09 maio 2006

E agora?


Hoje fui ao blog da Raquel V. e roubei-lhe o magnífico texto que colocou no 25 de Abril. Um testemunho impressionante de uma jovem cidadã interventora, consciente e solidária lutadora,

Antes do texto dela deixo-voo o meu comentário que só hoje consegui escrever. leiam o texto da Raquel, com atenção e carinho, olhem-no como porvindo de uma jovem com consciência social e não movida por isnstintos primários e meramente pessoais. Ouçam o grito de revolta em que nos diz do mau-estar, dos erros e dos abusos a que hoje estão, de novo sujeitos os trabalhadores. Os jovesn e todos os outros. E reflictamos sobre a herança que deixamos. a herança do 25 de Abril. Nós tivemos a festa, a solidariedade eufórica, a bebedeira de liberdade e de azús e vermelhos (do sangue e da vida - aqui sem conotações políticas) gritados bem alto...
E agora o que há?
o que sobrou para além da liberdade?
e, mesmo essa, estejamos atentos porque vai sendo cerceada em nome das produtividades, do desenvolvimento...
Desenvolvimento que não sentimos e que estudos nos vêm agora dizer que só em 2050 e...(?) lá chegaremos...
Antes, na minha infância e juventude nada havia de segurança social e saúde.
Os estudos eram... para alguns...
As pessoas tinham que amealhar para viver na velhice.
As roupas, mesmo nas famílias "com posses" (terminologia da época), era refeita e trifeita, passando de pais para filhos, dos irmãos maiores para os mais pequenos.
Iam costureiras a casa, aos dias, fazer esses trabalhos de "arqitectura nos trapos". Não ha mal nenhum em poupar, antes pelo contrário. O mal é quando é a única saída. E o horizonte mais curto do que a ponta do nariz.
As famílias pobres comiam,
muitas vezes, pão com cebola (tenho testemunhos que aqui, no norte era corrente). E faziam "caldo" com água quente, côdeas de pão e...vinagre Porque o vinagre enganava a fome - mais testemunhos directo de quem o viveu.

E agora, para onde deixamos caminhar o país?
E deixamos que nos arrastem?
e

os nosso sonhos, e os sonhos de nossos filhos e netos?

«Minha "crida" menina-grande-mulher. Li-te na altura e chorei. Chorei convulsivamete pq te entendi muito bem, bem demais, pq senti e sinto o mesmo e sou da geração dos k lutaram e fizeram/tornaram possível o 25 de Abril.
Data a NUNC
A ser perdida, nem admitir k a esqueçam.
Quem quiser entender veja os documentários da época, ouça e leia os testemunhos de milhares de estrangeiros k migraram para o "milagre da revolução" dos cravos.
O povo, feio cansado e bruto k parecíamos, floresceu.
Os sorrisos habitaram o nosso mundo e não só.
O mundo ficou + rico e essa riqueza tinha um nome: liberdade.
Liberdade conquistada e expressa com uma tal segurança e confiança no porvir k o grande capital mundial tremeu.
E os nosss políticos foram indo na onda.
Aos poucos...
Uns + rápido do k outros.
Vi, estive, lutei, vivi.
Vi as pessoas a serem corrompidas.
Vi as almas a enegrecerem.
E chorei.
E tive k me afastar e durante anos, qnd ouvia
A Grândola ou a Internacional, dos meus olhos saíam mares (era a dor convulsionada pelo k fora sonho e virava pesadelo. light, ilusoriamente light. MA
S pesadelo). Hoje vim aqui, já mais calma, "roubar-te o texto e a imagem e vou colocá-lo no http://estranhosdias.blogspot.com/ porque temos k olhar de frente os nossos actos, as nossas omissões os nossos silêncios e não deixar só esta pesada herança. beijos de luz e paz, e de força e luta também. TMara»

Segue o texto da Raquel:

«Hoje
Não desejo recordar o que não vivi, disso nada sei.

E o que me contam encaixa unicamente nos livros da História de Portugal, nas épocas da inquisição, nos tempos da ignorância.
Não me contem sobre o ontem,
digam-me o que vão fazer amanhã porque é disso que eu quero saber.
Expliquem-me porque sou velho aos trinta, não me digam mentiras, digam-me a verdade.

Expliquem-me porque me pagam parte do ordenado "por fora", não me digam que fui eu que aceitei, porque eu tinha uma casa para pagar.

Expliquem-me porque "vi" assinar falsos contratos, não me digam que o "não" se impunha, porque perante ameaça quase todos sucumbem.

Não digam que não denunciei....

.... porque muitos tinham filhos para alimentar, casas para pagar, vidas a começar!
Digam-me se apenas querem recordar, o que estamos a festejar. O escrever sem medo?

Pois vos digo que tenho medo!»

P.S - a imagem é a original do post da Raquel.


10 comentários:

Francisco Sobreira disse...

De fato, é um texto que nos toca pela lucidez da jovem mulher. E o teu comentário a ele, como sempre, mostra que continuas uma batalhadora por um mundo melhor e denunciando o malefício que os políticos, como aqui no meu país, causam à nação e ao povo, sobretudo, aos que não têm com que contar. Um beijo afetuoso e um bom resto de dia.

Anónimo disse...

Então e o meu romance não estás a acompanhar, se estás não comentas!?:)) Agora afastei-me da má política, procuro apenas o comportamento humano que a desacredita, é muito mais saudável e não dá tantas dores de cabeça. Abraço a poesia com ambas as mãos mas só uma a escreve, a outra faço festas e carícias em prosa... Vá lá, vai até lá e deixa a marca da tua passagem!

Beijos Abraços e força na língua... Como quem diz: - Nas teclas!

BlueShell disse...

Perfeito!
Um abraço tipo BueShell
º0º0º00ºº0º0º0º0º0º0º0º0º0º

GNM disse...

Nu e cru, este texto da Raquel!
Identifico-me imenso com ele!

Deixo-te um sorriso...

Amaral disse...

Que dizer do teu "desabafo"?... Que o compreendo, que concordo, que as expectativas que tivémos sairam defraudadas, etc.,etc.?... Acontece que em 30 anos o mundo "deu um pulo". Deixando de lado os outros continentes, onde tudo mudou também, repara no que os 30 anos fizeram desta Europa... Abriram-se as fronteiras, desfez-se um bloco que fazia tremer o mundo inteiro, cruzam-se civilizações, misturam-se culturas e degladiam-se economias... Com a evolução tecnológica e informática, o acesso individual às coisas mais diversas alterou os hábitos e as formas de estar na vida.
Os anos 70 ficaram para trás. O comportamento e a consciência do homem abriram horizontes que nada fará parar… Só outra guerra poderia mudar o rumo da mentalidade humana…
A Raquel é mais uma vítima da economia aberta e da globalização. A mão de obra barata continuará a atrair o grande capital para lugares distantes. Fecham-se fábricas, as pequenas empresas vão à falência, o pequeno comércio sucumbe. A população jovem deixa o interior e procura as grandes cidades do litoral. É preciso ir à luta, mesmo com "um canudo" na mão... Os novos professores não têm escolas, nos hospitais fala-se mais o espanhol e o brasileiro, atrás dos balcões estão pessoas vindas de toda a parte... Os espanhóis conquistam posições na banca e no comércio como nunca tinha acontecido...
A Raquel é somente um exemplo… O Portugal dos anos 70 já ficou para trás e a "revolução" foi um facto histórico…

maresia_mar disse...

Olá Tmara,
Lindissimo texto mas infelizmente o Amaral tem razão, o Portugal dos anos 70 já ficou para trás... triste mas é a verdade nua e crua. Viram aquela reportagem "Se Portugal fosse uma marca?" está tudo dito, nem nós portugueses valorizamos aquilo que é nosso... Bjhs

suco disse...

Ao ler, tanto o texto da Raquel como o do teu comentário, emocionei-me e arrepiei-me.
De facto, só quem, mesmo que de forma modesta, lutou para que se acabasse o obscurantismo é que pode sentir, mais profundamente, a perda de ideais a que temos assistido.
É claro que oa anos 70 já lá vão e as coisas evoluem. Mas há valores que não se podem perder. Sob o risco de, um dia, podermos acordar, com um sabor muito amargo na boca: o sabor do silêncio.
Por isso, a referência do passado, mesmo não significando o ficarmos esterilmente agarrados a recordações, terá sempre que ser a âncora em que devemos projectar o futuro.
Porque, sem essa referência, o que teremos? As tais "medidas corajosas" que revelam toda a insensibilidade social de quem as promove. E o grito da Raquem é um acutilante exemplo.

suco disse...

"E o grito da Raquel" , queria eu dizer...

Vanda disse...

Pura realidade o texto da Tmara!

E o teu. O que se fara mais neste País em nome do desenvolvimento?

Até quando as Raqueis serão contratadas a prazo -como se a vida aceitasse prazos, até quando as Raqueis terão taxas de esforço tão elevadas para sobreviver?

Ate quando sorriremos só porque agora descobriram que é de bom tom atendermos o telefone a sorrir?

Ate quando a hipocrisia social?
ate quando o novo medo?

Venho de uma instituição antiga, comprada por uma nova. Chamaram-nos merceeiros e mudaram tudo.

ate quando lideranças coersivas?

ate quando silencios por medo?

mastigar o silencio ou rir?

às vezes ria-me e não gostavam...
achava graça à construçaõ do grande supermercado...mas o meu riso incomodava-os.

...como a Raquel e as Tmaras, devem ainda incomodar muitos do nosso País!

Um beijinho Tmara!

Rubens da Cunha disse...

Algum tempo sem vir aqui, desculpo-me.
Ao ler este texto fico um pouco triste. Aqui no Brasil é tudo igual (talvez com a diferença de que nunca esteve melhor:)). Sinto que em vez do terceiro mundo ir para a Europa, parece que a Europa está vindo para o Terceiro mundo.

Abraços
Rubens
ps. terceiro mundo pode ser politicamente incorreto, mas por favor, me digam definição melhor :)