23 novembro 2005

A propósito do que designamos: idade



Hoje, ao caminhar debaixo dos frescos pingos da chuva, descobri que o meu corpo é muito mais novo do que a minha alma.
Algo que no fundo sei há muito mas que me atingiu como uma epifania.


O corpo tem a idade cronológica que medeia entre o dia do nascimento, a saída do útero materno, e este em que penso e escrevo.
Pelos padrões correntes já passei a denominada meia-idade e estou parada num breve planalto a partir do qual começará a curva descendente da vida física.

A idade da alma, ou seja, a minha idade, essa é outra coisa.
Não pode ser contabilizada pelo padrão temporal que utilizamos. Não sei se teve um começo, nem quando foi, ou se sempre foi e será, como parte do cosmos.
Do começo nada sei, mas sei que é antiga e não terá fim. É imortal.

Assim percebo melhor o porquê desta leveza que me não fala em idades (nunca falou. Nunca foi uma preocupação minha. Nem quando as velas começaram a encher excessivamente o bolo e as filhas rindo diziam: qualquer dia tem que ser um daqueles em campo-de-futebol...), que me não proíbe de ir na rua saltitando, se a tal a vontade me incitar, ou de fazer qualquer outra coisa, ter uma atitude que socialmente é considerada apropriada numa jovem mas não numa mulher madura, mãe de família, avó...

Esta leveza com que olho as folhas que caiem, e esvoaçam no vento, ou o soltar o riso, mesmo que sozinha me encontre, se a ocasião o despertar.
A leveza da saltar sobre as pedras, de imaginariamente jogar à macaca num qualquer passeio que, pela estrutura do empedrado, me traga o jogo à memória, ou de fazer ou tomar qualquer atitude porque a alegria da vida a comanda.
Nunca dou por mim a avaliar se posso ou não, em função da idade.

E hoje tudo ficou mais claro quando compreendi esta verdade tão simples. O meu corpo é mais novo do que a minha alma. Só que esta é intemporal, não tem portanto idade e assim, dela me não lembro e ela me não coíbe.

(foto por Tmara- Quinta das Conchas, Lxª)

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