07 agosto 2005
Aikichi Kuboyama
«POEMA DE AIKICHI KUBOYAMA
Ainda podeis ouvir-me, eu sei, amigos,
ainda podeis ouvir a minha voz de terra,
a mesma voz que fala à namorada,
a voz que diz poemas
e pede o bilhete nos eléctricos.
Não vos fala de pássaros a minha voz dorida,
não vos fala de rosas,
fala-vos só de um homem: Aikichi Kuboyama
com sua morte bárbara
entre as grandes notícias dos jornais.
Fala-vos de um homem nem santo, nem sábio, nem poeta,
Que se chamava simplesmente Aikichi Kuboyama
E algures, entre magnólias, tinha a mãe que o esperava,
Tinha mulher e filhos
ou o retrato da noiva.
É minha voz bravia
a querer dar-vos o nome do homem devastado:
Kuboyama foi literalmente atravessado por partículas
radioactivas que emitiram raios fatais produtores de
cancro em todo o seu corpo.
Quero que todos saibam da morte que durou duzentos dias,
Quero que a lembrem com o coração e os músculos,
Quero que no seio guardem o seu nome.
Aikichi Kuboyama.»
NAVARRO, António Rebordão (1990) A Condição Reflexa. Lisboa: Edições Casa da Moeda (1ª edição: Hiroshima (antologia), «Nova Realidade», 1967)
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21 comentários:
Porque todos os teus posts nos fazem pensar em coisas importantes, porque dás valor ao que é profundo e tantas vezes dói,por isso te venho ler e em cada dia aprendo alguma coisa.
Obrigada.
Um beijo.
A Ana já disse tudo.
Resta-me acrescentar
§(~_~)§ o beijo da Afrodite
que mundo este, amiga!
Não esquecer é preciso!
//(~_~)\\ um beijo da Titas
Incrível o teu blog! também sou do Porto.
Visita-me em:
http://scriptease.blogs.sapo.pt
Um beijo muito doce pela sensibilidade desta tua segunda homenagem aos muitos Kuboyamas. Obrigada por seres assim, amiga.
Bela e tocante encadeamento com o texto anterior. Com amizade e admiração, deixo um beijo fraterno.
Até que limite pode ir a crueldade e a inconsciência humana? É a pergunta cuja resposta talvez, ficou enterrada nas cinzas de Hiroxima. O que aconteceu naquela cidade japonesa á 60 anos atrás é perturbador, indigno e completamente demoníaco que nem sequer deve ser relembrado. Milhares de pessoas que pereceram em escassos minutos e uma cidade inteira varrida do mapa, vítimas do desprezo e do ódio que a guerra provoca no coração dos homens. Houve quem tivesse dito que esta tragédia foi um mal necessário para poupar vidas num conflito para o qual não se avizinhava o seu fim. Mas que direito têm os senhores da guerra de decidir quem deve viver e quem deve morrer, em nome da vida, quando a sua missão é destruir a própria vida. TMara, um bom fim de semana, e continua a deslumbrar-nos com temas tão interessantes e comoventes como este que publicas-te.
Outro poema muito bonito :)
Bjs**
realmente é preciso não esquecer as coisas realmente importantes da história mundial, e como o conceito de bons e maus vai variando ao longo do tempo.
beijinhos
pela tua sensibilidade deixei-te ali um abraço :)
l i n d o
i
n
d
o teu jeito de ser. bjos.
faço minhas as palavras do Humberto... que raio de humanos decidem a orte de outros humanos?
acho que o ser humano não evoluiu nada.
A barbarie continua com outras veste.
Só.
Um poema profundo que transmite bastante e nos deixa a pensar...
Beijos e uma boa semana*
Que arrepio... Essa é apenas uma entre muitas histórias de mortes horrendas! Há 60 anos, a estupidez do Homem elevada a um dos mais altos expoentes... Infelizmente a História tem conhecido outros actos de terrorismo atroz! Mesmo em pleno Séc. XXI... =S
Hoje deixei na Linha de Cabotagem referência a alguns blogs que passaram a constar dos meus links, este é um deles.
Por mais vezes que se lembrem as tragédias, elas voltam a repetir-se UMA, DUAS, TRÊS...
:(
Invariavelmente ao som amargo da condição humana
Fragmentos daquilo que a loucura do ser humano pode provocar!
Não vêem mais os meus olhos
que não te podem olhar;
meus lábios estão cerrados
porque não podem falar;
meu corpo jaz inerte
morrendo lentamente
a cada pesadelo
por não poder caminhar;
sou fruto da agonia
que lenta, entra em meu caminho
de morte prematura, que não se quer finar
Olha-me…
Olha-me bem de perto
e vê meu delirar
e naquilo que a maldade
do homem
me conseguiu
transformar…
Grata pela partilha.
Um abraço carinhoso :)
Olá Tmara! agradeço-te a tua intervenção no meu blog! Sim, porque tu não deixas meros comentários, tu acrescentas e expandes...
beijo grande
P.S. de que zona do Porto és?
Eu vivo na parte alta do Porto. Entre as Antas e o Marquês. Mas prefiro sempre a Baixa. Gosto de me deixar perder pela parte histórica (tenho vindo a reapaixonar-me pelo Porto), pelas livrarias, pelos cafés e bebo um pouco daquela atmosfera dandi e finesecular que me alegra o espírito...
e tu? que zonas percorres?
Tmara ob pela visita ao "Beja".
O mundo é muito pequeno mas os encontros que a vida proporciona pelos mais diversos caminhos deixa-nos muitas vezes embevecidos.
Fiquei muito feliz por me teres descoberto através do amigo Batista Filho de quem sou indefectível leitor. Mas também lhe vou agradecer a oportunidade que me deu de nesta floresta de blogs encontrar mais um que, pelo pouco que li, me entusiamou.
Serei mais uma visita diária.
Bjs.
Aqui está o que eu sempre quis escrever. Falar das pessoas com nome, das pessoas com vidas. Do que está por detrás dos seus presentes extintos.
Belíssimo texto da verdade.
Doloroso e real.
E quantos morrem agora em todo o mundo, por fé, ou por falta dela... combatendo por crenças de que é assim que a vida existe.
E nas contas finais, são tudo que trazem nas memórias e depois tudo que restam em outras memórias.
Dos que ficam. Dos que também não sabiam que doía tanto.
Bj
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