Aparentemente tranquilos e pacíficos....
Escoando,escoando sempre...ATÉ????
Não é uma “sombra”, com a natureza reconhecida das sombras.
Esta é transparente.
Invisível mesmo.
Sinto-lhe a presença porque, como predadora, aguarda o meu próximo movimento, o passo seguinte e antecipa-se.
Esbarro em portas fechadas. Que se não (me) abrem.
Nunca! (ou assim o sinto).
Sinto, ouço-lhe ecos de pensamentos.
Poderei dizer que me parecem algo tristes e até fatalistas quando afinal a sua acção prévia de fechar todas as portas, janelas, clarabóias, alçapões até, só a mim prejudica e transmite, ou poderia transmitir, uma sensação de frustração.
Portas fechadas.
Como muros do mais sólido material que imaginar possamos – causa desgaste, desmotiva. Frustra.
Parto para provável nova batida de cabeça contra invisíveis e insensíveis muros.
Mesmo os de carne e osso onde o sangue corre, vivo e quente.
Mas continuemos o jogo.
Talvez me queira dizer que é outro o caminho...
Veremos até onde vamos e onde chegarei.
*********- Persisto. Sempre persistirei.
************- Não sei ser de outra maneira.
Em tempo: ontem a imagem não entrava.
Perguntam-me por onde ando..., onde estou...
Do meu corpo sei dizer.
Está aqui!
Move-se, alimenta-se, dorme, vai à rua, caminha, trabalha...Faz “n” coisas.
Mas...e eu?
Eu, não sei por onde ando nem onde estou.
Sei que o mundo está cheio de arestas-gumes-cortantes-dilacerantes. De armadilhas.
Não grito. Silencio. Silencio-me.
Está inábil o corpo. Tropeço nas pedras, até nas mais pequenas, quase grãos de areia. E cai. Levanta-se de novo. Recomeça. Bem teimoso que ele ou eu, somos....
Esta inabilidade provirá (talvez) do facto de (eu) dele andar ausente. Mas a ele acabarei voltando pois é a minha morada.
Há quem faça exposição pública da alma. Talvez esse modo seja melhor. Não sei, só sei que não é o meu.
E também sei, mesmo quando descreio, que em mim, como em cada um, existe a força para ultrapassar, para seguir a caminhada. Em paz. Na paz. Re-ligada, inteira e única (no melhor e no pior).
Quando souber onde estou, por onde ando, dir-vos-ei.
Ou talvez não! Vocês irão percebê-lo na altura.
Muita luz e paz em vossa caminhada.
Vocês viram passar
o amor do mundo?
*
*
(fui eu que os pari numa noite de lua cheia)
Eram:
o último unicórnio branco
e o último amor do mundo.
Encontraram-se na zoocidade
E logo ali combinaram a fuga.
*
Uma fuga que se arrasta há séculos.
*
E na memória dos homens,
o unicórnio e o amor do mundo
figuram como lenda nebulosa e bela
perdida nos pântanos de (des)esperança.
***
Vocês viram passar
o amor do mundo?
Tinha 35 anos, o homem.
Jovem portanto. E saudável.
No apogeu da força, física e psíquica morria de tédio.
Não sabia o que fazer com toda a sua vitalidade.
Prendia-o com amarras de aço sob a forma de tédio.
Sentava-se nos cafés, nas praças, olhando sem ver.
Nada ouvindo ou escutando. E o tédio crescia.
Forte. Poderoso. Esmagador. Viril.
E como toda a virilidade, querendo jorrar.
Começou a atear fogos enquanto observava os esforços hercúleos dos bombeiros par apagarem os que lavravam.
Bastava destruir e destruir-se.
O fogo, a morte, eram forças libertadoras do tédio. Para o tédio.
O tédio ardeu. Como as chamas que ateou.
Espalhou-se.
Propagou-se a todo um país que ardeu e morreu. Adormecido.
De tédio. De auto-destruição.
Nota bene – a partir de notícia no J.N de 2006.08.09