Neruda que me desculpe o plágio, mas a frase surge tão natural como o acto de viver e dele decorre, não podendo, neste momento, dizê-lo de outra forma. Usar outra expressão.
Porque VIVI. Vivi intensamente até aqui, o que não significa que deixar de o fazer.
Contrariamente à larga maioria de pessoas, VIVI!
Não me limitei a sobreviver.
Ainda que, para muitas pessoas este “sobreviver” implique dinheiro, estatuto social e férias em estâncias de moda. Mas tudo cheira a mofo, a cópia, ou rascunho de modelos socialmente aceites e significativos símbolos de sucesso que funcionam como moeda de aceitação em determinados meios, ou PARA…
Vivi! Vivi intensamente.
Tudo o que fiz foi com paixão, intensidade e verdade pessoal intransmissível. Não cópia, não modelo de/para aceitação, reconhecimento ou proveito próprio.
Como diz o velho ditado - qual foi o escritor que o disse?
Plantei árvores.
Fiz filhas – assim saíram – Mulheres. E delas me orgulho. Muito.
Escrevi livros; intervim social e politicamente – quando acreditei na mudança do modo de fazer política – do paradigma de intervenção política. Quando me apercebi que o novo era o velho, travestido, afastei-me.
Desisti de exercer o meu direito de interventora política enquanto tal – agente política – mas não todos os de cidadania interventora e passiva (afinal votar é passivo q.b) e o exercício à indignação e à acção.
Fui amada e amei intensa e inteira de uma forma por poucos vivenciada.
E porque faço hoje este acto de contrição, esta confissão, coisa a que tão avessa sou?
Por causa da palavra “balanço” de fim de ano.
De balanço reprojectando intenções e projectos não cumpridos para o novo ano que aparece em revistas e jornais cada vez que um ano chega ao fim.
Não costumo fazer balanços nesta época. Faço-os quando deles sinto necessidade.
Faço-os no dia em que nasci, em que o mundo físico se tornou real e esta minha caminhada se iniciou. Aí sim, simultaneamente, acabo e começo um ano.
E faço-o também porque hoje a última das duas filhas que não via há um exacto ano, voltou a partir.
E aí, a mãe, animal e fera que sou, contra o contrário da pacifista activa do dia-a-dia - de todas as provocações e até agressões - quando fareja ameaça, desconforto, dor causada ou sente o perigo, sob qualquer forma rondar as crias (neta incluída), mantêm-se acordada, atenta e em vigília. Pronta a atacar e defendê-las, mas simultaneamente peada pelas próprias e o seu inalienável direito à autonomia e autodeterminação e ao respeito que por elas nutro.
Ao direito de exercerem as suas opções no exacto momento que escolherem, independentemente do sofrimento que acumularem ao longo do processo e pelo meio.
E quando esta impotência – que o é. Porque deixa de ser um puro acto de amor, deixa também de ser um acto racional antes puro instinto de animal – me assola, muitas coisas me vêm à cabeça, se projectam e correm nela, velozes, síncronas e assíncronas.
E hoje expressaram-se nestas palavras que vos deixo e na certeza de que enquanto continuar a respirar continuarei a…VIVER e que, como os chaparros do meu amado Alentejo, resistirei. Resistiremos. Por isso reafirmo: CONFESSO QUE VIVI!
Porque só assim poderei um dia morrer. Poderei morrer porque VIVI!