27 março 2006
As velhas senhoras (parte VI)
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Depois de jantar levantamos a mesa, nesta época sempre no jardim, colocamos a louça na máquina e muitas vezes dou um pequeno passeio pela beira-rio.
Há uns quatro anos Adelaide ainda me acompanhava. Depois começou a escusar-se...As pernas pesam-lhe, sente-se trôpega e receia o piso incerto. Eu também, mas pego numa bengala que pertenceu a meu avô Alexandre, com um pequeno punho em prata, e levo-a para me amparar nalgum desequilíbrio.
Depois de colocada a louça na máquina abro o portão do jardim, respiro amplamente a brisa marinha, estendo o olhar pela vastidão das águas da foz e já do mar, misturadas e em combate ou abraço, saúdo alguém conhecido e atravesso a rua até ao passei à borda do rio. Depois, devagar, inspirando bem, ando quinze ou vinte metros, num e noutro sentido, delicio o olhar com a paleta de azuis, rosas, anilados e violetas que cobrem o céu, mar e rio (ainda ontem as cores eram os rosas de Carneiro nos quadros), miro e remiro os pescadores da borda rio (e por dentro sorrio sempre. Pesca inglória se o objectivo for apanhar peixe. Mas outros valores devem nortear estes filhos de Adão que por aqui enxameiam e a quem conheço maioritariamente os nomes).
Vou-os cumprimentado gentilmente à passagem, pois também gentilmente me tratam.
Cumprido este pequeno mas delicioso passeio volto a atravessar a rua (por vezes um pescador deixa canas e carretos e vêm ajudar-me pois que sendo teimosa não uso, na circunstância, a passadeira, mas bem diante de minha casa onde, por sinal, a rua estreita.
Regresso a casa, ao doce conforto dos cheiros e dos afectos inerentes a estes, bem como à suave e doce companhia de Adelaide. Mulher invulgar e de grande sabedoria a quem muito quero. Um bem-querer mútuo, não duvido.
(continua)
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19 comentários:
tenho acompanhado o teu romance e como já salientei noutros capítulos gosto bastante da tua prosa fluente e bem elaborada. continua o "continua".
Beijinhos
Teresa David
Prometo que vou ler todos os capítulos,quando tiver um tempinho.
Mas deste gostei...Beijinhos
Deculpa lá mas este tipo de escrita é familiar... qual era o teu blog anterior, ou outro blog????
o meu sorriso o meu abraço
agradeço-te muito!
Mui belo. Delícia de leitura! Um beijo, amiga.
Passei para te deixar um beijinho. Vou imprimir tudo e depois vou ler, no momento não me consigo concentar a 100% na leitura, melhores dias virão.
Beijinho
As "velhas senhoras" continuam e nós vamos seguindo os seus trajectos. A Adelaide receou o piso incerto do passeio, e o teu percurso transformou-se numa contemplação soberba das pessoas e da natureza e de ti mesma. Talvez sem esse intuito, fizeste uma meditação tranquila e profunda. Porque "meditar" não é somente penetrar no "seu santuário" (onde mais ninguém entra), e permanecer uma hora, longe de tudo e de todos... O teu "passeio" transformou-se num óptimo momento de meditação, que te deixou, de certeza, muito bem contigo!
gostei muito do texto e do seu "recorte" bucólico. muito bem (d)escrito. beijos
adelaide....mulher Zen.
ou Tmara????
bjo.
Esta história é emocionante...
Saboroso texto.
regresso a casa... quo vadis?
jinhos, aguardo...
Também não tenho dúvidas, é um querer bem recíproco.
Continua...e eu aguardo.
~*Um beijo*~
Sem ter lido AINDA os anteriores, gostei imenso. Prometo que vou ler.. e adorar. com certeza.
Bom dia.
Como vou ter mais tempo livre, nada melhor do que cá vir mais vezes para "acompanhar-te" nestes teus passeios.
Para já, no próximo, escusas de servir-te da bengala, hehe...
Qualquer irregularidade no piso, amparas-te a mim. Certo?
Beijokas
Estou a gostar imenso....
Bjs. BShell
A tua maneira de escrever é óptima. Para além de se ler bem a tua prosa é muito bem elaborada.
Beijinhos.
as velhas senhoras ...ficam-nos na memória para sempre
lindo o teu texto!
Beijo.
Ah! Mas esta prosa também é um petisco para os nossos «sentidos»!
Também tenho que ir ler os capítulos anteriores.
Há muito que não nos visitávamos. O tempo não dá para tudo o que gostaríamos de fazer, pois não?
Bj.
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