O estado paga ou NÃO aos credores?
(Qual o conceito de credor?)
Que me desculpe o autor*, mas parafraseio-o: confesso que vivi* e sem pejo digo a minha idade, 66 anos, pois é relevante para o que me vai na mente.
Desde a época das vacas magras em ditadura, depois, magras ainda, ou mais magras na denominada mas não acontecida primavera marcelista.
Nos momentos mais conturbados pós-pós 25 de Abril de 1974, 11 de Novembro de 1976, não se falava em quadrúpedes, nem magros nem gordos, mas numa suposta luz ao fundo do túnel.
Assim, entre as vacas magras e o esquelético dedo de Salazar a verberar, e a ameaçar-nos com as palavras e o seu sentido; as vacas magras em tom de sacristão de Marcelo Caetano e as doutas e mansas palavras sobre a iluminação no fim do túnel, por políticos mais ou menos teoricamente democráticos, uns mais, outros menos…ou ainda, muito menos...
|um túnel de que nunca vi o fim muito menos a luz e, em mais de quarenta anos, na retórica política, só havia vacas magras. As gordas fugiam sempre para outros pastos porque não se davam bem com um país de…ovelhas|
Destes políticos de nova geração que quando falam pensam que nos convencem que ouvimos a voz de um qualquer infalível deus, quando a realidade é que nem sabem o que andam a fazer exceto a lixar-nos, por mim falo, desde há longos sessenta e seis anos que os sucessivos governos me lixam.
Aborrece-me escrever algo que se assemelhe a uma croniqueta sociopolítica porque acabo repetindo ideias. Mas que fazer se já outros mais sabedores, e lembro Guerra Junqueiro** para não recuar muito, nos escritos deixados nos iludem – sem intenção pois não eram videntes. Ao lê-lo alguém mais desatento pensará estar a ler um texto referente à atual situação.
Entre todos os cortes ninguém me convence que a retirada, não num mas em dois anos |só dois, será?| consecutivos dos subsídios de férias e de Natal é anticonstitucional e dou por mim a rir com este pensamento: foi feito um alarido quando umas alminhas políticas disseram que os estados não pagam dívidas e vozes sábias e aguerridas se ergueram em defesa do bom nome dos (des)governantes e do país enquanto entidade de bem que paga aos seus CREDORES.
Então como justificam o não pagamento dos subsídios de que nos são devedores?
E onde as vozes dos constitucionalistas e demais órgãos com função de zelar pelo cumprimento das leis e da 1ª de todas: A Constituição da República Portuguesa e todos os direitos sociais e laborais adquiridos e consagrados?
Os subsídios dos trabalhadores não são subsídiozinhos caritativos. São direitos adquiridos ao longo de muitos e muitos anos de trabalho e que como tal figuram na lei, sem margem para dúvidas ou interpretações dúbias. É uma dívida que o estado detém para com cada um de nós, seus credores e não suas árvores das patacas ou escravos.
Vá lá, gabemo-nos de que fomos dos 1ºs (ou fomos os 1ºs? já duvido das ditas verdades históricas dado que o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro nunca devem ter acontecido, única e possível razão para estas datas deixarem de ser feriados comemorativos) a acabar com a escravatura*** – novas formas se perfilam.
Post Scriptum: descobri o conceito de credores: os bancos, a banca, que para além dos chorudos lucros anuais contrai dívidas - o conceito de credor à portuguesa na perspectiva dos governantes! - e, vai daí, o governo, ou seja NÓS, pagamos. É urgente abrir nova entrada e actualizar os dicionários de língua portuguesa.
Conceição Paulino
01.01.2011
S. Mamede de Infesta
- *Pablo Neruda – título de um dos seus livros
- **Escritor e político, (1850-1923) formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Foi deputado. Em 1891 aderiu aos ideais republicanos. Iniciou uma intensa escrita poética com o fim último de, pela crítica, renovar a sociedade portuguesa. Regressou à política com a implantação da República, tendo sido nomeado Ministro de Portugal em Berna. Leiam (pelo menos) “A Velhice do Padre Eterno”
- *** O Marquês de Pombal aboliu a escravidão em Portugal e nas colônias da Índia a 12 de fevereiro de 1761, pelo que Portugal é considerado pioneiro no abolicionismo. Contudo...só a 25 de Fevereiro de 1869 se verificou a abolição completa da escravidão no império português. Escravatura é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro.
Os escravos de Esparta, não podiam ser vendidos, trocados ou comprados. Eram propriedade do Estado , que podia conceder a proprietários (empregadores?em linguagem actual) o direito de uso de alguns hilotas; mas eram pertences do Estado que tinha poder sobre eles
(ora vejam lá se não há semelhanças… na condição de escravos da pós-modernidade é óbvio que não podemos ser credores, somos, sempre e só, meros devedores – eles assim pensam. ...ai Laurindinha, vem à janela…)
Eu, credora do estado Português me afirmo e reclamo o pagamento das dívidas.
2 comentários:
O José Eugénio enviou um e-mail em que dizia: "assino por baixo".
Como não se entendeu com o serviço de comentário aqui o deixo.
também assino por baixo e apenas acrescento: Artigo 21 da Constituição Portuguesa.
esta tua 'mensagem' precisa começar a circular; eu vou fazer a minha parte
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