07 março 2005



A MINHA RUA

A MINHA RUA, de facto, não é minha. É de todos e de todas que nela moram, por ela passam ou passaram e com ela criaram laços.
A “minha rua” é a rua onde moro! Mas podia ser outra.

Há três ruas que me pertencem
. Nelas passei partes significativas da vida, nelas deixei partes de mim. Verdade se diga que delas guardo um conjunto de memórias, mais boas que ruins.

Esta minha rua, a de agora, é uma rua aldeã.
Bem no centro da cidade, parece que os ruídos ficam interditados e nela não entram. Ao lado correm ruas de grande trânsito. Esta, recôndita no coração da malha urbana, é uma rua de silêncios, de cantos matinais de galos, de cumprimentos alvoroçados de cães ao romper da alva, para se recolherem depois ao silêncio que a toma, de pipilares de pardais na madrugada.
É uma rua feita de sons onde o silêncio reina.


Nesta rua, por esta rua, as minhas filhas brincaram e cresceram. Aqui moram muitas pessoas, a maior parte das quais já aqui nasceu, e outras já aqui moravam quando cheguei.
É uma rua pacata, de vizinhança, com conta e medida.

As senhoras, como no tempo da minha infância, passam muito tempo nas janelas, tricotando, crochetando, observando, falando com quem lhes dá dois dedos de conversa...
Actualizam o jornal da caserna, mas sem maldade.
Uma pequena curiosidade que lhes ilumina, muitas vezes, o dia.

Nesta rua as minhas filhas brincaram, correram, saltaram, riram - brincaram sem cuidados de maior que o de estarem atentas ao trânsito - viveram os seus primeiros amores, choraram as primeiras lágrimas de desencantos....
É uma rua pacífica e mansa, mas vigilante.

Passo e aceno às senhoras nas janelas.
Recebo de volta outro aceno e outro sorriso :-)

Assim se vão fazendo os dias. Tricotados entre silêncios e pequenas cumplicidades.

As filhas têm agora outras ruas que também são delas, mas esta reconhece-as.
Sempre que a ela voltam!

Das amizades de infância, poucas aqui moram Como elas, partiram para outros voos.
Poucos, mas infelizmente demais, perderam-se nos caminhos da vida e cumpriram a vã glória de morrer belos e jovens.

As minhas três lindas filhas
continuam a crescer e a envelhecer o que me enche de alegria doce e tranquila.
A rua, que, sendo de todas, é tão minha, abre-se aos silêncios que permitem às almas encontrar-se.
Desenrola-se em murmúrios que acompanham o fluir dos dias e dos tempos.
Gosto da minha rua que, sendo uma rua aldeã, é uma rua solidária por onde as memórias ficam inscritas e se renovam a cada manhã.

18 comentários:

Anónimo disse...

A sua rua ganhou um encanto especial ao ser partilhada e contada por si.
Afinal, não tinha percebido mas gosto muito da sua rua, que por momentos desejei que fosse minha.
Bjs
B.L.

Anónimo disse...

Partilhaste a tua rua...
agora ela é um bocadinho de todos paa além de tua :) **

Anónimo disse...

Vago nas linhas da tua rua, onde
encontra beleza e pureza. A trajetória dos escritos e da fraternidade. Beijo de segunda!

Daniel Aladiah disse...

Querida TMara
Ah, as velhas ruas aldeãs das nossas cidades. Já tive muitas ruas, mas o que me marcou foi uma praça... o encanto de ver um mercado de peixe e legumes em pleno centro da cidade...
Um beijo
Daniel

Conceição Paulino disse...

B.L :) B'dia! verdade? Oh k bom se assim foi. Bjs e ;) para toda a semana.

Conceição Paulino disse...

Lana :) a ideia era essa. Fico feliz se a concretizei.Bjs e ;)

Conceição Paulino disse...

o cavaleiro :) B'dia cavaleiro. Ouvi um tropel ontem à noite! pensei se serias tu passando a galope pela minha rua. Pelos vistos. plagiando ....beijo de terça e ;)

Conceição Paulino disse...

daniel aladiah :) acredito. É um anacronismo. O inusitado marca, à partida, depois, o colorido e avida da praça deviam ser coisa digna de se ver. Bjs e ;)

Anónimo disse...

algumas pessoas apenas moram, caminham, vão para o trabalho, voltam. você, embora faça tudo isso, derrama por onde passa o seu olhar amoroso. e vê além da aparência. e ainda escreve de forma emocionante. estou até querendo me mudar para sua rua. Beijos, carinho.

Anónimo disse...

Tenho a sorte de morar, também,numa rua assim...Adorei a tua descrição. Beijinho :)

Anónimo disse...

Linda imagem de uma rua, que traz momento de sensibilidade tão bonitos. Gostei. Abraço :-)

Conceição Paulino disse...

adéliatheresacampos :)há muitas formas de viver. Esta é aminha e penso k a de muitas de nós. Bj e bom resto de semana. ;)

Conceição Paulino disse...

cinda:) então sabes bem do k falo. Há um grande encanto numa rua aldeã, não há? Bjs e ;)

Conceição Paulino disse...

menina_marota :-) vivo numa rua com sensibilidade, limito-me a vivê-la. Partilho-a contigo desta forma. Bjs e ;)

Anónimo disse...

TMara, rua linda a sua! Beijocas!

Laura Antunes disse...

Como é bom termos o "nosso" sitio e estarmos bem...Abraço Laura

Emilia Miranda disse...

Olá TMara:
Esta semana está algo complicada pelo que o tempo tem sido muito escasso. Não queremos no entanto deixar de agradecer a visita e as palavras de incentivo.
Um abraço meu e dos netescritores.
Emília.

Anónimo disse...

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