08 agosto 2005

Crónicas datadas I

CRÓNICAS DATADAS (I)
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Início hoje a publicação de algumas crónicas publicadas em jornal, na data referida no corpo do texto.
A selecção deve-se, em primeiro lugar, à minha sensibilidade e, em segundo à minha convicção de que, no seu todo ou parcialmente, abordam assuntos ou aspectos da humana vida ainda não resolvidos - o que é um mau sinal, convenhamos - e sobre os quais vale a pena continuar a reflectir.
Espero que comigo continuem a partilhar as vossas reflexões.
Este é ainda a propósito de Hiroshima e Nagasaqui. O horror (este e o das guerras actuais) vive colado à minha alma.

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«NO CINTILAR DOS DIAS - 2002-08-20

“ Porque é tempo de romper com tudo isto
é tempo de unir no mesmo gesto
o real e o sonho.(...)”
Alexandre O’Neil. (1982). POESIAS COMPLETAS (43)


Foi em Agosto de há 57 anos, espaçadas entre si sete dias, que Hiroshima e Nagasaki viram o horror cair dos céus.
Numa fracção de minuto ambas as cidades foram destruídas totalizando, de imediato, para cima de 170 mil mortos vindo este número a duplicar nas décadas seguintes em consequência das radiações.
A IIª Guerra Mundial terminou (de facto já havia terminado, o que torna a gratuidade destes dois bombardeamentos ainda mais horrível) com um segundo holocausto.
Ao falarmos do holocausto nazi não esqueçamos que na sua fúria destruidora o regime nazi, ao longo de 12 anos (1933_1945), destruiu, para além dos 6 milhões de Judeus; três milhões de prisioneiros de guerra soviéticos mais dois milhões de prisioneiros polacos.

Falamos do holocausto nazi e esquecemo-nos do que poderemos designar de holocausto infligido ao povo japonês, perpetrado apenas para marcar o território dos senhores da guerra e ganhar pontos na agenda da então denominada guerra-fria, não ao longo dos anos, não sobre militares em guerra, mas sobre civis, anónimos cidadãos que se levantavam para começar o seu dia de trabalho e que, numa fracção de segundos, foram erradicados da face da terra.
Nesse momento começou a implementação da política expansionista dos EUA, em nome da defesa da democracia contra as forças totalitaristas da então União Soviética.

Por mim poderia aprender a conviver com estes dois horrores/dois holocaustos se eles tivessem marcado uma época de transição para uma sociedade mais fraterna em que todo o belicismo fosse colocado na prateleira dos primevos actos da humanidade.

Não foi isso o que aconteceu mas sim um reacender de rastilhos de guerra nas mais diferentes frentes e continentes.
Daí para cá a Terra tem-se vindo a constituir num “barril de pólvora” à deriva no espaço. Antigas vítimas transformaram-se em ferozes carrascos e a guerra, em si, parece ter-se transformado não só em acto de retaliação/defesa mas numa mais valia que alguns podem deter e comandar em nome de nenhum ideal mas tão só de interesses económicos.
Com os acordos de desarmamento veio a verificar-se, a nível mundial no denominado mundo ocidental, a existência de uma única super potência capaz de manter em sentido todos os outros países desse bloco.
Vejamos algumas posições dos EUA: recusam-se a assinar o Tratado para Impedir Testes Nucleares; consideram que as minas antipessoais são necessárias para defesa e não aderem à Moratória contra estas; saíram unilateralmente do Tratado Antimísseis Balísticos; continuam a avançar com a construção do Sistema Míssil de Segurança dos EUA; opõem-se, parcialmente, ao Tratado para Limitação da Exportação de Armas Ligeiras; continuam a implementar um discurso de agressão contra países que incluem no que denominam “eixo do mal”.
Realcemos que, em todos estes aspectos, a posição da União Europeia é antagónica a esta.
Horrores são-nos servidos diariamente através dos media, mas à força de tanto horror e de tanta (des)informação acabamos alheados encontrando sempre uma boa justificativa nas mensagens que nos passam.
Acabo com uma citação de Mia Farrow, embaixadora da UNICEF:
“Os EUA ajudaram a incentivar e alimentar a guerra que transformou Angola num dos países mais pobres do mundo, apesar das suas grandes reservas de petróleo e diamantes”.
Perguntemo-nos: e não será por causa dessas reservas?»

14 comentários:

Anónimo disse...

http://members.netmadeira.com/capm/DMF.swf

Um poema de David Mourão-Ferreira

Só para quem gosta.........

JPD disse...

Olá!
Reflectir sobre a história contemporânea e perceber o que aconteceu e que motivações políticas estiveram na origem de certas acções de belicismo, opções políticas, alianças, etc., é muito importante e muito estimulante. A razão simples é constituirem um precioso auxiliar para entender o nosso quotidiano; uma outra mais elaborada terá a ver com a cidadania: é nossa obrigação ter uma boa perspectiva sobre as posições políticas observadas de vários angulos para que façamos escolhas certas. Há quem defenda que o lançamento das bombas sobre o Japão visou não apenas vergar o imperador nipónico e o seu delírio, mas também, avisar a URSS, cortando cerce, ousadias temerárias. Este facto ajuda a perceber as celebradas manifestações pela paz quando a URSS estava cheia de ogivas nucleares por toda a europa, durante a guerra fria. Eis apenas um exemplo.
Bjs

Anónimo disse...

Mia F. disse e concordo, cara colega, provavalmente por causa dos recursos de Angola, sim. Bem, sobre as Bombas, ano passado escrevi sobre assunto, este ano ainda não. Acho que é, sim, para estarmos sempre falando e refletindo sobre esses temas, mas para mudarmos, tentarmos mudar o que está aí. É triste saber que as bombas atuais são ainda mais potentes, e os EUA ainda está recauchutando as mais antigas. SEi não, é preciso estar atento e forte, como dia a canção.

Pecola disse...

A memória é uma forma de loucura.. ;)

Ana disse...

Passem os anos que passarem, as memórias do horror permanecem.
Sejam elas Hiroshima e Nagasaki,o holocausto nazi ou a guerra em Angola é preciso que haja alguém que as recorde... para que se não repitam. Utopia?
Um beijo.

André Fernandes disse...

Tou sem palavras =X

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Momentos de horror que depressa foram esquecidos em plena Europa.

Mas convém insistir na lembrança.

Bjs.

Daniel Aladiah disse...

Querida TMara
Os europeus podem dizer o que quiserem,mas foram eles que criaram os EUA e o seu imperialismo e toda a sua força militar. Fomos nós que os colocamos em duas guerras mundiais, que eles não queriam, dando-lhes o ensejo de ascenderem a primeira potência mundial. Eles conseguiram ganhar as guerras, esperemos que sejam capazes de ganhar a paz...
Um beijo
Daniel

BlueShell disse...

recomendo:
http://js-mangualde.blogspot.com/

Anónimo disse...

Ainda hoje falar do nuclear é um autêntico pesadelo.
O problema é que não se soube seguir outra que não esta via. Segundo a compreensão que tenho desta matéria, nesses loucos anos da segunda guerra mundial, a corrida à arma era uma questão de sobrevivência, e o primeiro país a obtê-la fez dela um uso que ainda hoje carregamos às costas todo o seu significado.
Mas e num documentário que vi algures num qualquer canal, suponho que o Odisseia, apercebi-me que eles podiam ter seguido outra via, esta bem mais cool. E menos perigosa. Mas eram outros tempos, havia outra necessidades mais proeminentes e deu naquilo que toda a gente sabe.
Acabo dizendo que gostei de ler este teu artigo.

Beijocas e inté.

Anónimo disse...

Não foram as bombas lançadas para impedir que o Japão se rendesse à ex União Soviética? Não foi por causa das riquezas desse país que se alimentou uma guerra sem limites? pergunto: Porque não há guerra em Cabo Verde? Num país dito democrático podem explicar-me como é possível só existirem dois partidos? Tanta coisa se poderia dizer dos EUA. Beijos, TMara

Anónimo disse...

Não foram as bombas lançadas para impedir que o Japão se rendesse à ex União Soviética? Não foi por causa das riquezas desse país que se alimentou uma guerra sem limites? pergunto: Porque não há guerra em Cabo Verde? Num país dito democrático podem explicar-me como é possível só existirem dois partidos? Tanta coisa se poderia dizer dos EUA. Beijos, TMara

agua_quente disse...

A crónica pode ser datada mas está perfeitamente actual. E subscrevo totalmente. Até onde nos vai levar essa política expansionista, esse é que é o problema. Beijos

Anónimo disse...

Uma análise lúcida e nada datada. Terríveis as consequências do que os EUA fazem directamente ou fomentam em vários pontos do mundo.
Estou de volta, amiga. Beijinhos