31 março 2005

Preciso


(nerevepas)
Hoje deixo-vos com um lindo poema da minha filhot'Alexis
  • e no blog dela (clica-lhe atrás, no nome) poderão ler outros textos.
    Preciso
    de ser abraçada com força
    para poder desfazer todas as minhas mágoas.

    Chorar até a alma se rasgar
    deixando sair toda a dor
    que me está a matar......

    e ter esse alguéma apertar-me
    para não deixar fugir nenhum pedacinho
    e permitir remendar-me.


    30 março 2005

    Hoje as nossas almas rejubilam


    Hoje as nossas almas rejubilam e as nossas casas estão em festa.
    É natal nas nossas vidas.
    Faz nove anos que a Inês entrou nelas.
    Longa vida, muita luz e amor, muita serenidade para ultrapassar os obstáculos fazendo de cada pedra um degrau e não um tropeço. Eis os meus votos para ela. Para aminha muito amada neta.
    Inês, bem hajas por teres entrado em nossas vidas, enriquecendo-as.

    29 março 2005

    Ser Humano

    AQUI TÃO PERTO.....SOLIDARIEDADE PRECISA-SE
    para o Tiago (de 5 meses )

    Transplante de Medula
    Um bebé de cinco meses residente em Vila Nova de Anha, Viana do Castelo, precisa de um transplante da medula óssea devido a um problema que os especialistas consideram ser "muito pouco comum" naquela idade.
    O ser humano em causa é o Tiago, um bébé lindo que precisa urgentemente de um transplante de medula.
    O Tiago nasceu a 8 de Outubro de 2004 e, passados dois ou três meses, "começou a vomitar tudo o que ingeria", (...) encaminhado para o Hospital Pediátrico D. Maria Pia, no Porto, onde, (...) lhe foi diagnosticada uma anomalia na medula, que
    impede a normal produção de glóbulos brancos.

    No dia 7 de Abril irá sujeitar-se a uma operação, em Paris, mas os dadores foram os pais e teme-se que seja rejeitado, pois a compatibilidade, a existir, é de cerca de 50%.
    Entretanto, e para a eventualidade de esta primeira tentativa fracassar, está já a decorrer na região uma campanha de recolha de possíveis doadores de medula óssea para o Tiago, prevendo-se para breve a deslocação a Viana do Castelo de uma equipa do Centro de Histocompatibilidade do Norte para a realização das análises ao sangue.

    Doadores da mesma região têm mais hipóteses

    (...) as hipóteses são maiores quando os potenciais doadores são da mesma região do paciente, onde podem ser encontrados laços de consanguinidade.

    A medula é (...) essencialmente, o órgão produtor das células sanguíneas, entre as quais as brancas, cuja função é proteger o organismo contra infecções, atacando e destruindo os germes.

    "Se o organismo não tiver células brancas a funcionar, uma simples constipação ou outra qualquer infecção corriqueira pode ser fatal"(:::)
    .
    Toda a movimentação de solidariedade em torno de mais este caso será porventura de grande esperança para o Tiago.
    Para mais informações vai a Ser Humano

    Imobilidade


    Corpo jacente (técnica mista por TMara)

    Imóvel! Imóvel estava a mulher deitada, na cama, às escuras no quarto.
    A imobilidade era aparente pois só o corpo se não movia. Nem a respiração se apercebia.
    Por dentro dela, na alma, nela, o tumulto era total. Tudo se agitava em desassossego, em dor.

    A seu lado, indiferente ao que lhe ia na alma, dormindo um sono tumultuado por sonhos e conversas interminavelmente ciciadas, o companheiro.
    Naquele quarto nada era o que parecia. A imobilidade da mulher era só aparente, só física. Do corpo! A escuridão não o era porque pela janela aberta entrava suficiente luz dos candeeiros de iluminação da rua; o silêncio não existia porque os ruídos na alma dela lembravam o assustador e destruidor barulho de um violento sismo e os sonhos murmurados dele enchiam a noite, mexendo com os nervos já em franja da mulher deitada quieta, imóvel, duma imobilidade aparentando a morte. Aparentemente quieta. Uma turbulenta quietude.

    Dos olhos da mulher escorriam grossas lágrimas, enquanto soluços de pedra lhe ribombavam, num silêncio total, no peito, esmagando-o com dores.
    Estava zangada.
    A mulher estava zangada e essa zanga fazia-lhe mal. Sentia-a a alastrar por ela, como ervas daninhas num jardim, destruindo tudo de belo à sua volta. Sabia porque estava assim, não queria estar assim, sabia que não importava nem adiantava tal estado de espírito mas ele apossara-se dela de uma forma insidiosa e persistente, como parasita, e não o conseguia extirpar.

    Ela não queria estar zangada.
    Nunca vale a pena zangarmo-nos com a vida, sabia-o!
    Melhor ir com a onda, surfar nela e aprender a lição desse momento.
    Sabia tudo isso, mas a zanga, dentro dela, persistia e ela rebelava-se, ordenava-lhe que saísse, mas ela voltava, secreta, insidiosamente, tal animal que se alimenta do sangue, sugando-o. Sugando-a! Era a alma que lhe era sugada.

    A mulher queria acordar como seu sorriso de bons-dias ao mundo. Aquietado e sereno o coração.
    Não queria mais ver o sorriso a estiolar-lhe nos lábios, tal flor, violenta e prematuramente arrancada.

    O homem dormia, num sonho frenético, como todos os seus sonhos, enquanto a seu lado a mulher chorando, imóvel, lutava ferozmente uma das mais duras batalhas da sua vida decidida a não soçobrar.

    Queria fazer as pazes com a vida. Queria estar em paz com a vida.

    27 março 2005

    ALELUIA

    ALELUIA

    Não foi milagre ressurgir, Senhor,

    Num dia natural de primavera.

    Tudo ressurge quando tem calor.

    É por calor que toda a gente espera.

    Milagre era acordar no inverno, era

    Subir da cova frio como a dor,

    E, com neve nas dobras da quimera,

    Mostrar a Madalena a carne em flor.

    Contra a seiva da vida e a sua lei

    É que valia a pena demonstrar...

    Viver dentro da morte é que era um salto!

    Assim, vejo-te apenas como sei;

    Um corpo que parou de levedar,

    E veio à tona ver o céu mais alto.

    Miguel Torga

    PÁSCOA FELIZ


    26 março 2005

    Animação com areia


    Chegou-me este maravilhoso vídeo de "Animação com Areia".
    É um pouco longo, disponham de uns minutos e vão ficar encantados como as crianças . A magia na ponta dos dedos, com algo tão etéreo como a areia e o movimento. Afinal como toda a beleza.
    Ora vejam:

    25 março 2005

    Para a semana a Inês faz 9 anos

    Para a semana, a Inês faz 9 anos!
    E esta é uma laranja da laranjeira que tem a mesma idade e que lhe ofereci e plantámos no seu primeiro aniversário.

    Ontem ela trouxe-me esta laranja,.Enorme e linda, da sua árvore!

    E a minha "filhot'Alexis


    voltou a escrever no seu blog. (Clica no nome dela e vai até fazer uma breve visita).

    Poderá alguém querer algo melhor na Páscoa? Eu não!

    FELIZ PÁSCOA

    (para todas e todos)

    :)

    24 março 2005

    Puro contentamento cintilando


    A minha rua tem coisas...

    ...belas, mas estranhas. Como esta, de dois sisudos anciãos virem caminhando, pelo meio da dita, não pelos passeios, semeando bagos de milho enquanto um bando de pombas os seguia, em fila.
    Depenicando gulosas.

    Os olhos riam-se-lhes mais do que as bocas.
    Dos sisudos, mas simpaticamente educados, vizinhos, nada restava.
    Em seu lugar, estavam dois putos, felizes, soltos e traquinas, com a consciência de estarem subvertendo algo e que essa transgressão lhes estava dando muito gozo, muita alegria.

    Uma alegria vibrava em toda a rua, deles emanando.
    Pareciam o Flautista de Hamelin, só que em vez de ratos eram pombas,
    que os seguiam. Passo a passo! Bago a bago!

    Puro contentamento cintilando.



    Foto por TMara

    Há concurso de blogs
    "naBlogosfera" vai até lá e conhece muitos outros blogs.
    Um destes dias este blog tambem estará votos.

    Vamo-nos vendo por aí, pelas planícies, pelos bosques, pelas florestas e serranias, pelas orlas marítimas, sempre bem recebidos em todas as casas podendo disfrutar das mesmas e do seu recheio, que lá é deixado, expressamente para as visitas, nós.

    Aqui, nesta minha casa, na costa Vicentina, deixo-vos, para além do mar, doce de amora brava, gelado de camarinhas, biscoitos de gengibre e água sempre fresca numa enfusa.
    Há frutas para todos os gostos e também cervejas frescas.

    Não se esqueçam de fazer novas amizades,mesmo que virtuais.
    Se quiseres aprender algo sobre Reiki e técnicas de relaxação vai até ao blog "da filhot'Ana Doce "

    23 março 2005

    Ai as pedras e as pedrinhas.....


    Ai aS PeDrAs & aS pEdrInHaS....

    Confesso!

    Sou uma viciada em zapping!

    Com comando na mão sou pior do que um homem - são eles que têm a fama não é?

    Mas tal só acontece nos intervalos dos programas que estiver vendo.

    E não paro enquanto "cair" em canais que estejam a passar publicidade. Dá-me uma fúria e zapp, e zapp, e mais zapp, até encontrar algo que não seja.... publicidade.

    Claro está que acabo vendo uns bocados (da dita cuja) aqui e outros ali, dado o televisor não ter temporizador que me indique o momento exacto em que devo retornar ao programa de origem.

    Nos últimos dias ESBARRO num anúncio da TMN. O telemóvel chama-se: "CRAVA!" e destina-se ao grupo alvo: jovens.

    Ora crava o pai, ora crava a mãe, ora volta a cravar o pai, crava os avós....Crava todos os que puder...!

    VIVA A SOCIEDADE DO CRAVANÇO!

    Só digo: em termos de valores, "melhor" não poderia ser!

    Depois espera-se que tenhamos uma população responsável e com altos padrões de cidadania....

    BOM! "Tá-se" mesmo a ver...

    MUDANDO DE ASSUNTO

    Num mundo de desperdícios vários da água, uso excessivo e descontrolado, poluição, etc, (por isso as pedrinhas acima não tem nem gota...) comemora-se o dia da ÀGUA.

    Se queres saber como é que TU te comportas, o uso ou abuso que dela fazes vai aqui
    "Água, bem precioso" e faz o teste.

    P.S -esqueci de dizer que tirei o link do teste sobre a água da "Fabi"


    22 março 2005

    A mulher esconde-se na sombra (parte 2)


    A MULHER ESCONDE-SE NA SOMBRA (2ª Parte)

    As memórias não são uma ausência. Não se lhe obliterou a vida passada, pelo menos partes dela. Há uma memória de coisas vividas, mas é uma memória racional, só do pensamento, despida de emoções, afinal a parte mais rica destas, ao que se diz e sabe, apesar do grande mistério que o cérebro humano continua sendo.

    Como num flash lembra, visualmente, acontecimentos, breves e rápidos momentos. Sabe que é ela a protagonista. Vê-se fazendo as coisas, assiste impávida, como quem tem breves lampejos de filmes vistos e de que se guarda memória. Nada mais do que isso. De todo o passado só estes clarões, despojados de emoções, a afloram. Emoção mesmo, só a sente quando pensa nos pais. Quando pensa no momento em que os perdeu. Foi como se se tivesse perdido também.

    Vemo-la levantar os ombros, antes levemente arqueados, levar a mão direita à testa enquanto ergue ligeiramente o rosto. Algo diferente lhe ilumina a face.

    “Emoção mesmo, só a sente quando pensa...” É esta a palavra-chave.
    Mais uma vez o pensar em vez do sentir, quando as memórias são o campo dos afectos, positivos ou negativos, do real imaginado, filtrado e reconstituído vezes sem conta...., mas sempre no domínio das emoções. Algo está mal com ela, pois que pensa as memórias. Não as sente, não se lhe impõem. São imagens que podiam pertencer à vida de qualquer pessoa, frias, impessoais.

    Um estremecimento, como que de frio, percorre-a. Vemos bem o tremor que a agita. Retira os óculos. As sobrancelhas ligeiramente cerradas denotam dúvida, preocupação, interrogação!



    21 março 2005

    Bom dia Primavera!


    Bom dia Primavera!
    Chegaste! Como sempre benvinda!
    Desta vez trouxeste, no vento e nas núvens, uma promessa de águas!
    Se, contigo, sempre a vida recomeça em todo o seu esplendor, o melhor que hoje nos podias dar, foi o que trouxeste.
    Que seja uma Primavera de esperança.
    Um poema oferto a todos que por esta casa passarem:
    ONDE quer que estejas
    (encontrar-me-ás).
    Encontrarás o meu rastro.
    Como fumo de incenso
    levado pelo vento.
    Vás para onde fores
    o vento encontrar-te-á.
    Irei ele.
    Com ele.
    Fundir-me-ei contigo
    porque me inalarás
    no ar que respiras.
    Por TMara; in FALAR MULHER (69)


    20 março 2005

    1000 pessoas por uma vida


    (By: Alma-Tadema)

    Ser Humano
    «Ser solidário ou somente generoso não é vergonha. A tua história, o teu exemplo pode fazer a diferença. Pode tocar alguém. Mesmo que seja só uma pessoa fará toda a diferença. Ser Humano não é vergonha.
    Sábado Março 19, 2005
    1000 PESSOAS POR UMA VIDA
    Hoje no Ameal (Torres Vedras) compareceram mais de 1.000 pessoas para fazer os testes para doação de medúla óssea.Mais 1.000 possibilidades para a Beatriz e para tantas outras pessoas.Houve quem esperasse 4 horas pela sua vez. Houve quem ficasse à porta, não por falta de vontade, mas por falta de material.A adesão foi tal que vão marcar nova colheita. Logo que eu saiba a nova data, aviso.Tive a oportunidade de falar com o Pai da Beatriz. Penso que nem ele esperava esta adesão em massa. Ainda não se tem a certeza se a pequena Beatriz vai mesmo precisar de do transplante, mas como os resultados demoram 2 meses, se ela precisar pode ser muito tempo.Combinei com o Pai da Beatriz, fazer-lhe chegar uma impressão de todos os blogs que divulgaram esta acção, bem como comentários que tenham sido feitos. Não por querermos algo em troca, mas porque para os Pais da Beatriz qualquer sinal de boa vontade, qualquer apoio é importante.Que eu tenha conhecimento, os blogs que contribuiram foram:
    1 Bica, A Barca da Lyra, AiRoNiK aTTiTuDe, Alamut, Além Tejo, Azenhas do Mar, Canto dos Bloqueados, É a Viding, Em Alta, Estranhos Dias e Corpo de Delito, Eternamente Menina, Loucuras do Dia a Dia, Manteiguinhas, Menina do Pacote de Leite, O Novo Café, O Vizinho, Olho Bem aberto, Para mim?!...Obrigada!, Poderosas & Vitaminadas, Santa Cita, SolidariedadeBlog, Testar a Vida , Tijolices, Virtualmente Manos, You've Got Mail.Se souberes de mais algum que não esteja aqui, avisa.Se tiveres algum comentário, alguma mensagem para os Pais da Beatriz, deixa-a aqui. No próximo fim de semana, tudo chegará às mãos desta corajosa familia.Vamos ajudar da forma que pudermos quer seja indo à nova colheita ou a um dos Centros de Histocompatibilidade (Coimbra, Lisboa, Porto) ou mandando uma mensagem de Amor para eles.Divulga este post, se puderes. As pessoas precisam saber que podemos mudar o mundo começando pelo nosso vizinho.Porque ser humano não é vergonha. »

    Post retirado do blog: "SER HUMANO" - «http://serhumano.blog.com/»

    19 março 2005

    A mulher esconde-se na sombra


    (Girl with Tambourine, by Burne-Jones)

    A mulher esconde-se na sombra

    A mulher, sentada na esplanada à beira do rio, esconde-se na sombra do chapéu e dos óculos de sol.
    O sol, ainda nascente, bate-lhe nas costas, enquanto o rosto se encontra virado para as águas do rio. Não saberemos dizer se as observa, dado que as lentes, escuras e vidradas, não permitem o mais pequeno vislumbre dos seus olhos.
    É observada, mas nem repara.
    Isso não lhe importa. Está mergulhada em pensamentos. Nos pensamentos de toda uma vida. A sua.
    Sabe que entrou no que designam por recta descendente, passados os sessenta há muito, e a fazer setenta.
    Viveu bem. Pelo menos foi razoavelmente feliz e preenchida sem grandes crises existenciais como aconteceu com algumas conhecidas suas.
    Só agora se detém a olhar a vida vivida, a pensar nela e sobre ela. A procurar os porquês, os grandes objectivos. E tudo isto porque de súbito acordou com uma estranha sensação, nunca pressentida, tão pouco anunciada de não saber muito bem como vivera, de que vivera meio dormente, que a existência que levara fora entorpecida. Mas entorpecida porquê? De onde lhe veio, sem anúncio, esta estranha sensação que a pôs a questionar-se, a questionar tudo?
    Sabe que foi menina e moça, mas não lembra realmente essa existência, que todos sabemos ser determinante para nos moldar enquanto seres humanos. A existência que a moldou, que a levou a fazer as escolhas que fez, a seguir os rumos que seguiu, os sonhos que viveu e os que protelou. Sempre por decisão sua. Disso vivera convicta até há dois dias atrás quando ao acordar tudo era dúvida, questão, interrogação na sua mente.

    (continua...)

    18 março 2005


    (Venus, by: Astarti Rosseti)

    No céu, a curva
    lâmina brilhante,
    navega.

    Nela me deito
    a olhar a terra
    de águas quase coberta.

    A lâmina, macio colchão,
    afaz-se à curva
    do meu corpo.

    Afaga-me, no ninho
    em que me envolve.

    Lá em baixo, na terra,
    uma mulher
    olha-nos
    espantada.

    Por TMara, In: FALAR MULHER:65

    17 março 2005

    Caminho na "rede" ao vosso encontro....


    Caminho na "rede", ao vosso encontro...

    Entro em vossas casas e
    leio as palavras e os indícios
    que semearam
    para caminhantes como eu.


    Quero deixar o meu "olá"

    mas alguém tirou todas

    as canetas, lápis e papel.

    Tento rabiscar nas paredes,

    mas nada fica, de mim

    para vós.

    Talvez o sopro

    da minha presença

    permaneça.

    N:B -Esta a minha forma de dizer obrigada a todas e todos que por aqui passaram e comentaram deixando uma palavra de carinho, bem como às e aos outro k vieram silenciosos.Como eu nas vossas casas. Não consigo abrir os meus comentários nem os de muitos de vós. Bem Hajam.



    A Terra, nosso planeta!


    Como é bela a Terra. Cuidemos de não dar cabo dela!

    Até na escuridão da noite podemos perceber as assimetrias no desenvolvimento planetário.

    Uns (países) parecem uma árvore de Natal, outros ......

    Cuidemos deste nosso belo planeta, de todos os seus habitantes (humanos e não humanos) e de o perservar .

    A ver se ainda vamos a tempo........

    Lembremos que não nos pertence. "Herdámo-lo" dos nossos netos!


    16 março 2005

    IN MEMORIAM


    Para a Alzira

    A minha amiga Alzira foi ontem a enterrar depois de violentamente assassinada a tiro.

    Para além da dor, a zanga, a fúria por toda esta violência gratuíta apossou-se de mim.

    Não vos sei falar dela, não de momento, e gostaria, quereria fazê-lo.

    Era uma alma boa, limpída e solidária. Era uma pessoa meiga e doce, mas havia sempre nela uma sombra de tristeza. Lá, ao fundo do olhar.

    Deixo este poema em sua memória:

    Caminha no vento

    a rapariga.

    Esguia e breve

    metamorfose

    do ser.

    Caminha no vento e ri.

    Soltos os movimentos

    tanto

    antes contidos.

    P.S - ontem não consegui postar, deixei só as flores. Deixo-as hoje para não eliminar a solidariedade lá expressa.Obrigada Eduardo, obrigada Lana. Beijos para vocês.


    POR UM VIDA

    «POR UMA VIDA

    Na Rádio Oásis, ouvi hoje o apelo da Mãe da Beatriz para irmos, no dia 19 de Março, ao
    Amial (Torres Vedras) fazer testes para doação de medúla óssea. A pequena Beatriz tem 4 anos e tem leucemia e pode vir a precisar da tua ajuda.Dessa colheita pode, também, sair um doador para alguém que ames.Dia 19 é o Dia do Pai, um lindo dia para salvar uma vida.P.S. Requisitos básicos para ser doador de medúla óssea:- Ter mais de 18 anos e menos de 45.- Pesar mais de 50 Kg- Não sofrer de doenças crónicasEstará presente um médico para esclarecer quaisquer dúvidas.Para mais informações podem consultar tbm este site

    Texto retirado do site «http://serhumano.blog.com»


    14 março 2005

    TOU NA M****




    AVISO AOS NAVEGADORES, AOS SURFISTAS E AOS MIRONES, BEM COMO A TODAS AS OUTRAS CATEGORIAS.
    (Tou na m****)
    Ou estamos! Eu eos PC's.
    Há três dias k n/ tenho internet (o post anterior foi colocado sob risco total, num PC com defice de antivírus) e, para além disso outros problemas acoplados.
    Resolvi alguns neste, o decano velhinho das barbas brancas, mas continua a não funcionar em pleno.
    Há "casas" vossas que visito e onde QUERO deixar comentário. Digo QUERO pois é uma intenção que se não concretiza: ou dá erro ou diz que não encontra a página (depois de estar nela, abrir e escrever o comentário:::!).
    Aqui fica o aviso das minhas desgraças informáticas apelando a vossa compreeensão (estou a treinar para umas quaisquer eleições....). venham visitar-me sempre que possam. Sistema doente é sistema...carente.
    ADENDA
    Depois de uma volta por algumas casa só posso dizer: "tá tudo marado ( na net, entenda-se)!
    Numas os comentários não ficam ,outras não os aceitam - invocam duas, que o meu e-mail está errado( não estando, mas mudou). O pior para deixar comentários é mesmo este o do meu "VLOG"!
    COMEÇARAM A S VOTAÇÕES
    "na Blogosfera". Ainda não entrei, mas chegará a minha vez (salvo seja, a do blog). Os desatentos, que o não sabiam, ficam informados. Vão até lá e façam a vossa escolha. Desde hoje. É uma forma de conhecer muitos outras casas, seus recantos, jardins e lagos,..., enfim tudo o que elas têm.

    12 março 2005


    Mãe & Criança, by: Bartlett
    FRAGMENTOS

    Viu a mulher entrar no autocarro, carregada com sacos do supermercado. No rosto, uma tranquilidade, cortada por invisíveis linhas que fremiam, tal ondas residuais.

    Eram estranhos os olhos. Olhavam com a abertura e a inocência de uma criança. No entanto uma velada dor coexistia, no mesmo olhar.

    Dificilmente, com tantos volumes nas mãos, passou pela coxia e sentou-se.
    No banco vazio, ao seu lado, pousou alguns dos embrulhos.

    Olhou para o exterior ela janela do lado esquerdo e a sua atenção ficou aí fixada.

    Marta, olhava-a Sentia-lhe o total alheamento. Aquela mulher, pensou, parecia mais jovem do que devia, na realidade, ser.
    Aquele jogo dos contrários, tão fortes e em simultâneo subtis, era um indicador mais precioso do que a aparência lisa, da superfície.

    Marta deixou o pensamento correr solto. Sempre atenta á mulher.

    Numa das paragens entraram muitas pessoas. Uma jovem dirigiu-se para o lugar ao lado da mulher. Teve que insistir, três vezes, solicitando-lhe que retirasse os sacos do banco, tão abstraída esta se encontrava.

    Sorriu timidamente, pediu desculpa e retirou-os. Aninhou-os, o melhor que pode, no espaço dos pés. Não cabiam. Ficou com dois no colo. Maquinalmente as mãos começaram a trabalhar.

    Deu dois nós às orelhas de um dos sacos e os seus dedos começaram suavemente a puxá-las, a dar-lhes forma, movimento e beleza, elaborando um belo laçarote.

    Marta olhava fascinada os dedos da mãe a abrirem os laços de seda que lhe prendiam as tranças e depois, o laçarote grande, ornado de renda inglesa, que lhe prendia o bibe atrás, nas costas.

    Ah, como Marta se sentia bonita e enfeitada com os laçarotes que a mãe abrira – lindas borboletas nela pousadas.

    Olhou-se melhor, no longo espelho do quarto dos pais e viu a mãe, ajoelhada, atenta, a alisar aqui, a encurvar além; enfim, amoldar os laçarotes. A sua mão direita fez um gesto esvoaçante e Marta viu o lindo sorriso da mãe abrir-lhe o rosto, antes tão concentrado, agora totalmente virado para si, enquanto dizia: “já está”.

    Marta, que nunca cessara de observar pelo longo espelho, quer os movimentos ágeis e cuidados da mãe, quer a sua própria imagem, branca, alada, virou-se para esta rindo feliz. Estendeu-lhe alegremente a mão e disse: “vamos, mãezinha”.


    A mulher levantou-se e saiu do autocarro

    By TMara, in: FALAR MULHER (82:84)

    10 março 2005


    Sou moura. Uma moura, encantada há mais de nove séculos.

    Vivo aprisionada no coração da pedra.

    Fui enfeitiçada como castigo, por ordem de meu pai, por amar um infiel! Um cristão!
    Desde então, encerrado no coração do rochedo pulsa o meu.
    Só serei liberta deste cativeiro pela morte, no dia em que o coração da pedra parar de pulsar, a pedra cessar de existir.
    Então terminará meu tormento.

    O coração da pedra é frio e duro. O meu, de carne e sangue, vive oprimido.

    Tal o castigo que meu pai me impôs. Pela eternidade! Por ter amado e fugido com um infiel, o valoroso e meu mui amado Dom Godofredo de Gondar, impiedosamente morto diante de mim.
    Provavelmente desconheciam que as pedras têm um coração, pulsátil como o nosso, mas duro como a pedra. Da mesma matéria feito. E quando digo que é duro não pretendo significar impiedoso ou cruel. Nada disso. É da sua própria matéria, a matéria da pedra. No restante até é gentil. Não se guia por normas iguais às humanas. Tem outras regras, outros valores. Parece pairar acima do bem e do mal, tal como os entendemos, conceitos que nem alcança porque a pedra é tão velha como o planeta, mais velha do que qualquer outra coisa conhecida e rege-se por critérios bem acima do dos mortais, para lá do que consideramos bem ou mal, sendo que tais conceitos são relativos, dependendo de cada cultura e mudando com os tempos. Isto já aprendi aqui.

    No coração da pedra o meu pulsa e bate. Durante séculos chorei muito. Agora não. Olho os acontecimentos de outra forma. Não sei se estou a deixar de ser humana, se fui contaminada pela natureza da pedra...

    As notícias do mundo chegam-me pelos pequenos animais que rastejam e correm pelas frinchas, pelas rachadelas, fissuras que o tempo, as águas infiltradas e estremecimentos vários vão causando ao rochedo.
    Falam-me das mudanças dos tempos, dos hábitos, de tudo o que se move à superfície e que tão diverso é do que conheci.

    Hoje acordei sentindo um doce estremecimento, um afago.
    O coração da pedra vibrando, ou melhor: quase ronronando.

    Os nossos pensamentos estão quase fundidos. Basta-me pensar: “rochedo” e sou invadida pelo seu pensamento, pelo seu sentir.
    Soube então que o dia tinha amanhecido nublado, mas com um vento morno e afagante que deslizava mansamente à superfície do rochedo fazendo-o arquear o lombo, a superfície exposta, como gato pedindo mais carícias.
    Por dentro, uma vibração percorria-o e sentia-se uma brisa morna e perfumada a correr-nos os corpos.

    Mentalmente espreguicei-me. Senti a brisa no rosto, a acariciar-me, a brincar com os meus cabelos, levantando-os num bailado e deslizando-me terna pelos ombros. Fez-
    -me lembrar as mãos do meu amor.

    As fissuras do rochedo enchem-se com esta brisa que o percorre de forma vivificante.
    Com ela viajam os ruídos do mundo lá em cima. Ouço o pipilar dos pássaros, vozes, sussurros e cânticos que não entendo, mas que são agradáveis de ouvir.

    Se ao menos meu pai nos tivesse castigado de igual forma Dom Godofredo estaria aqui comigo, faria parte das memórias deste local, o seu coração pulsaria a par do meu, inscritos ambos no coração de pedra do rochedo.

    Assim, perdido no tempo, só eu e o rochedo, que o conhece através de mim, dele guardamos memórias.


    09 março 2005

    Se pudesse ser outro animal, para além deste que sou, seria um golfinho.
    A miragem: perder-me e achar-me nos vastos oceanos; navegar por eles sem temor, em folguedos solidários .
    Lembro os roazes do Sado, em bandos que povoavam a minha infância.
    A melhor parte da ida a Lisboa ou a Setúbal era sempre essa.
    Os golfinhos, seres marinhos.
    Declarações que a carpa, o tubarão e o golfinho fazem para si mesmos:

    · "Sou uma carpa na escassez. Em virtude dessa crença, não espero jamais do aprendizado e da responsabilidade permanecendo longe deles, eu geralmente me sacrifico".

    · "Sou um tubarão na escassez. Em razão dessa crença, procuro obter o máximo que posso, sem nenhuma consideração pelos outros. Primeiro, tento vence-los; se não consigo procuro juntar-me a eles".

    · "Sou um golfinho e acredito na escassez e na abundância potenciais. Assim como acredito que posso ter qualquer uma dessas duas coisas – é esta a nossa escolha – e que podemos aprender a tirar o melhor proveito de nossa força e utilizar nossos recursos de um modo elegante, os elementos fundamentos do modo como crio o meu mundo são flexibilidade e a capacidade de fazer mais com menos recursos".
    ·
    A Metáfora do golfinho, da carpa e do tubarão está descrita no livro: "A Estratégia do Golfinho", de Dudley Lynch e Paul L. Kordis – Ed. Cultrix.


    07 março 2005



    A MINHA RUA

    A MINHA RUA, de facto, não é minha. É de todos e de todas que nela moram, por ela passam ou passaram e com ela criaram laços.
    A “minha rua” é a rua onde moro! Mas podia ser outra.

    Há três ruas que me pertencem
    . Nelas passei partes significativas da vida, nelas deixei partes de mim. Verdade se diga que delas guardo um conjunto de memórias, mais boas que ruins.

    Esta minha rua, a de agora, é uma rua aldeã.
    Bem no centro da cidade, parece que os ruídos ficam interditados e nela não entram. Ao lado correm ruas de grande trânsito. Esta, recôndita no coração da malha urbana, é uma rua de silêncios, de cantos matinais de galos, de cumprimentos alvoroçados de cães ao romper da alva, para se recolherem depois ao silêncio que a toma, de pipilares de pardais na madrugada.
    É uma rua feita de sons onde o silêncio reina.


    Nesta rua, por esta rua, as minhas filhas brincaram e cresceram. Aqui moram muitas pessoas, a maior parte das quais já aqui nasceu, e outras já aqui moravam quando cheguei.
    É uma rua pacata, de vizinhança, com conta e medida.

    As senhoras, como no tempo da minha infância, passam muito tempo nas janelas, tricotando, crochetando, observando, falando com quem lhes dá dois dedos de conversa...
    Actualizam o jornal da caserna, mas sem maldade.
    Uma pequena curiosidade que lhes ilumina, muitas vezes, o dia.

    Nesta rua as minhas filhas brincaram, correram, saltaram, riram - brincaram sem cuidados de maior que o de estarem atentas ao trânsito - viveram os seus primeiros amores, choraram as primeiras lágrimas de desencantos....
    É uma rua pacífica e mansa, mas vigilante.

    Passo e aceno às senhoras nas janelas.
    Recebo de volta outro aceno e outro sorriso :-)

    Assim se vão fazendo os dias. Tricotados entre silêncios e pequenas cumplicidades.

    As filhas têm agora outras ruas que também são delas, mas esta reconhece-as.
    Sempre que a ela voltam!

    Das amizades de infância, poucas aqui moram Como elas, partiram para outros voos.
    Poucos, mas infelizmente demais, perderam-se nos caminhos da vida e cumpriram a vã glória de morrer belos e jovens.

    As minhas três lindas filhas
    continuam a crescer e a envelhecer o que me enche de alegria doce e tranquila.
    A rua, que, sendo de todas, é tão minha, abre-se aos silêncios que permitem às almas encontrar-se.
    Desenrola-se em murmúrios que acompanham o fluir dos dias e dos tempos.
    Gosto da minha rua que, sendo uma rua aldeã, é uma rua solidária por onde as memórias ficam inscritas e se renovam a cada manhã.

    06 março 2005





    CANTO E LAMENTAÇÃO NA CIDADE OCUPADA

    Qué vida la que vivimos
    en estos años de muerte!

    Nicolás Guillén


    1.

    Ei-la a cidade envolta em dor e bruma
    Ei-la na escuridão serena resistindo
    Hierática Estranha
    Sem medidaMaior
    do que a tortura ou o assassínio
    Ei-la virando-se na cama
    Ei-la em trajes menores
    Ei-la furtiva
    seminua sensual e no entanto pura
    Noiva e mãe de três filhos
    Namorada
    e prostituta Virgem desamparada
    e mundana infiel
    Corpo solar desejo
    amor logro bordel soluço de suicida

    Ei-la capaz de tudo
    Ei-la ela mesma
    em praças ruas becos boîtes e monumentos
    Ei-la ocupada
    inerte desventrada
    com música de tiros e chicote
    Ei-la Santa-Maria-Ateia maculada
    ignóbil e miraculosamente erecta
    branca quase feliz quase feliz
    Ei-la resplendente de amor teoria
    e prática nocturna mistério acontecido
    doce habitável ah sobretudo habitável
    vestido acolhedor café à noite
    a voz distante e amada ao telefone
    Ei-la a que fica e sobrevive
    e reflecte neons nos lagos do jardim
    mesmo quando partimos
    e as lágrimas inúteis
    roçam de espanto a solidão crescendo
    Ei-la a cidade prometida
    esperamos por ela tanto tempo
    que tememos olhar o seu perfil exacto
    flor da raiz que somos
    meu amor


    Daniel Filipe, In: A Invenção do Amor e outros poemas,
    Editorial Presença, 8.ª edição, Lisboa, 1994.

    05 março 2005



    ESTE BALÃOZINHO CONTÉM O DISCURSO DA MAIORIA DOS NOSSOS POLÍTICOS!

    Ontem, o Sr. Silva, que nos foi apresentado há semanas, aquando da campanha para as legislativas, pelo Sr. Alberto ( o da Madeira! Como o caruncho) foi entrevistado e inquirido sobre a hipótese de voltar á política activa. Respondeu que só se pudesse "(...)dar alguma coisa ao país...".
    Sossegue sr. Silva. Se é por isso pode voltar, ainda que eu não perceba para quê....!!Pode voltar porque se o senhor voltar dá uma coisa má a muita gente neste país.
    Satisfeito? Vê que sempre dá alguma coisa ao....país (somos todos, né?)!?

    04 março 2005

    A velha senhora olha desalentada ao redor.
    Vive na casa onde nasceu já lá vão oitenta e seis anos, a caminho dos oitenta e sete, pois já dobrou o meio dos seis, e onde antes já o pai vivera desde criança.
    Pensa que a casa terá perto de duzentos anos, isto se ainda os não tiver.
    O desalento com que olha a casa não tem a ver com o mau estado da mesma, ou problemas que a construção acarrete. Nada disso. Apesar de muito velha, a casa térrea mantêm-se erecta e em bom estado, exigindo-lhe somente trabalhos de manutenção e bem menos do que muitas casa novas que viu serem orgulhosamente construídas pelos proprietários, com uma certa sobranceria, em que o novo dava lugar ao velho, julgavam eles. A casa, bem caiada, continua a ser um mimo. A atrair olhares, pela singeleza das linhas e aspecto arquitectónico em geral, que anuncia bem alto ser de outro século enquanto as mais novas apresentam rachadelas, estrias, manchas e infiltrações exigindo, aos proprietários, consecutivas obras de reparação e não só de manutenção, sendo que, mesmo assim, o aspecto dessas é mais velho, mais desgastado, do que o daquela que habita.
    Não lhe advém daí o desalento que o olhar exprime. Vem-lhe sim de uma certa monotonia que dela se apossou.
    Ela e a casa encontram-se em perfeita simbiose. Tudo nesta lhe é conhecido. Desde as cores, aos cheiros, aos ruídos, externos e internos, ao pulsar da própria casa, independente das horas do dia e do movimento da rua. Todas as coisas têm um lugar próprio não podendo ser colocadas em diferente local, nem a ela tal coisa ocorrendo.
    É este factor de falta de surpresa que hoje a cansa, que a desalenta.
    A rua, outrora muito movimentada, com vizinhança e crianças, tem agora pouquíssimos moradores e, mesmo estes, saem de manhã para os trabalhos e voltam já caída a noite, recolhendo-se de imediato, pelo que a rua parece, normalmente, vazia.

    Crianças a correr, a andar de bicicleta ou entretidas noutros jogos, é coisa que não existe mais. Os casais que ali moram não têm filhos pequenos. Mesmo aqueles que para tal teriam idade.
    A rua é uma monotonia igual ou pior do que a casa. Da casa entende que seja monótona habitada só por uma mulher de quase oitenta e sete anos.
    Mas da rua e do pulsar da cidade, que se estendeu para outros pontos cardeais, apesar
    de estar bem no centro da urbe, não se compreende este pulsar lento, desfibrilado de alegrias, sem tons, sem musicalidade. Monótono! Como monótona lhe parece hoje a vida e tudo ao seu redor.
    Da janela da cozinha deita o olhar sobre o limoeiro, antigo, tão antigo que não o sabe situar no tempo. Desde que se lembra que ali vê uma arvore de grande porte, para limoeiro, claro. É um imponente limoeiro este que a família plantou há centenas de anos. Sempre carregado de limões. Todo o ano habitado, de forma alternada, por flor e frutos, perfumando o quintal e a casa, quando abre a janela da cozinha por onde ele quase entra. Habitados os troncos e os ramos por ruidosos bandos de pardais em alegres brincadeiras e folguedos próprios de tais aves.
    Tudo na casa e nos espaços envolventes é antigo, carrega uma patine de dignidade e altivez que só o passar dos anos confere, tudo se mantém, até ela.
    O piano mantém-se no mesmo local desde sempre, diante dos sofás e das poltronas, no canto esquerdo da sala; no lado oposto, junto às escadas que dão acesso ao andar inferior, num recanto de acesso, encontra-se o oratório com o seu marmoreado de jaspe, e os lindos santos que têm passado de geração em geração – a quem os deixará? – (sim, dissemos que a casa era térrea, mas fica entre duas ruas com cotas muito diferenciadas e tem entrada pelas duas ruas, resultando numa habitação de dois pisos), os móveis de família, de boas madeiras sobreviveram ao uso e ali estão. As fotos de família numa mesa de jogo, outras sobre o piano, tudo isto que lhe deu, ao longo dos anos, uma sensação de bem-estar, de vida organizada e controlada, transmite-lhe agora uma sensação de agonia, de opressão.... E porque tudo é inalterado desde as memórias de criança que carrega, hoje a casa pesa-lhe! Tudo nela lhe pesa e lhe parece estático, sendo que estático lhe diz ser claro sinal de paragem, de morte. Tudo pode respirar e estar vivo, mas parece que tudo morreu e se encontra fora do tempo. Até ela. Daí este olhar desalentado que deita ao seu redor na esperança que, de qualquer ponto da casa, do quintal ou da rua, surja, ecluda, aconteça, um qualquer movimento disruptivo capaz de contrariar, anular, esta sentença de morte anunciada que capta nos mais pequenos sinais emitidos por ambas.

    03 março 2005


    Trago hoje ao nosso convívio o poeta e romancista de 1ª água, António Rebordão Navarro que muito esquecido, por pouco divulgado, anda, sendo que, há dois meses atrás, publicou mais um romance na Campo das Letras: ROMANCE COM O TEU NOME.
    Fiquemos pois na sua companhia com o excelente poema:
    Sabíamos do mar sem o sabermos

    Sabíamos do mar sem o sabermos,
    do mar dos mapas, da cor azul do mar,
    dos naufrágios no mar,
    do sol solto no mar.
    Sabíamos do mar sem o sentirmos
    nos poros dilatados pelo mar,
    o verdejante mar escalando as montanhas
    tão bruscas como o sal.
    Sabíamos do mar em sinuosos sinos
    assinalando a noite
    com corações arrepiados,
    abertos como mãos
    sulcadas de cabelos e molhadas
    de rugas e escamas.
    Sabíamos do mar em signos,
    símbolos,tropos e metáforas.
    Sabíamos do mar?Sabíamos o mar.
    Sabíamos a mar

    António Rebordão Navarro
    O INVERNO
    Poemas:1952-1982
    Imprensa Nacional Casa da Moeda

    02 março 2005


    O Nilson ontem disse: "...só na quinta?", em resposta a uma afirmação minha de que colocaria o restante do poema de Cesário Verde(partes III e IV) na 5ªfeira.
    Achei que devia dar tempo para lerem com calma (sei que muitos de nós vêm aqui numa corrida), mas depois de ler o comentário dele ponderei e achei que mais dias só serviam para quem viesse ler o restante se começar a perder no contexto das duas primeiras partes obrigando a reler tudo (e se calhar não teriam tempo - ai esse ingrato nada!). Portanto eis o final do poema: SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL.


    SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL
    (III e IV)

    Cesário Verde


    III

    AO GÁS

    E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
    Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
    Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
    Um sopro que arrepia os ombros quase nus.

    Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
    Ver círios laterais, ver filas de capelas,
    Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
    Em uma catedral de um comprimento imenso.

    As burguesinhas do Catolicismo
    Resvalam pelo chão minado pelos canos;
    E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
    As freiras que os jejuns matavam de histerismo.

    Num cutileiro, de avental, ao torno,
    Um forjador maneja um malho, rubramente;
    E de uma padaria exala-se, inda quente,
    Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.

    E eu que medito um livro que exacerbe,
    Quisera que o real e a análise mo dessem;
    Casas de confecções e modas resplandecem;
    Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

    Longas descidas! Não poder pintar
    Com versos magistrais, salubres e sinceros,
    A esguia difusão dos vossos reverberos,
    E a vossa palidez romântica e lunar!

    Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
    Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
    Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
    Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

    E aquela velha, de bandós! Por vezes,
    A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
    Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
    Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

    Desdobram-se tecidos estrangeiros;
    Plantas ornamentais secam nos mostradores;
    Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,
    E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.

    Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
    Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
    Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
    Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

    "Dó da miséria!... Compaixão de mim!..."
    E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
    Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
    Meu velho professor nas aulas de Latim!

    IV
    HORAS MORTAS

    O tecto fundo de oxigénio, de ar,
    Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
    Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
    Enleva-me a quimera azul de transmigrar.

    Por baixo, que portões! Que arruamentos!
    Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
    Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
    E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

    E eu sigo, como as linhas de uma pauta
    A dupla correnteza augusta das fachadas;
    Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
    As notas pastoris de uma longínqua flauta.

    Se eu não morresse, nunca! E eternamente
    Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
    Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
    Que aninhem em mansões de vidro transparente!

    Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
    Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
    Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
    Numas habitações translúcidas e frágeis.

    Ah! Como a raça ruiva do porvir,
    E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
    Nós vamos explorar todos os continentes
    E pelas vastidões aquáticas seguir!

    Mas se vivemos, os emparedados,
    Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
    Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
    E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

    E nestes nebulosos corredores
    Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
    Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
    Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

    Eu não receio, todavia, os roubos;
    Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
    E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
    Amareladamente, os cães parecem lobos.

    E os guardas que revistam as escadas,
    Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
    Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
    Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

    E, enorme, nesta massa irregular
    De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
    A Dor humana busca os amplos horizontes,
    E tem marés, de fel, como um sinistro mar
    !