30 dezembro 2007

“Confesso que vivi”

(Acrílico sobre tela - minha autoria)

Neruda que me desculpe o plágio, mas a frase surge tão natural como o acto de viver e dele decorre, não podendo, neste momento, dizê-lo de outra forma. Usar outra expressão.


Porque VIVI. Vivi intensamente até aqui, o que não significa que deixar de o fazer.
Contrariamente à larga maioria de pessoas, VIVI!
Não me limitei a sobreviver.
Ainda que, para muitas pessoas este “sobreviver” implique dinheiro, estatuto social e férias em estâncias de moda. Mas tudo cheira a mofo, a cópia, ou rascunho de modelos socialmente aceites e significativos símbolos de sucesso que funcionam como moeda de aceitação em determinados meios, ou PARA…

Vivi! Vivi intensamente.
Tudo o que fiz foi com paixão, intensidade e verdade pessoal intransmissível. Não cópia, não modelo de/para aceitação, reconhecimento ou proveito próprio.

Como diz o velho ditado - qual foi o escritor que o disse?
Plantei árvores.
Fiz filhas – assim saíram – Mulheres. E delas me orgulho. Muito.
Escrevi livros; intervim social e politicamente – quando acreditei na mudança do modo de fazer política – do paradigma de intervenção política. Quando me apercebi que o novo era o velho, travestido, afastei-me.
Desisti de exercer o meu direito de interventora política enquanto tal – agente política – mas não todos os de cidadania interventora e passiva (afinal votar é passivo q.b) e o exercício à indignação e à acção.

Fui amada e amei intensa e inteira de uma forma por poucos vivenciada.

E porque faço hoje este acto de contrição, esta confissão, coisa a que tão avessa sou?
Por causa da palavra “balanço” de fim de ano.
De balanço reprojectando intenções e projectos não cumpridos para o novo ano que aparece em revistas e jornais cada vez que um ano chega ao fim.

Não costumo fazer balanços nesta época. Faço-os quando deles sinto necessidade.
Faço-os no dia em que nasci, em que o mundo físico se tornou real e esta minha caminhada se iniciou. Aí sim, simultaneamente, acabo e começo um ano.

E faço-o também porque hoje a última das duas filhas que não via há um exacto ano, voltou a partir.

E aí, a mãe, animal e fera que sou, contra o contrário da pacifista activa do dia-a-dia - de todas as provocações e até agressões - quando fareja ameaça, desconforto, dor causada ou sente o perigo, sob qualquer forma rondar as crias (neta incluída), mantêm-se acordada, atenta e em vigília. Pronta a atacar e defendê-las, mas simultaneamente peada pelas próprias e o seu inalienável direito à autonomia e autodeterminação e ao respeito que por elas nutro.
Ao direito de exercerem as suas opções no exacto momento que escolherem, independentemente do sofrimento que acumularem ao longo do processo e pelo meio.

E quando esta impotência – que o é. Porque deixa de ser um puro acto de amor, deixa também de ser um acto racional antes puro instinto de animal – me assola, muitas coisas me vêm à cabeça, se projectam e correm nela, velozes, síncronas e assíncronas.

E hoje expressaram-se nestas palavras que vos deixo e na certeza de que enquanto continuar a respirar continuarei a…VIVER e que, como os chaparros do meu amado Alentejo, resistirei. Resistiremos. Por isso reafirmo: CONFESSO QUE VIVI!
Porque só assim poderei um dia morrer. Poderei morrer porque VIVI!

20 dezembro 2007

evolução do ser

NATAL é nascimento, logo, VIDA.
Mas falar, pensar: VIDA, implica pensar em condições de dignidade e respeito para todos os seres humanos na face desta “bola que rebola” pelo espaço…

Porque VIDA sem condições dignas, sem respeito, sem o necessário à sua sobrevivência em (repito) dignas condições, sem “mínimos”, é uma indignidade que nos envergonha e quando se chega a nós, esmolando, nos embaraça e aumenta a vergonha que já sentimos.

As guerras, sob todas as formas que revista, são a maior de todas as vergonhas, a que mais nos afasta da condição de seres humanos, porque humanidade implica: alteridade, respeito pelas diferenças, amor, partilha, solidariedade…
As guerras em nome do bem-estar, da preservação do modo de vida da denominada sociedade ocidental…ignomínia pura.

Deixo esta reflexão porque os actos praticados por este mundo fora (alguns por nós, por cansaço e por vezes por indiferença ou desalento) nunca poderão ser símbolos de que na Terra se vive o espírito de NATAL, que é o mais simples, puro e forte espírito de fraternidade que se poderá vivenciar e foi a mensagem mais forte dessa figura que foi a de Jesus e a de tantos outros profetas e avatares de outras religiões.

Porque o que é verdadeiro, genuíno e essencial ao SER humano é igual no pensamento, mensagem, de todos os seres que se constituíram pilares de diversas religiões.

A cada uma das companheiras e companheiros desta caminhada, pelas letras e imagens, deixo este meu sentir em que a mais forte emoção é a vergonha pela actual condição do mundo.
Das guerras, da fome, da descriminação, do ódio, da mentira, do engano, do primado do dinheiro sobre o SER.
Continuo a acreditar que um dia saberemos mais e melhor.
Faremos mais e melhor do que agora porque o que se vê de nossos actos, globalmente falando, é menor, redutor da humana essência.

Apesar de tudo isto desejo para todas e todos vós um período de paz, harmonia, serenidade e saúde e que de nós sempre alguma luz, pacifismo e fraterno Amor irradie e se espalhe pelo mundo.

A todos vós um grato abraço pela ofertas-partilhas.

Que a luz esteja connosco e sempre brilhe forte irradiando.

09 dezembro 2007

Oferta e desafio

«E eu a dizer que sim…


E eu a dizer que sim eu a julgar que sim e afinal não. E enquanto eu dizia e pensava que sim a mulher falava e sem lhe ouvir as palavras nem mesmo a olhar sabia que tudo nela dizia que não.
A vida a correr louca e nós cavalos com freios cada um a julgar para seu lado a julgar que julgávamos pensávamos e queríamos o mesmo, mas não.
Porque o real é uma coisa e o que cada um julga acha pensa, e disso se convence, outra.
E cada um a julgar que sim só que o sim de cada um era coisa diversa. Eu a julgar que a nossa diminuta conversa, comunicação, se devia ao facto de nos entendermos até no silêncio às escuras, vendados os olhos nos encontrarmos nos reconhecermos para além da pele. Mas não. Eu a julgar que sim mas não e ela, a mulher, a julgar diferente do que eu julgava. A julgar-me e a raiva insidiosa a crescer nela como o filho que nunca parimos.
E ela a falar e eu a julgar que sim sem a ouvir porque não era preciso ouvi-la. Sabia-a. Conhecia-a. Reconhecê-la-ia. Às escuras vendado cego sem tacto. Reconhecê-la-ia para além da pele. Eu a julgar que sim.
Mas ela mulher, já não égua nem cavaleira, mulher-centauro, abalara à desfilada a inventar novos caminhos a criar mundos que eu desconhecia, nem julgava possíveis, enquanto continuava estirado na cadeira da varanda a julgar que sim a ler o jornal os livros a fazer palavras cruzadas a desvendar charadas porque para mim tudo era manso lago antigo e seguro reconhecido e único território inamovível e inalterável em rotinas de bem-estar harmonia compreensão. Para lá das palavras.(...)»


Excerto de um dos Textos InConSequentes que constituem a 2ª parte do livro


P.S - No lado drtº têm a foto do livro e o email da EdiumEditores