26 março 2009

Textos do 12º Jogo das 12 Palavras


Aqui deixo o texto que enviei para o 12º Jogo das 12 Palavras no Eremitério, "eu, benjamim" e um outro, inédito intitulado: "amuletos".

Lembro que uma visita ao Eremitério vos proporcionará uma leitura diversificada e vastamente rica.

O Jogo das 12 Palavras está a fazer um ano de edição. Considerando ser um projecto colectivo, não competitivo, meramente lúdico e de amor á escrita não é coisa pouca. Lembremos ainda que, pelo meio, nasceu um livro "22 OLHARES SOBRE 12 PALAVRAS" que podem adquirir solicitando-o à editora pelo email: ediumeditores@gmail.com.

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eu, benjamim

sou benjamim, filho mais novo de Jacob _ mais tarde baptizado por Deus, como Israel. dos seus doze filhos nasceram as doze tribos de Israel - ao que dizem seu filho dilecto, mas em verdade, José o era. minha mãe, Raquel, morreu ao dar-me à luz e suas últimas palavras foram o nome que queria dar-me: Ben-Oni. meu pai mudou-o para este por que respondo. nossa vida é regida pela simplicidade. o amor expressa-se em todos os nossos gestos. de uns para com os outros e para com a natureza e Deus que tudo nos dá. a verdade é um valor instilado desde o berço apreendido pelo exemplo dos mais velhos _ só pelo amor, pela verdade e pela partilha nos tornamos dignos da humanidade que o sopro divino em nós instilou. claro que o aprendizado da partilha também é uma necessidade para a sobrevivência da tribo e do clã. assim como a coragem. mas somos pacíficos. vivemos do pastoreio. eu sou pastor e tocador de flauta. alimentamo-nos de legumes e cereais, de leguminosas e do leite das cabras. com eles fazemos os queijos que duram mais tempo e colhemos os frutos que as árvores dão no tempo certo.
com estas vitualhas vivemos saudáveis e longas vidas. por vezes a dieta é enriquecida com peixes. muitos são fumados ou secos criando uma reserva para dias de carência. só em ocasiões festivas comemos carne sacrificando um ou mais animais, mas para tal lhes pedindo permissão e perdão. as nossas mulheres cuidam dos filhos _ de todos, pois todos somos uma unidade _ e confeccionam os alimentos. desde crianças aprendem a tecer os fios do linho, do cânhamo e a lã com que fazem as nossas vestes, mantos, mantas e demais panos necessários à protecção dos corpos face as intempéries. aprendemos o valor da poesia e construímos odes ao amor terreno e ao amor divino que nos criou e de tudo nos provê. o amor de uma mulher tem a leveza do beija-flor e faz florescer nossos dias quando nos enriquece com filhos. uma maldição se abateu sobre nós quando, por vinte moedas de prata, vendemos José aos ismaelitas tendo-o estes, mais tarde, vendido no Egipto, a Potifar, eunuco do faraó e chefe dos guardas. desde essa altura os cereais não medraram, os pastos secaram, assim como os poços.

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amuletos

na primeira hora, após o nascimento de Benjamim, almas perversas teceram uma maldição e preconizaram que o feitiço só se quebraria quando um amor de verdade florisse num coração coragem onde a simplicidade fosse apanágio do ser em partilha de humanidade e, reunidas fossem ainda as seguintes condições: deveria a pessoa, detentora de tal coração encontrar Benjamim quando Pan, na sua flauta, tocasse uma ode ao amor; a leveza do toque de seus lábios semelhasse a do beija-flor ao recolher, nas flores, as vitualhas que lhe são alimento.
quando tais lábios tocassem os de Benjamim a maldição desfar-se-ia. seria nada.

1 comentário:

Paula Raposo disse...

Gostei imenso dos dois textos!! Parabéns. Muitos beijos.