30 agosto 2007

Devagar (e uma rectificação)

Já publiquei este poema noutro blogue, há muito tempo, e hoje me apeteceu lembrá-lo aqui.
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E AQUI, COM UM PEDIDO DE DESCULPAS UMA NECESSÁRIA CORRECÇÃO.
O SEU A SEU DONO!
Há tempos publiquei um poema que me enviaram, como sendo de Victor Hugo.
Hoje recebi um alerta, gentil alerta, de Maria Madalena do BLOG POESIAS E POEMAS QUE NOS TOCAM ALMA e reproduzo o referido poema que se intitula:
“ OS VOTOS ”
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“ Pois, desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado,E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.
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Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.
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Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis,E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos,Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezasE que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.
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Desejo, depois, que você seja útil, não insubstituivelmente útil,Mas razoavelmente útil. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante,não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente,E que essa tolerância não se transforme em aplauso nem em permissividade,Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.
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Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro,não insista em rejuvenescer e que, sendo velho, não se dedique a desesperar.Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor eé preciso deixar que eles escorram dentro de nós.
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Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo,nem em um mês e muito menos numa semana, mas apenas por um dia.Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom,o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
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Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo,Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,e que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.
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Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cãoe ouça pelo menos um joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal.Porque assim você se sentirá bem por nada.
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Desejo também que você plante uma semente,por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento dia-a-dia,para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
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Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:Isso é meu. Só para que fique bem claro quem é dono de quem.
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Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar quando o abuso se impõe.
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Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você.Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.
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Desejo, por fim, que sendo mulher você tenha um bom homem,E que sendo homem, tenha uma boa mulher.E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez,E novamente, de agora até o próximo ano acabar,E que quando estiverem exaustos e sorridentes,ainda tenham amor para recomeçar.
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E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar. ”
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cujo autor é Sergio Jockymann - 1978/***

Quem quiser pode conferir aqui e agradeço que divulguem a informação:


«IMPORTANTE: esta poesia, de autoria de Sergio Jockymann, publicada em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS, circula na internet como sendo de autoria de Victor Hugo, e assim foi publicada originalmente em nosso portal, com o título 'Desejos'. Contactados pelo verdadeiro autor, com muito prazer desfazemos o equívoco, estabelecendo os créditos a quem de direito.»

25 agosto 2007

In memoriam E.P.C





Eduardo Prado Coelho, homem de cultura, escritor, ensaísta, cronista e professor universitário faleceu.

Muitas vezes polémico, muitas vezes com inflexões no(s) percuros políticos nem sempre compreensíveis, deixa uma lacuna no nosso espaço cultural e da
expressão da portugalidade no mundo.

Para quem quiser saber mais deixo dois links:
  • 1 - Wikipédia
  • 2 - Semanário EXPRESSO
  • ONDE SE PODERÃO DOCUMENTAR VASTAMENTE, sobre este homem inegávelmente culto, mas não menos contraditório (nas opções políticas) - em minha opinião.

19 agosto 2007

a vida é ...

...uma imensa sinfonia na qual, ensaios, ensaios gerais e espectáculo são simultâneos.
Muitas vezes esquecemo-lo, largamos a batuta e a orquestra desafina, a sinfonia perde-se.
A vida, essa...desafina!

15 agosto 2007

Maddie versus Joana – Joana versus Maddie (quando uma vida parece valer + do que outra)


Tenho, como creio o país quase em peso, acompanhado, as notícias sobre o desaparecimento da criança de nacionalidade inglesa, Maddie (como a família a tratava).

Desde sempre uma angústia a apertar o coração, E, no peito, uma dor.
Por ela e por todas as outras crianças que desaparecem vítimas de vários tipos de violências.

Sempre também, o cérebro - que é um órgão estranho e consegue fazer-pensar-elaborar sobre “n” coisas em simultâneo sem que para tal tenhamos que nos esforçar - a comparar toda a actuação das polícias neste caso com o caso Joana, ainda tão recente.

Por respeito pela criança Maddie, e pela P.J tenho evitado escrever sobre o tema e, também, porque o que sei é pouco, ou nada, espremendo bem.

No entanto, das leituras policiais, desde criança, dos filmes e das séries policiais, sempre vi que TODAS as pistas devem ser filtradas e que desde o início se deve trabalhar numa linha de eliminação dos possíveis suspeitos mais próximos: no caso vertente, pais e amigos com acesso ao apartamento e à Maddie, para se poder focar a atenção noutras hipóteses.

Proceder por eliminatórias das possíveis hipóteses e ter sempre presente que TODAS são... hipóteses até que sejam comprovadas pelo conjunto de elementos recolhidos.

Ao que sabemos não aconteceu assim neste caso, dando-se de barato a inocência dos referidos elementos – familiares e amigos – e digo, ao que se sabe, pois admito que o que sabemos não corresponda ao que a polícia sabe, nem à forma como decide, para bem da investigação, tratá-los de uma determinada forma e não de outra.
Dando-lhes ou não visibilidade pública, mesmo que só no campo das hipóteses.


A eliminação sistemática de hipóteses permite focar a atenção noutras, com maior eficácia. Assim me parece que as investigações progridem.

Mas o que me incomoda é a forma diferenciada como o caso Maddie e Joana foram tratados.

Portanto uns continuam a ser gente, pessoas…. Outros (Joana e família)…
qualquer…coisa. ....
Quem quiser que encontre um nome apropriado. Não o faço para não ficar nauseada.

E se a polícia inglesa tem estes cães, um especialista em detectar vestígios de sangue muito tempo após, muitas lavagens depois e um outro (outros?) que detectam o odor de cadáveres; se há uma tão boa articulação entre a nossa P.J e a polícia britânica porque não foi, no caso de Joana, pedida a cedência dos ditos caninos?
Ou, porque não ofereceu a própria polícia britânica os animais?
Ou, caso tenham sido pedidos e não cedidos, porque nunca tal foi referido?

Ou será que a nossa polícia desconhecia a existência dos ditos especialistas caninos?

Em memória da Joana e face ao folclore mediático criado em volta do desaparecimento da Maddie, com tão importantes - porquê importantes? - pessoas - desde quando uma vida humana, para mais vida de criança, vale mais do que outra?

E AINDA – se os cães podem rastrear odores, tanto tempo após, porque não foram aproveitados para tentar rastrear odores residuais no caso Joana quando cá estiveram?

A mãe e o tio foram considerados culpados, mas a Joana continua desaparecida, nem sabemos se morta ou viva. O seu corpo não apreceu. Écerto que o tribunal deu o homicídio como provado, mas.....
Não mereceria ela melhor atenção e preocupação?

Merecia e…merece.

Uma vida é, sempre, igual a outra vida, no seu valor absoluto. O único que é real.


Quando entender esta lógica da “importância saberei que estou mental e espiritualmente doente.


P.S - quero colocar imagens de ambas as crianças mas não encontro a de Joana em parte alguma.

Aceito, pela lógica, que não conste do ficheiro da P.J de pessoas desaparecidas, pois se a polícia concluíu pelo seu homicídio e o tribunal julgou precedente condenando mãe e tio, descabido seria.

Já no caso do site Porto XXI - ESPERANÇA, não sendo um site oficial poderia, e, em minha opinião deveria manter em aberto o retrato de Joana, porque, morta ou viva, continua desaparecida - o seu corpo, ou ela.

13 agosto 2007

1 dia depois do centenário do nascimento de Miguel Torga

da portugalidade no mundo Largada


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Foram então as ânsias e os pinhais

Transformados em frágeis caravelas

Que partiam guiadas por sinais

Duma agulha inquieta como elas...

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Foram então abraços repetidos

À Pátria-Mãe-Viúva que ficava

Na areia fria aos gritos e aos gemidos

Pela morte dos filhos que beijava.

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Foram então as velas enfunadas

Por um sopro viril de reacção

Às palavras cansadas

Que se ouviam no cais dessa ilusão.

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Foram então as horas no convés

Do grande sonho que mandava ser

Cada homem tão firme nos seus pés

Que a nau tremesse sem ninguém tremer.
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Aos Poetas

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Somos nós

As humanas cigarras!

Nós,

Desde os tempos de Esopo conhecidos.

Nós,

Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas

Da fábula burguesa da formiga-

Nós, a tribo faminta de ciganos

Que se abriga

Ao luar.

Nós, que nunca passamos

A passar!...

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Somos nós, e só nós podemos ter

Asas sonoras,

Asas que em certas horas

Palpitam,

Asas que morrem, mas que ressuscitam

Da sepultura!

E que da planura

Da seara

Erguem a um campo de maior altura

A mão que só altura semeara.

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Por isso a vós, Poetas, eu levanto

A taça fraternal deste meu canto,

E bebo em vossa honra o doce vinho

Da amizade e da paz!

Vinho que não é meu,

mas sim do mosto que a beleza traz!

*****

E vos digo e conjuro que canteis!

Que sejais menestréis

De uma gesta de amor universal!

Duma epopeia que não tenha reis,

Mas homens de tamanho natural!

Homens de toda a terra sem fronteiras!

De todos os feitios e maneiras,

Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!

Crias de Adão e Eva verdadeiras!

Homens da torre de Babel!

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Homens do dia a dia

Que levantem paredes de ilusão!

Homens de pés no chão,

Que se calcem de sonho e de poesia

Pela graça infantil da vossa mão!

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Brasil

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Brasil

onde vivi,

Brasil onde penei,

Brasil dos meus assombros de menino:

Há quanto tempo já que te deixei,

Cais do lado de lá do meu destino!

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Que milhas de angústia no mar da saudade!

Que salgado pranto no convés da ausência!

Chegar.

Perder-te mais.

Outra orfandade,

Agora sem o amparo da inocência.

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Dois pólos de atracção no pensamento!
Duas ânsias opostas nos sentidos!

Um purgatório em que o sofrimento

Nunca avista um dos céus apetecidos.

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Ah, desterro do rosto em cada face,

Tristeza dum regaço repartido!

Antes o desespero naufragasse

Ente o chão encontrado e o chão perdido.

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Claridade

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Clareou.

*

Vieram pombas e sol,

E de mistura com o sonho

Posou tudo num telhado...

Eu destas grades a ver

Desconfiado

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Depois

Uma rapariga loura

(era loura)

num mirante

estendeu roupa num cordel:

roupa branca, remendada

que se via

que era de gente lavada,

e só por isso aquecia...

***

E não foi preciso mais:

Logo a alma

Clareou por sua vez.

Logo o coração parado

Bateu a grande pancada

Da vida com sol e pombas

E roupa branca, lavada.

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Miguel Torga/
(1907 -1995)

10 agosto 2007

3 poemas de Mário Cesariny

Passou ontem por isso só hoje publico.
O dia depois da dor é já dia de renascimento.
Três poemas de Cesariny:

Faz-me o favor...
*
Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
*
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
*
Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
****
Em todas as ruas te encontro
*
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
*
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
*****
*
voz numa pedra
*
*
Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
***
Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa
nenhuma
nada está escrito afinal

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Mário Cesariny

08 agosto 2007

com o olhar teces o caminho


com o olhar teces
o caminho
elaboras o caminhar.

pés descalços sentem
as agressões.

pedras, espinhos,
terra seca queimada
que queima a pele…
obstáculos todos eles
que desincentivam.

com o olhar, expressão

do ser, mudas
o mundo, o caminho e
o caminhar.

recrias a estrada.
azul, luminosa
infinita.


ao fundo, o mar.
ventre materno onde
podes repousar

e o caminho
sempre retomar.