10 outubro 2007

A propósito de pedras e pedreiras - reflexão com riso e sem lágrimas

Outro dia ri-me com uma pergunta que, anónima pessoa, que assinou, “intruso”, deixou numa foto do FOTODICIONÁRIO , a propósito do anel em meu dedo.
A questão foi: “ (descreve-me essa "pedreira" que tens aí no dedo :-) )
Então, depois de rir, veio-me á ideia isto que assim serve de explicação, não de descrição, mas também lá poderemos chegar.


A Vida está cheia de pedras e pedrinhas onde tropeçamos.
Com engenho, arte, empenho e racionalidade, também força – principalmente esta, obstinação em viver, criar alegria e bem-estar interior - o outro é importante, mas é a este que agora me refiro - lá nos erguemos, quando chegamos a cair, ou endireitamos e seguimos viagem, quando só tropeçamos.


Então debruço-me e apanho essas pedras.
Levo-as comigo.

Mentalmente burilo-as, tentando ver para além da tosca aparência da maioria.

Notem que digo tento.
Porque nem sempre consigo.
Mas continuo a tenta, insistentemente procurando a beleza da pedra escondida do imediato e reve olhar, bem como a lição nela inscrita. Porque as pedras são uma outra espécie de "livros", ou registos, se preferirmos.

Há ainda as “pedras” que escondidas mãos nos atiram para ferir feroz e traiçoeiramente.
Essas são-me as mais preciosas.
Porque nada pior existe do que ser tão anódino, invisível, que nem sabem de nossa existência ou, se sabem lhes é indiferente, ao ponto de se esquecerem que existimos.
Mesmo que sentados a nosso lado, ombro com ombro.

Faço então colecção de todas estas pedras.
De todas estas e das que me chamam quando passo.

Levo-as para casa e faço pedreiras de equilíbrio e beleza.
Ando com elas nos bolsos, nas mãos, nas carteiras,…, espalho-as pelos móveis.
Mentalmente lapido-as.

Até à essência.
A delas e a minha.

E com elas faço jóias.
Mentalmente.

O anel-pedreira, em meu dedo, é uma projecção mental feita com algumas dessas belas pedras misturadas.
Por isso o uso.

Para não esquecer que cada pedra é muito mais do que algo inerte, feio, tosco e baço, sem vida, sem cor, sem alma (ao que dizem. Pois por vezes chamam-me e se me chamam algo mais existirá do que...o nada), que nos fere.

9 comentários:

Anónimo disse...

HÁ MALES QUE VÊM POR BEM, JÁ DIZIAM OS ANTIGOS.

A PERGUNTA UM TANTO INSIDIOSA SOBRE A PEDREIRA NO DEDO, ORIGINOU UM TEXTO MTO. INTERESSANTE SOBRE PEDRAS E SEUS ENCANTOS.

GOSTEI

GATO VELHO

Anónimo disse...

"Crida" Conceição,
O teu texto, como, geralmente, os que escreves, são marcados pelo tom poético e, neste, principalmente, por um certo sentido filosófico. Mas eu me lembrei do filme "La Strada", de Fellini, na sequência de uma conversa entre o "Louco" e Gelsomina, em que o primeiro diz à segunda que até uma pequenina pedra tem uma função na vida, uma utilidade, só que ele não sabe qual. Um beijo nordestino-alentejano e uma boa noite.

Sei que existes disse...

Muito interessante esta tua explicação!
Beijocas grandes

bettips disse...

Como não perceber imediatamente? Ao ler o texto, desdobrava o pensamento. As pedras falam. Todas. Lembro as primeiras da minha vida: saltava as junções delas de casa à escola. E as outras, onde tropeço. E as que me enchem e pesam as mãos e os bolsos, em caminhos. E as atiradas, eu, alguém. As especificamente esquecidas (adormecidas). Um dia, havemos de as contar, nas prateleiras da alma e nas outras. Bjinhos

Carla disse...

Venho convidar-te a brindar comigo amanhã 18/10... É dia de festa lá no meu cantinho...

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Anónimo disse...

Já dizia Fernando Pessoa:

"Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Magnífica a tua reflexão sobre o assunto! Extrema sabedoria, saber reconhecer nas pedras que vamos coletando pelos caminhos, aquelas que devem ser apenas contornadas, ou recolhidas, lapidadas, guardadas, buscando extrair delas toda a essência que nos forneça um verdadeiro aprendizado de vida.

A imagem do post anterior é de uma beleza comovente! O encontro de duas lindas mãos! Uma trazendo as marcas de uma vida longa, e a outra o viço de algo novo, a começar. No texto, um tema que preocupa pelo descaso com que os idosos vêm sendo tratados pelos órgãos governamentais. Mas o que nos assusta (e entristece) mais ainda é saber que muitos deles são abandonados pela família, desprezados, humilhados, por quem deveria deles cuidar, reverenciar, agradecer a Deus por ter no seio familiar um membro que merece todo respeito e consideração. Num momento em que eles poderiam estar ‘mostrando’ a bela coleção de pedras colhidas ao longo do caminho, falando sobre tudo aquilo que com elas aprendeu, essas pessoas se sentem desamparadas, encontrando no final da vida muito mais pedras que machucam, do que aquelas encontradas ao longo do caminho.

Enfim, amiga, é a vida mostrando suas diversas faces.

Espero que estejas bem, meu anjo, e que a vida esteja te oferecendo também belos 'diamantes' para com eles adornar teus sonhos mais bonitos.

Deixo-te mimosas pétalas de flores silvestres, um beijo no coração, e o desejo de horas lindas e ensolaradas venham a compor os teus dias.

Daniel Aladiah disse...

Há quem diga que há pedras que podem guardar a nossa alma...
Um beijo
Daniel

Anónimo disse...

Tens andado mto ocupada, deduzo, pois andei a visitar os teus blogs, e estão desactualizados. O curso não será?
Bjs
TD

maresia_mar disse...

Ola
amei este teu post, há pedras e pedras, cada uma com um história e com diversos sentidos!
Eu ando tão longe daqui, dos blogues e afins, é uns com tudo outros sem nada, tenho tanto trabalho que não tenho tempo para visitar os meus amigos nem cuidar do meu jardim - o meu blog - Não te esqueças de ser feliz. Bjhs