11 julho 2005

Sentir do dia

Sentir do dia


Hoje o dia levantou-se lesto,
antes mesmo de o sol nascer.
Pulando num pé só
foi por sí, fazendo tropelias.

O vento varria o mundo
em redemoínhos. Quentes
como boca de fornalha.
Insolente escancarava
as portadas das janelas,
silvando, entre o zangado e o irónico,
quando por elas, o caminho
encontrava barrado.

Quando lograva os
seus intentos,
e tal era a sua força que
difícil era resisitir-lhe,
corria as casas
em novelos de movimento,
pó, zunidos e murmúrios
lembrando vozes,
perdidas no nevoeiro.

As águas do rio corriam,
frenéticas, como que
enlouquecidas,
em busca do perdido caminho
para o mar.

O mar abria-se
num a imensidão plana
de azúis , pontilhada
por brancas cristas
de espuma
quebrando-lhe a lisura.

Por dentro da casa o mar
alastrava deixando
um perfume a algas e maresia,
carregado pelos ventos,
quase obrigando
as gentes
a lembrarem-se de que esta
é uma cidade marinha.

No ar as aves,
até as grandes gaivotas,
enrodilhavam-se no voo.
Adernavam.
Abruptamente inclinavam-se,
como se perdido o norte,
o prumo.
Em total desequilíbrio
provocado pelas furiosas
e murmurantes rajadas
de vento.

O mundo andava à deriva
dos ventos,
quentes como boca de fornalha,
queimando a pele,
entrando
agressivamente nas casas,
em busca de sombra e acalmia.

Enquanto isto, o país ardia.


Porto, domingo, 10 de Julho de 2005
(Foz do Douro)


18 comentários:

cris disse...

Passava das 23h qd ontem me cruzei com o fogo de Penacova. É assustador a dimensão de umas chamas q se viam a mtos Kms e subitamente estavam ali tão perto. Já enerva assistir à repetição do mm a cada verão... :(

Daniel Aladiah disse...

Querida TMara
Assim como arde o nosso património florestal, ardemos nós de impaciência por ver sempre tudo adiado...
Um beijo
Daniel

Anónimo disse...

TMara, que sensibilidade traduzem as tuas palavras! Senti a ventania na toada do poema e, sobretudo a tua indignação. Um beijo muito grande :-)

Anónimo disse...

E enquanto isso, a vida continua como se nada fosse... como se não houvesse incêndios, crimes, violência e morte. Há sempre uma gaivota no céu a tentar aplacar a raiva que surge nos nossos olhos... Beijo grande.

Anónimo disse...

Apenas para te deixar um beijinho :)

mfc disse...

O paradoxo entre as tuas palavras lindas e o horror dos fogos florestais!

Anónimo disse...

O país está sempre a arder. Tu é que nem sempre estás na foz do douro :o)

Anónimo disse...

Obrigado pelo comentario :o)
Cuidado com os fogos. É crime andar a pôr fogos, nem que seja com a desculpa de depois ir para a foz do douro escrever poesia :o)

Anónimo disse...

E enquanto o país arde a minha alma chora de desgosto. Hoje, no Norte e Centro, vi árvores que perderam o seu verde e as suas raizes encontravam-se tapadas de cinza...Doi muito ver!!!! Bjitos!!!!

Å®t Øf £övë disse...

TMara,
Gostava que passasses lá no "ABOUT LAST NIGHT" para participares na festa de aniversário e para soprares uma velinha.

Anónimo disse...

Há mão criminosa, e há desleixo, nestas tragédias. Infelizmente para o País e para nós! Perdemos todos os anos, uma parte importante da nossa floresta, morrem inocentes e, muitos, perdem os haveres por que lutaram tantos anos.
Grata pela paragem no meu "canto". O mau tempo passou. Não se pode dar importância, ao que não tem. Apesar da ferida que abre no peito.

Um jinho terno ;)

eduardo disse...

Bom dia, TMara.
Pois é. O mundo lá fora está perigoso e, para desgraça deste pobre povo, continua a arder.
Até quando, é que ninguém sabe.

Anónimo disse...

começou o caos dos incendios...enfim..esperemos k este ano seja melhor k o outro... **

Anónimo disse...

TMara, estranhos dias, estes!! :) beijokas

Anónimo disse...

que bem que escreves!
Deixei-te tantos abraços, que até ia rebentando com o contador.
//(~_~)\\ um beijo da Titas

Anónimo disse...

Olá TMara!
O mundo está a arder e o cheiro que fica a pairar no ar, acaba por nos atingir a memória...e as respostas que encontramos, são por vezes tão ocas, que ficamos sem palavras...apenas aquele sentimento de revolta...o mundo em que vivemos poderia ser o Paraíso, mas infelizmente o Homem teima em pensar de maneira diferente, por razões que a própria razão desconhece.
Beijinhos, Bons Filmes e Excelente Poesia!

sombra_arredia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Passei para deixar mais uns abracinhos.
Já tens net?


//(~_~)\\ um beijo da Titas