24 janeiro 2012

o que se faz no mundo com a razão e a desrazão


«O que se fazia no mundo com a voz da desrazão ia muito além do que se fazia por boa vontade e por justiça.»
BESSA-LUÍS,Agustina (2001). O Princípio da Incerteza, Jóia de Família.Lxª: Guimarães Editora (211)

22 janeiro 2012

excerto de "Lição sobre o poder", por B. Brecht


Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões.
E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões.
Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões.
Se os tubarões fossem homens também acabaria a ideia de que todos os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais frequentemente, teriam bocados maiores para comer.
E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc. Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.»

21 janeiro 2012

Vida e vistas do Porto de há 100 anos em filme

Recebi de um querido amigo (grata sou) e assim partilho.
«Alguém sabe o que era o Pathé-Baby? Não? Era um formato de filme de 9,5 mm. que, ao contrário dos outros formatos(8, 16, 35 ou 70 mm); não tinha os furos para arrasto no lado da película, mas no meio, entre cada duas imagens. Como resultado, o tamanho da imagem era quase igual ao do 16 mm, pois aproveitava toda a largura da película. Tinha a desvantagem de o gancho de arrasto facilmente sair do sítio e estragar a película. Para minimizar isso, alguns projetores tinham dois ganchos de arrasto, que "apanhavam" dois furos sucessivos. O formato estava relativamente vulgarizado, e até havia representantes da marca. 
No Porto, era em Santa Catarina, não muito longe do Via Catarina, mas do lado oposto. 
 Encontrei no Youtube esta preciosidade. Filme do Porto e do Minho com cerca de 100 anos.»
e + ou - 100 anos depois, enquanto cidadã atenta e preocupada pergunto-me:
 Cavaco Silva está senil ou imbecil?

20 janeiro 2012

dizem...


Dizem que dormimos menos à medida que envelhecemos!
Então, silogisticamente
(favor não verificar a correção do silogismo.;D) )
concluo:
(Eu, por Ana Eugénio)
  • ·         Os velhos necessitam dormir menos
  • ·         Estou a dormir quase o dobro
  • ·         Logo... estou a rejuvenescer!


a questão que se coloca é: ONDE É QUE EU/ ESTE FENÓMENO VAI PARAR?
                aqui, ou...ali?

                              SOCORRRROOOOOOOOOOO

Últimas 3 fotos, do Google

19 janeiro 2012

CIDADE - 2 poetrix

do Google

Cidade I

perigo
expostos golpes
ruínas.
Foto por Conceição Paulino

Cidade II
Urbana
Urbanidade
Risco e liberdade

Conceição Paulino
S. Mamede de Infesta, segunda-feira, 16 de Janeiro de 2012

18 janeiro 2012

alguma alma caridosa e atenta me diz quantos PACKS mais além do Pack 4?

Soneto de José Régio escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos.
Tão atual em 1969, como hoje... 
 E depois ainda dizem que a tradição não é o que era!!!   



«Soneto quase inédito
        
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.» 

JOSÉ RÉGIO

17 janeiro 2012

canção imperdível, palavras, emoções a percorrerem o mundo em diferentes vozes e instrumentos

conheces? NÃO? não sabes o que perdes


Olimpo (bar café) do amigo Luís Beirão e outros

Abre às 17:00.

Seg - Sex:17:00-2:00
Sab:15:00-2:00





O nome refere-se ao Monte Olimpo, na mitologia grega, morada dos 12 deuses principais. 



Este "nosso" Olimpo
  • Possui um primeiro andar (café), 
  • um patamar intermédio, 







  • um segundo andar (fumadores) e esplanada. 
  • Na sua programação constam, essencialmente, eventos culturais, ligados às artes, música, fotografia, desenho, pintura, design, literatura, poesia, artes plásticas, etc. 
  • Destina-se a gente que gosta de se cultivar, aprender e conviver de forma  descontraída 


Abre às 17:00.

Seg - Sex:17:00-2:00
Sab:15:00-2:00



16 janeiro 2012

correndo ou...fugindo?


O mundo (social e cultural) que construímos é alucinado e alucinante.
Desligamo-nos do planeta, do ritmo da vida e da criação, das estações, do nascer e por do sol e da lua, do ritmo das marés e do pulsar geral da terra-mãe.
Colocamo-nos acima das restantes espécies (animais e vegetais) que connosco coabitam. Com que direito?

Criamos ilusões que transformamos em objetivos de vida e que a tudo se sobrepõem.
Até a nós, seus criadores.

Mas ainda assim sentimos esta contínua e inextinguível fome e sede de felicidade. Queremos, a todo o custo ser felizes!
Lembremos então, com N. Hawthorne, que «A felicidade é como uma borboleta que, quando perseguida, está sempre além do nosso alcance, mas que, se nos sentarmos calmamente, pode pousar sobre nós.»
Conceição Paulino

15 janeiro 2012


longe vão as aves

longe vão as aves
em seu matutino voo.

novos mundos
nascem
cada dia  que
renasces o mundo
renovas

em teu riso o sol
se ilumina e
se acalenta a alma

de regresso estão
as aves a festejar
o começo dos dias.
Conceição Paulino

13 janeiro 2012

numa adaptação do "se" de Kipling, o olhar do autor sobre o amorfismo nacional

Pessoalmente agradeço, ao autor, a possibilidade de divulgação que me deu.
 Grata meu querido amigo António Oliveira.

Esta a introdução que o autor me enviou:

«Numa adaptação “forçada” do “Se” de Rudyard Kipling, deixo a maneira como encaro austeridades (sempre para os mesmos!) as mentiras que as justificam, as nomeações para os amigos, a “morte” para quem tem mais de setenta anos e tudo o resto que esta gentalha anda por aí fazer.»


troikados!


Se és capaz de manter a calma, quando
todo mundo ao redor já a perdeu e te olha,
e de acreditar quando todos duvidam,
e para esses ainda encontras desculpa,.

se és capaz de esperar sem desesperares
e, enganado, não mentires ao mentiroso,
ou odiando, até do ódio te defenderes,
sem nunca te pensares bom ou louco,

e se és ainda capaz de pensar e sonhar
sem fazeres dos sonhos teus senhores e,
encarando esta gente, ainda conseguires
tratar da mesma forma todos os impostores,

se és capaz de aguentar a dor de ver mudadas
em artimanhas as verdades em que acreditaste,
destroçadas as coisas por que deste a alma,
e as queres refazer com o nada que te vão deixar,

se és capaz de arriscar sem refilar
tudo quanto sonhaste na vida e,
ao perder, porque vais perder!, e sem dizer nada,
resignado, voltas a acreditar e a partir, 

e de forçar coração, nervos, músculos, que é só
o tudo que não te conseguem tirar,
e porfiar assim quando, na miséria, ainda
 há em ti a vontade  que te ordena: persiste!

se és capaz de, entre matreiros não te corromperes,
e entre estes políticos, não perder a naturalidade,
e dos bons amigos te defenderes,
e se, mesmo assim, continuas a acreditar,

e se ainda és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal da resignação algum valor e brilho,
teu é o governo com tudo o que te vai tirar aqui,
e – o que ainda é muito mais – estás troikado, meu filho!

                                                                  António M. Oliveira

10 janeiro 2012

Gestos com sentido

Gestos com sentido


caio
mas só
para me
levantar
caio.

esboço o gesto
penso-me
crisálida…

rasgo-me
para me renascer.
Conceição Paulino

09 janeiro 2012

a partir do poema "Esta Lira de mim - poema para Maria de Magdala - ver original no link abaixo



Que manto de silêncio assim te esconde* 
dos ávidos olhares que te buscam?                          
Perdidos os teus passos numa fronde
teu nome, lenda e força  ofuscam      
a memória que de ti roubaram.

O vão aviltamento superaste.                  
Eles, no esquecimento se quedaram                      
mas tu, no firmamento, perduraste.  
A lenda que o sem tempo deslumbrou!*
Maria Madalena, puro amor

d’alma cresceste,  tudo enfrentaste.
Sofreste mas, com ânimo e fervor,                                                                              
entre os astros um lugar ganhaste.
A boa nova, espanto e maravilha*
p’lo mundo, tempos fora, transportaste  

feita fonte, alimento e partilha.
Maria Madalena, ou Maria
de Magdala, ao Olimpo ascendeste.              
Nos céus brilhas, farol e nossa guia.
De Norte a Sul, de Poente a Este.

O turbilhão dos tempos te tragou*
num gesto leve, e à vida te ofertou.

Conceição Paulino
02.01.2012
S. Mamede de Infesta
* 4 versos do poema Esta Lira de Mim – poema para Maria de Magdala, de José-Augusto de Carvalho

07 janeiro 2012

abriu a caça ao cidadão comum


este modelo de intervenção (será fiscal?) chama-se "caça ao cidadão médio e pobre".
O incauto cidadão comum, médio trabalhador por conta de outrem (independentemente do vínculo ser com entidades privadas ou públicas) os pensionistas e afins,  levam cada cacetada que até vêem E.T's.


Os GRANDES infractores têm um tratamento diferenciado. 


Creio que o paradigma (há que usar uma palavra mais erudita em função de quem se trata). São ilibados sem se perceber muito bem como ou porquê. Arrastam.se os processos até prescreverem..., colocam os capitais em paraísos fiscais; fogem ao fisco colocando as sedes das empresas, firmas e sociedades em países vantajosos sob múltiplos aspectos económicos...


AH,  respiro de alívio...Afinal não foi muito difícil descobrir as medidas OU, não medidas que são aplicadas, quer aos grandes infractores - de crimes económicos ou outros - e ao (denominado) capital (empresários; agentes económicos vários, bancos, directores gerais, C.O's, políticos, etc) e seus detentores.


Sinto-me mais esclarecida, mas desconheço quantas mais marretadas, vocês que me lêem, e eu, vamos levar no curto e médio prazo. 
Não refiro o longo pois à força de tanta paulada não vamos chegar lá.
MAS...como não há bela sem senão não ficamos por aqui.
Vejamos:
Assim vivemos, cada vez mais, a nossa relação com o estado....
...ataca e esconde a mão...
Onde é que esta relação de falsa-fé nos vai levar?Que andamos aos trambolhões sabemos. Estamos sempre a dar com os costados no chão ou a levar bordoadas...Ai isso sabemos bem pois elas doem e se não matam, por enquanto - a continuar assim mão tardamos a cair que nem tordos...

já escrito em 22 de Maio de 2006 - os pensionistas e os subsídios



O Secretário de Estado do Orçamento, na sua retórica política, equacionou como solução para " ajudar à consolidação orçamental do país e da Segurança Social" a possibilidade de ser retirado aos pensionistas o subsídio de férias.
E porque não?
Não gozam férias todo o ano?

ah, ah, ah….
eles são SPA’s, férias em Cuba, no Brasil então não se fala… no Inverno vão esquiar para a Suíça…bem e veraneiam em muitos outros locais, mais luxuosos e “exquisits” que me coíbo de enunciar….por piedade dos que não sendo pensionistas mas políticos, gestores, bancários, empresários e afins, não podem dar-se a estes luxos

devagar

(abaixo o poema completo)

devagar

|como quem teme|

descerrei as pálpebras.
buscando-te

olhei tudo ao derredor.
só o vazio de ti
permanecia.

cansadas

|em suave batida|

cerraram-se.
para sempre.

mas

|no suave movimento|

ao fecharem-se,
descobriram a luz
que abertos não viam.

Conceição Paulino

06 janeiro 2012

"De tudo ficaram três coisas" -Fernando pessoa

 (foto de minha autoria/Lxª)
"De tudo ficaram três coisas:

 A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...

 Portanto devemos fazer:

Da interrupção um caminho novo
Da queda um passo de dança
Do medo, uma escada
Do sonho, uma ponte
Da procura... um encontro"

 Fernando Pessoa

05 janeiro 2012

Poema de Miguel Torga


Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

03 janeiro 2012

Painel numa rua da Alemanha - deu.me vómitos

Painel numa Rua na Alemanha!
Há um ditado português que diz: «Vozes de burro não chegam ao céu», significando que não chegam a parte alguma, muito menos aos nossos ouvidos.
Há ainda um princípio, de superioridade moral que corresponde à indiferença a que votamos certas “bocas”, certos comentários, ou boatos de determinadas pessoas porque só nos toca, só nos ofende ou…magoa quem nós deixamos. Nisto eu acredito e por este princípio me tenho norteado.
   MAS…não creio que nenhum destes princípios se possa aplicar ao conteúdo deste painel pendurado numa rua da Alemanha.
Pelo contrário, a indignação joga alto e bom som.
Individualmente, enquanto mulher portuguesa “não me aquentaria, nem arrefentaria” não se dessem as seguintes circunstâncias:­­-
1.    Portugal e todos os seus cidadãos, são, de pleno direito, cidadãos da União Europeia;
2.     Os primórdios da União situam-se no ano de 1950 e foram seis os países fundadores (Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e os Países Baixos);
3.     Em 1 de Janeiro de 1973, mais 3 países (Dinamarca, Irlanda e  Reino Unido) elevando o número dos Estados-Membros para nove;
4.     Em 1986 Portugal e Espanha aderem à União Europeia;
5.     Em 1995, a União Europeia inclui mais três novos Estados-Membros (a Áustria, Finlândia e Suécia) com os acordos de “Schengen”;
6.     Em 2004 dez novos países (Estónia, Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia e República Checa) aderem à União Europeia tendo, em 1 de janeiro de 2002, sido implantada a moeda única: o euro (€);
7.      O que começou como uma união puramente económica converteu-se numa organização ativa em inúmeras áreas abrangendo todos os estados membros (pelo menos em teoria), desde a ajuda ao desenvolvimento, à política do ambiente e a outras áreas vitais para uma europa unida, mais segura e globalmente mais rica, mais equitativa e justa em todos os patamares de vida, tanto económica como social, promovendo(?alegadamente?) os direitos humanos e a democracia.

­­­­­­­E o problema reside na evidente contradição de tratamento entre pares.
Todos os países da união europeia são pares entre si, unidos por intenções de solidariedade (pseudo?) - nos dados, factos e intenções da mesma, de que a Srª Merkel - agora (?) - é mandante e “pitonisa” sobre o todo, constituindo o par Merkozi enquanto este for útil à sua agenda pessoal e germânica. Ora se ela, 1ª figura de estado alemão (quantos de nós, portugueses ouviu falar ou sabe quem é o Presidente da Alemanha?) não é pessoalmente responsável pelo painel este expressa o desprezo de quem o fez e colocou, cidadãos ou grupos, e se os alemães têm a fama da eficiência, eficácia, cidadania e produtividade é bom que lhe façam jus e torna estranho que o dito painel tenha sido colocado e a polícia feito vista grossa.

É ofensivo para um estado membro, para um primeiro-ministro a quem a senhora Merkel abraça com um grande e simpático sorriso afirmando ter por ele muita simpatia. A hipocrisia não me cai nada bem!

Vivemos uma situação de crise porque os sucessivos governos (não só o português mas é o que interessa para o caso) não souberam viver com o dinheiro que tinham. Endividaram-se durante anos sucessivos, com a agravante de que tanto endividamento (do estado, repito) não produziu riqueza. Só mais endividamento e agora todos nos esmifram, até os bofes saírem pela boca, sob a batuta sorridente da chanceler alemã que tem que governar de acordo com o sentir do povo alemão e da sua Alemanha.
E desse sentir nós vamos sabendo, não só pelo cartaz como por notícias de tantos emigrantes portugueses que sentem na pele a diferença de tratamento.

Se a União Europeia não existisse, ou se dela não fossemos membros, o peso do cartaz, das palavras e dos sentimentos expressos seria bem diferente.
Pessoalmente nem me indignaria. Lamentaria o racismo e a pobreza de espírito de quem assim agisse.
C.P

02 janeiro 2012

O estado paga ou NÃO aos credores? (Qual o conceito de credor?)

O estado paga ou NÃO aos credores?
(Qual o conceito de credor?)

      Que me desculpe o autor*, mas parafraseio-o: confesso que vivi* e sem pejo digo a minha idade, 66 anos, pois é relevante para o que me vai na mente.
      Desde a época das vacas magras em ditadura, depois, magras ainda, ou mais magras na denominada mas não acontecida primavera marcelista.
   Nos momentos mais conturbados pós-pós 25 de Abril de 1974, 11 de Novembro de 1976, não se falava em quadrúpedes, nem magros nem gordos, mas numa suposta luz ao fundo do túnel.
Assim, entre as vacas magras e o esquelético dedo de Salazar a verberar, e a ameaçar-nos com as palavras e o seu sentido; as vacas magras em tom de sacristão de Marcelo Caetano e as doutas e mansas palavras sobre a iluminação no fim do túnel, por políticos mais ou menos teoricamente democráticos, uns mais, outros menos…ou ainda, muito menos...

|um túnel de que nunca vi o fim muito menos a luz e, em mais de quarenta anos, na retórica política, só havia vacas magras. As gordas fugiam sempre para outros pastos porque não se davam bem com um país de…ovelhas|

Destes políticos de nova geração que quando falam pensam que nos convencem que ouvimos a voz de um qualquer infalível deus, quando a realidade é que nem sabem o que andam a fazer exceto a lixar-nos, por mim falo, desde há longos sessenta e seis anos que os sucessivos governos me lixam.
  Aborrece-me escrever algo que se assemelhe a uma croniqueta sociopolítica porque acabo repetindo ideias. Mas que fazer se já outros mais sabedores, e lembro Guerra Junqueiro** para não recuar muito, nos escritos deixados nos iludem – sem intenção pois não eram videntes. Ao lê-lo alguém mais desatento pensará estar a ler um texto referente à atual situação.
  Entre todos os cortes ninguém me convence que a retirada, não num mas em dois anos |só dois, será?| consecutivos dos subsídios de férias e de Natal é anticonstitucional e dou por mim a rir com este pensamento: foi feito um alarido quando umas alminhas políticas disseram que os estados não pagam dívidas e vozes sábias e aguerridas se ergueram em defesa do bom nome dos (des)governantes e do país enquanto entidade de bem­­­­ que paga aos seus CREDORES.
Então como justificam o não pagamento dos subsídios de que nos são devedores?
E onde as vozes dos constitucionalistas e demais órgãos com função de zelar pelo cumprimento das leis e da 1ª de todas: A Constituição da República Portuguesa e todos os direitos sociais e laborais adquiridos e consagrados?
  Os subsídios dos trabalhadores não são subsídiozinhos caritativos. São direitos adquiridos ao longo de muitos e muitos anos de trabalho e que como tal figuram na lei, sem margem para dúvidas ou interpretações dúbias. É uma dívida que o estado detém para com cada um de nós, seus credores e não suas árvores das patacas ou escravos.
 Vá lá, gabemo-nos de que fomos dos 1ºs (ou fomos os 1ºs? já duvido das ditas verdades históricas dado que o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro nunca devem ter acontecido, única e possível razão para estas datas deixarem de ser feriados comemorativos) a acabar com a escravatura*** – novas formas se perfilam.

Post Scriptum: descobri o conceito de credores: os bancos, a banca, que para além dos chorudos lucros anuais contrai dívidas - o conceito de credor à portuguesa na perspectiva dos governantes! - e, vai daí, o governo, ou seja NÓS,  pagamos. É urgente abrir nova entrada e actualizar os dicionários de língua portuguesa.
Conceição Paulino
01.01.2011
S. Mamede de Infesta
    - *Pablo Neruda – título de um dos seus livros
   -  **Escritor e político,  (1850-1923) formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Foi deputado. Em 1891 aderiu aos ideais republicanos. Iniciou uma intensa escrita poética com o fim último de, pela crítica, renovar a sociedade portuguesa. Regressou à política com a implantação da República, tendo sido nomeado Ministro de Portugal em Berna. Leiam (pelo menos) “A Velhice do Padre Eterno”  
  - *** O Marquês de Pombal aboliu a escravidão em Portugal e nas colônias da Índia a 12 de fevereiro de 1761, pelo que Portugal é considerado pioneiro no abolicionismo. Contudo...só a  25 de Fevereiro de 1869 se verificou a abolição completa da escravidão no império português. Escravatura é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro.
    
Os escravos de Esparta, não podiam ser vendidos, trocados ou comprados. Eram propriedade do Estado , que podia conceder a proprietários (empregadores?em linguagem actual) o direito de uso de alguns hilotas; mas eram pertences do Estado que tinha poder sobre eles 
     (ora vejam lá se não há semelhanças… na condição de escravos da pós-modernidade é óbvio que não podemos ser credores, somos, sempre e só, meros devedores – eles assim pensam. ...ai Laurindinha, vem à janela…)
Eu,  credora do estado Português me afirmo e reclamo o pagamento das dívidas.

01 janeiro 2012

Contradições da escrita, do ser e seus sentidos - poema, não poema,prosa: onde e como?

Estes três textos vieram, em resposta ao desafio de acrósticos sobre o Natal, da mente e mão (amigas) de António Oliveira. O natal passou. Considerei serem escritos muito adequados a este 1º de Janeiro de 2012. Acreditem que valem bem a(s) leitura(s), digo eu. 

acróstico Natal



                      Nnnnnnooooiiitte!
                     
                      Alecrim

                      Ternura

                      Alguém

         (e uma) Lágrima...
- - - - - - - - - - - -

?O que é um poema?


Isto é um poema!

solidão!!!.

isto não é um poema!

“vogais”

 amar?
 doer?
   sim,
amor!
   eu!

e isto é um poema!

“amar”

amar não brinca palavras
trinca, mói, (dói!), palavras de viver!


e isto, obviamente, não é um poema!

“prosa?”

um poema é a dois, mesmo que só haja um! ou dois em um! ou um que falta! ou um que já não é, nem sabe ser, só! nem Narciso amava só (tinha uma imagem!), e nem era amor!
um poema é dois versos (dois versos fazem um poema!) e um poema não é dois versos, mesmo que escrito a dois!
não cabe num poema o cheiro, o sabor, o sentir, o calhar, que não sabem viver sozinhos!
um poema é obra da mão encaminhada por outro, o tu que inventa o eu (e se for ao contrário não me importa!), e é por isso que é escrito a dois! e os dois são o poema!
e o que é um poema?
não sei!
António Oliveira