verdades alucinadas da loucura que ainda grita que o rei vai nu na força da vontade que recusa render-se!

É preciso incensar o Poder! É urgente incensar o Poder! É inadiável incensar o Poder que legitima as cruzes intemporais de todos os calvários!

É preciso regressar a Roma! É urgente regressar a Roma! É inadiável regressar a Roma e recrucificar todos os perigosos malvados que sabem conjugar o verbo em todos os tempos.
 Gabriel de Fochem

Viana de Fochem
Julho de 2010

06 dezembro 2011

2 novos poemas/Desafio& Convite

5.

No cais da solidão

A chaga aberta dói e sangra tanto,
ainda que no tempo passem anos!...
Do chão do nada, a custo já levanto
a safra de aflições e desenganos.

No peito, o coração, teimando, bate!...
Teimando, bate, bate, e não se cansa!
Nem dor nem desalento o sonho abate
dos cravos desta pátria em esperança!...

Dos fastos e desastres, a memória
de um povo erguendo a pátria à dimensão
da gesta humana em páginas de História!...

E neste cais de outono e solidão,
que fado nos impede agora a glória
de ousar no pátrio chão mais um padrão?






4.

porque habitamos este corpo
    que sangra
    que agride
    que esfola

porque olhamos e deixamo-nos olhar
     sem que o outro perceba
     sem que o outro compreenda
     sem que o toque se vivencie

porque lutamos e deixamo-nos morrer
     sem que o país viva
     sem que o país seja nosso
     sem que haja presente que nos possa

engrandecer.

05 dezembro 2011

RECUSA: 1º poema em resposta ao desafio-convite

Recusa


Recuso ser, na noite, a sombra que desenha
a angústia indefinida e fria deste cais.
O que tiver de vir, se mais houver, que venha,
MostrengoAdamastor e Fim do Nunca Mais!

O leme se quebrou. Ao vento, as rotas velas
ensaiam os sinais das barcas à deriva.
Que velhas perdições?! Na consciência delas,
assombram predições doendo em carne viva.

Que venham os pinhais gritar o desafio
do tempo por haver que acena o amanhecer
além deste torpor indefinido e frio!

Que venha a tentação sortílega tecer,
com arte e com engenho, o já lendário fio
da espera que germina um novo acontecer!...