Sentir do dia Hoje o dia levantou-se lesto, antes mesmo de o sol nascer. Pulando num pé só foi por sí, fazendo tropelias. O vento varria o mundo em redemoínhos. Quentes como boca de fornalha. Insolente escancarava as portadas das janelas, silvando, entre o zangado e o irónico, quando por elas, o caminho encontrava barrado. Quando lograva os seus intentos, e tal era a sua força que difícil era resisitir-lhe, corria as casas em novelos de movimento, pó, zunidos e murmúrios lembrando vozes, perdidas no nevoeiro. As águas do rio corriam, frenéticas, como que enlouquecidas, em busca do perdido caminho para o mar. O mar abria-se num a imensidão plana de azúis , pontilhada por brancas cristas de espuma quebrando-lhe a lisura. Por dentro da casa o mar alastrava deixando um perfume a algas e maresia, carregado pelos ventos, quase obrigando as gentes a lembrarem-se de que esta é uma cidade marinha. No ar as aves, até as grandes gaivotas, enrodilhavam-se no voo. Adernavam. Abruptamente inclinavam-se, como se perdido o norte, o prumo. Em total desequilíbrio provocado pelas furiosas e murmurantes rajadas de vento. O mundo andava à deriva dos ventos, quentes como boca de fornalha, queimando a pele, entrando agressivamente nas casas, em busca de sombra e acalmia. Enquanto isto, o país ardia. Porto, domingo, 10 de Julho de 2005 (Foz do Douro) |
11 julho 2005
Sentir do dia
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18 comentários:
Passava das 23h qd ontem me cruzei com o fogo de Penacova. É assustador a dimensão de umas chamas q se viam a mtos Kms e subitamente estavam ali tão perto. Já enerva assistir à repetição do mm a cada verão... :(
Querida TMara
Assim como arde o nosso património florestal, ardemos nós de impaciência por ver sempre tudo adiado...
Um beijo
Daniel
TMara, que sensibilidade traduzem as tuas palavras! Senti a ventania na toada do poema e, sobretudo a tua indignação. Um beijo muito grande :-)
E enquanto isso, a vida continua como se nada fosse... como se não houvesse incêndios, crimes, violência e morte. Há sempre uma gaivota no céu a tentar aplacar a raiva que surge nos nossos olhos... Beijo grande.
Apenas para te deixar um beijinho :)
O paradoxo entre as tuas palavras lindas e o horror dos fogos florestais!
O país está sempre a arder. Tu é que nem sempre estás na foz do douro :o)
Obrigado pelo comentario :o)
Cuidado com os fogos. É crime andar a pôr fogos, nem que seja com a desculpa de depois ir para a foz do douro escrever poesia :o)
E enquanto o país arde a minha alma chora de desgosto. Hoje, no Norte e Centro, vi árvores que perderam o seu verde e as suas raizes encontravam-se tapadas de cinza...Doi muito ver!!!! Bjitos!!!!
TMara,
Gostava que passasses lá no "ABOUT LAST NIGHT" para participares na festa de aniversário e para soprares uma velinha.
Há mão criminosa, e há desleixo, nestas tragédias. Infelizmente para o País e para nós! Perdemos todos os anos, uma parte importante da nossa floresta, morrem inocentes e, muitos, perdem os haveres por que lutaram tantos anos.
Grata pela paragem no meu "canto". O mau tempo passou. Não se pode dar importância, ao que não tem. Apesar da ferida que abre no peito.
Um jinho terno ;)
Bom dia, TMara.
Pois é. O mundo lá fora está perigoso e, para desgraça deste pobre povo, continua a arder.
Até quando, é que ninguém sabe.
começou o caos dos incendios...enfim..esperemos k este ano seja melhor k o outro... **
TMara, estranhos dias, estes!! :) beijokas
que bem que escreves!
Deixei-te tantos abraços, que até ia rebentando com o contador.
//(~_~)\\ um beijo da Titas
Olá TMara!
O mundo está a arder e o cheiro que fica a pairar no ar, acaba por nos atingir a memória...e as respostas que encontramos, são por vezes tão ocas, que ficamos sem palavras...apenas aquele sentimento de revolta...o mundo em que vivemos poderia ser o Paraíso, mas infelizmente o Homem teima em pensar de maneira diferente, por razões que a própria razão desconhece.
Beijinhos, Bons Filmes e Excelente Poesia!
Passei para deixar mais uns abracinhos.
Já tens net?
//(~_~)\\ um beijo da Titas
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