13 janeiro 2012

numa adaptação do "se" de Kipling, o olhar do autor sobre o amorfismo nacional

Pessoalmente agradeço, ao autor, a possibilidade de divulgação que me deu.
 Grata meu querido amigo António Oliveira.

Esta a introdução que o autor me enviou:

«Numa adaptação “forçada” do “Se” de Rudyard Kipling, deixo a maneira como encaro austeridades (sempre para os mesmos!) as mentiras que as justificam, as nomeações para os amigos, a “morte” para quem tem mais de setenta anos e tudo o resto que esta gentalha anda por aí fazer.»


troikados!


Se és capaz de manter a calma, quando
todo mundo ao redor já a perdeu e te olha,
e de acreditar quando todos duvidam,
e para esses ainda encontras desculpa,.

se és capaz de esperar sem desesperares
e, enganado, não mentires ao mentiroso,
ou odiando, até do ódio te defenderes,
sem nunca te pensares bom ou louco,

e se és ainda capaz de pensar e sonhar
sem fazeres dos sonhos teus senhores e,
encarando esta gente, ainda conseguires
tratar da mesma forma todos os impostores,

se és capaz de aguentar a dor de ver mudadas
em artimanhas as verdades em que acreditaste,
destroçadas as coisas por que deste a alma,
e as queres refazer com o nada que te vão deixar,

se és capaz de arriscar sem refilar
tudo quanto sonhaste na vida e,
ao perder, porque vais perder!, e sem dizer nada,
resignado, voltas a acreditar e a partir, 

e de forçar coração, nervos, músculos, que é só
o tudo que não te conseguem tirar,
e porfiar assim quando, na miséria, ainda
 há em ti a vontade  que te ordena: persiste!

se és capaz de, entre matreiros não te corromperes,
e entre estes políticos, não perder a naturalidade,
e dos bons amigos te defenderes,
e se, mesmo assim, continuas a acreditar,

e se ainda és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal da resignação algum valor e brilho,
teu é o governo com tudo o que te vai tirar aqui,
e – o que ainda é muito mais – estás troikado, meu filho!

                                                                  António M. Oliveira

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