CRÓNICAS DATADAS II
NO CINTILAR DOS DIAS (2000.10.29)
Na idade em que somos sujeitos do que se convencionou chamar a “socialização primária”, em que nos são passados princípios e valores que vamos absorvendo, quase por osmose e que, a pouco e pouco vamos caldeando e a partir dos quais se estruturam os elementos que vêm, posteriormente, a ser, de facto, estruturantes em termos da pessoa que viremos a ser pela vida fora, vivia-se numa sociedade tão fechada quanto sejam capazes de imaginar os que já foram criados em democracia e, ainda assim, pensá-la ao quadrado para se aproximarem da realidade de então.
Depois de um tão extenso parágrafo, sobre uma realidade ultrapassada no tempo, talvez se interroguem onde é que quero chegar.
A questão central da minha reflexão, hoje, tem a ver com o facto de, quase unanimemente, considerarmos ultrapassados determinados momentos históricos, mas quando menos esperamos, atitudes, comportamentos e preconceitos que, datamos temporalmente, saltam-nos ao caminho, quais bestas feras e agarram-nos pela jugular deixando-nos em agonia.
É um facto que somos, globalmente enquanto povo, produto desses tempos e que, portanto de uma forma mais ou menos consciente, coabitamos com os fantasmas poeirentos dessa época que ditavam a norma e as regras. Talvez mais do que coabitar fôssemos “habitados” por eles. Fôssemos, em última instância, eles próprios. Ou pelo menos seu alimento e sustento pois de outra forma aquele regime não poderia ter sobrevivido tanto tempo..Era um mundo a preto e branco! .
De quantas cores será constituído o mundo que construímos? Os preconceitos, velhos e bafientos, saltam do fundo dos tempos, enredados em teias que acabam toldando, viciando (?), moldando (?), o pensamento hoje.
Outro dia, uma pessoa falou-me de uma “hipótese”, talvez para alguns/muitos, tese, de que nas famílias de.etnia cigana não se encontram ou encontravam crianças deficientes porque as matam/ /matavam à nascença
A pessoa em questão havia sido interrogada para que “explicasse” o fenómeno. Sem necessitarmos nenhum tempo de reflexão pareceu-nos que, a selecção natural e as suas leis, devido às condições de vida nómada, e extremamente rigorosa em que os ciganos viveram durante séculos, se apresentava como uma muito boa e forte hipótese.
Não foi vómito o que senti.Foi um movimento da alma e das vísceras que, mais uma vez, me fez ter vergonha da raça humana. Bastará ser: mamífero; bípede; etc, para se ser humano? Cada um, e a sociedade, pois não somos indissociáveis, deverá fazer o seu/nosso percurso em relação à criação da humanidade. Não basta ser filho de homem ou mulher para se poder considerar humano.Não falo no sentido biológico mas sim filosófico, pois me parece ser este o nível de análise adequado.
Há uns anitos atrás informavam/avisavam que os comunistas matavam os/as velhinhos/as com uma injecção atrás da orelha.Comentários
Onde está o arco-íris? È urgente encontrá-lo e dar cor ao mundo e conteúdo á fraternidade de que há dois mil anos Jesus falou.
2000/10/29