09 dezembro 2005

Poema da mulher nova


Vejo-te no mundo que não para,
como um grande lenço rubro desfraldado.
Vejo-te em mim, quando me sinto massa
com milhões de braços e de pernas e uma cabeça de anjo.
Vejo-te na vida em marcha,
nas mãos estendidas.
Vejo-te em toda a vibração,
nas plantações cobertas de girassóis e de papoulas,
no topo dos tractores pulverizando a terra.
*
Vejo-te nua das sedas
com a boca rasgada numa canção de futuro
como um punho ameaçador à pestilência dos homens.
*
Vejo-te bela
com os cabelos ao vento,
em frente,
sem um talvez: perfeita.
*
Vejo-te mãe de milhões de homens novos,
de rosto calmo e olhos firmes,
através das labaredas e do fumo,
sem país e sem lar, a caminho da vida
- na descoberta constante.
*
Mário Dionísio

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