16 janeiro 2008

continuação do post "oferta e desafio"


Continuação do excerto do 1º texto da 2ª parte do livro Salvador o Homem e Textos Inconsequentes à venda através da edium editores quem não leu ou quiser reler, p.f. clique aqui e vai lá ter.


«(...) E ela a mulher, a falar e eu sem a ouvir. A julgar que sim.

Ouvi o motor do carro e avistei-o lá longe na estrada velha. Uma longa cauda de pó esbranquiçada brilhando pelos reflexos e refracções da intensa luz tal a cauda do vestido de casamento da mulher quando a esperei no altar.
Ela a chegar ao altar e a cauda branca a brilhar miríades de estrelas tapando a passadeira carmim arrastando-se em sussurros de vozes que já não sei, mas sussurrando, e ela, a mulher, já quase no altar a pouco mais de um metro de mim que a esperava mas fitava a longa cauda qual via láctea estrelando ainda a porta da catedral. Assim a cauda de pó levantada pelo carro.

A noite caiu e nada e ainda assim eu a julgar que sim.
Passou a hora de jantar de cear e eu a julgar que sim esperava a mulher. (…)»

13 janeiro 2008

imperdíveis - assumo opinião e termo

Ontem, 12 de Janeiro de 2008, no Café Guarany, Av. Dos Aliados, pelas 18H00 decorreu a apresentação:


1. do livro "Dibaxu " de Juan Gelman, poeta galardoado com o Prémio Cervantes 2007 e o Prémio Reina Sofia de Poesia 2006.
A obra agora editada em Portugal foi dada à estampa pela
edium editores ( http://ediumeditores.blogspot.com/ ) é um poemário escrito entre 1983 e 1985, enquanto Juan Gelman se encontrava no exílio e uma das mais intensas obras deste poeta argentino.
Escrito originalmente em sefardita, apresenta-se aos leitores portugueses traduzido para língua portuguesa pelo poeta e ensaísta brasileiro Andityas Soares de Moura e inclui um apêndice vertido ao castelhano pelo próprio Juan Gelman .
Deixo-vos uma amostra da poesia que aqui podem encontrar e talvez vos "abra o apetite" se assim for basta irem ao site do editor e encomendar:
XXVI


O desejo é um animal
todo vestido de fogo/
tem partas tão longas
que chagam ao olvido/


agora penso
que um passarinho em tua voz
arrasta
a casa do Outono/

(P: 71)

XVI

quando estiver morto
ouvirei ainda
o tremular
de tua saia no vento/

alguém que leu estes versos
perguntou: “como assim?/
o que ouvirás? Que tremular?/
que saia?/que vento?”

disse-lhe que se calasse/
que se sentasse à mesa comigo/
que bebesse do meu vinho/
que escrevesse estes versos:


“quando estiver morto
ouvirei ainda
o tremular
de tua saia no vento”/

(P: 51)

GELMAN, Juan (2007). “dibaxu”. S. Mamede de Infesta: edium editores(1ª ed.)


2. Paralelamente, com a presença do referido tradutor, Andityas Soares de Moura, nome emergente da nova poética brasileira, foi apresentada a primeira antologia deste, intitulada "Algo indecifravelmente veloz" , igualmente editada pala edium editores. Esta antologia reúne o essencial da sua produção poética dos últimos dez anos.
É prefaciada por Xavier Zarco.
Aqui ficam, a título de aperitivo:
CANÇÃO DO MANCEBO



branca bela
senhora

a imagem s’evola

branca bela
senhora

teus peitos de ardósia

branca bela
senhora

que mal tu deploras?

branca bela
senhora

a solidão, mancebo, chora.
descora, apavora
e o padre só me diz: ora, ora, ora

branca bela
senhora

esquece o linho, as cousas claras

branca bela
senhora

vem em segredo, com ânimo de amásia

branca bela
senhora

mulher te farei ao largo da orla

branca bela
senhora

(pp: 56-57)


LÍNGUA DE FOGO DO NÃO




Não se pode escrever o poema.

Os tempos são duros, inflexíveis.
Taciturnos até. Dão “bons dias”
Por obrigação e recato.

Não se pode sequer ler o poema.



As pessoas andam cabisbaixas,
riem à toa – como patetas – e morrem.
Morrem como quem nunca quis nada.

Não se pode nem mesmo pensar o poema.

É proibido.
É indecente o poema.

O poema não produz dividendos. Não distribui lucros. Não faz dormir melhor. O poema não sorri nas campanhas eleitorais.
O poema não gosta de telenovela e nem está preocupado em como estacionar no shopping-center.
O poema não quer ter filhos, se casar e planejar férias anuais. Não tem e nem faz economias.
P poema não deixa e não anota recados.
O poema não investe em acções, não paga imposto de renda, (…)»
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(excerto do poema P: 154) ~

SOARES DE MOURA, Andityas(2007). ALGO INDECIFRAVELMENTE VELOZ. S. Mamede de Infesta: edium editores (1ªed.)
3.
A apresentação das obras esteve a cargo da Dra. Cristina Melo e do Prof. André Veríssimo

4. Segunda-feira, dia 14, em Coimbra, pelas 19.00 horas haverá uma segunda sessão pública de lançamento das obras ao público português, na Casa da Cultura de Coimbra, com apresentação da Dra. Graça Capinha da Universidade de Coimbra, no âmbito da Oficina de Poesia da FLUC e do projecto de investigação "Novas Poéticas de Resistência".

08 janeiro 2008

no desmanchar da...tenda Natalícia...

e é como digo acima.
No desmanchar da caseira "tenda Natalícia" fotografei alguns Anjos e alguns Pais Natal
que dedico, os primeiros à minha querida e doce amiga Maria Mamede, porque ambas gostamos e acreditamos que os Anjos existem e estão por todo o lado
e os Pais Natal á "crida" Titas que tem por eles uma paixão assolapada como sabe quem costuma visitar-lhe as casotas.
Prefiro a "ritual fórmula" da infância de ser o menino Jesus quem nos põe os presentes no sapatinho. Apesar de não católica, não religiosa, no sentido de seguir ou aconselhar - respeito-as - qualquer religião, mas para quem nunca o leu reafirmo a minha intensa admiração pela figura de Jesus, que considero o paradigma para o qual a humanidade deve e NECESSITA caminhar.
Compreendo que a recente figura do Pai Natal - dizia a minhas filhas que era como que o avô de todas as crianças do mundo - pode ser personificado e assim alimentar o encantamento e a magia nos seus espíritos.
Em nossa casa eramos sempre visitados pela Mãe Natal que se justificava pela necessidade de ajudar o marido dado o mundo ter muitas, muitas crinaças e ele, Pai Natal já ser um velhinho que bem agradado ficava com esta ajuda.
Durante anos minha filha mais nova acreditava que a Mãe Natal nos visitara e era delicioso ouvi-la narrar-me, com os olhos brilhantes, faíscando estrelas de encantamento e fascínio, o que eu perdera.
Tudo o que Mãe Natal dissera e fizera no espaço da minha ausência e o que eu havia perdido.
Claro que um dia houve em que percebeu, mas continuou a alinhar porque todos necesstimaos acreditar na magia da vida.
Por tudo isto e por tudo o vos lembrardes, para vós, amigas, imagens que permanecem latentes no imaginário de todos nós à espera do período do ano em que as podemos libertar e com elas nos encantarmos e reviver a magia das nossas infâncias e alimentarmos a criança que existe em cada adulto.
Que vos acompanhem todo o ano.
Os Anjos;))

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Sobre o post anterior em que utilizo uma frase de Teixeira de pascoaes lembrou-me o amigo Francisco Sobreira que seria bom referir quem é, ou foi, pois pessoas haverá que o desconhecem. Nada mais acertado, mas na altura pensei que bastaria, a qume quisesse saber algo deste escritor português colocar o seu nome nu motor de busca e...zás.


Aqui fica no entanto o básico, pois sei que afinal todos temos limites temporais e actividades várias ao longo do dia que muitas vezes nos não deixam avançar em campos que gostaríamos.



«Teixeira de Pascoaes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Ir para: navegação, pesquisaTeixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 2 de Novembro de 1877, 17h00 – 14 de Dezembro de 1952), foi um escritor português, poeta principalmente e um dos mais notáveis representantes do saudosismo. Em 1901 licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, mas apenas exerceu durante cerca de dez anos.Com António Sérgio e Raul Proença foi um dos líderes do chamado movimento da “Renascença Portuguesa” e lançou em 1910 no Porto, juntamente com Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, a revista “A Águia”, principal órgão do movimento. Grande parte da sua vida foi passada no solar da sua família na Serra do Marão, onde cultivava a terra e escreveu muita da sua poesia contemplando a paisagem.»

06 janeiro 2008

Feliz Dia de Reis

Teixeira de Pascoaes afirmou que “o erro da sociedade “ era o de “ser um maquinismo em vez de ser um organismo”.
*maquinismo – qualquer peça é descartável e substituída por outra. O próprio maquinismo pode ser rejeitado e substituído por outro mais eficiente, mais produtivo.

* organismo – conjunto em que cada órgão tem igual valor para o todo, que cada órgão – parte do todo - é cuidado para o seu bom funcionamento e durabilidade do organismo. Nenhum órgão é descartável.

Se à época, Pascoaes emitiu esta avaliação-análise-crítica o que diria ele num período em que o neo-liberalismo, quase (?) capitalismo selvagem, com a sua face desumanizada e dominadora orienta as grandes linhas políticas ao invés de estas o orientarem, exercerem sobre ele o exercício regulador do mercado?
Num período em que o homem é, cada vez mais “o lobo do homem” em nome do lucro puro e duro, cujo deus maior é o “bezerro de ouro” em nome do qual tudo vale para que os “iluminados/os eleitos” pelo seu adorado “deus” dourado - não o dourado do nascer ou pôr-do-sol, o dourado da ternura, do respeito e do amor - acumulem fortunas cujos pilares assentam sobre a fome, a miséria, a morte sob múltiplas formas, uma das quais a guerra, ou as guerras pois a tipologia de armamento e o desequilíbrio de poderio de guerra de uns e de outros é cada vez mais desigual. A exploração de modos refinados em que a escravatura volta a ganhar forma sob novos modelos adequados à produção e ao lucro imediato.
Em suma toda a produção de riqueza tende a assentar sob uma amálgama de carne sangue e osso, de outros seres tão únicos e valiosos quanto eles, quanto qualquer um de nós.

A sociedade só será fraterna e justa quando funcionar como um organismo e como tal for respeitada. Onde cada parte, segmento do organismo – cada ser humano – seja igualmente
valorizado, cuidado e respeitado.
Vós e eu, não podemos descurar nenhuma parte do nosso organismo sob risco de falência. De morte. Do desaparecimento.
Assim a sociedade.
Enquanto mecanismo mata-se e mata tudo e todos.
Até os que acreditam, nos seus luxuosos apartamentos, moradias, coberturas, quintas, ilhas, etc, de tudo estarem protegidos por se julgarem próximos dos deuses num qualquer Olimpo
(os gregos antigos que me perdoem).
Os organismos, para além das partes que compõem o corpo material, físico, são uma unidade com algo invisível e indivisível que podemos designar como alma.
Ou será que corpos há que são meros mecanismos e esses não possuem alma porque não são nem aspiram a ser humanos?Meras máquinas que dominam o mundo revestidos da formas dos humanos.
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TENHAM UM FELIZ DIA DE REIS E QUE ESTES TRAGAM Incenso, Mirra e AMOR para vossas vidas.