Sabia que nada de irremediável lhe acontecera.
Apesar de abrir os olhos e não ver, de não ouvir qualquer som, de tentar falar e não articular palavra ou qualquer som lhe sair da boca, apesar de sentir o corpo e não o conseguir mover, sabia que nada de irremediável lhe acontecera.
Decidiu então aproveitar e descansar. Fechou os olhos que não viam, relaxou os membros que se não moviam, e centrou-se no pensamento e em situações de bem-estar e paz, momentos de alegria e contentamento, vividos.
Deixou-se flutuar nesse limbo interior sem tempo, enquanto este fluía.
O corpo, deitado na cama do hospital, era uma chaga de carne em sangue, tendões e ossos expostos, uma ferida aberta de onde irradiavam tubos a entrar e sair por todo ele ligados a máquinas de suporte de vida e que enchiam o pequeno cubículo isolado onde se encontrava.
Havia sempre, do lado de fora do vidro, pessoal de serviço vigilante aos monitores e à paciente numa concentração total e dolorosa até, pelo nível de aenção que se impunham.
O hospital agitava-se num frenesim temeroso poucas vezes antes sentido, tal a importância atribuída àquele ser humano, ao seu papel no mundo em prol da paz global e definitiva.
Salvar a mulher era um imperativo.
O medo do insucesso uma sombra que os seguia e oprimia.
Enquanto isso, a mulher no leito, jazia desligada de todo e qualquer sofrimento com a consciência plena de que nada de irremediável lhe acontecera.
No momento em que o coração parou de bater um sorriso espelhou-se-lhe no rosto antes inexpressivo e, enquanto a mulher que morria sorria, por todo o mundo as lágrimas caíam dos rostos como caudalosos rios e, no hospital, um silêncio de dor e respeito, juntamente com a consciência de uma perda imensa, percorreu todos os corredores, quartos e salas, como um vento desnorteado.
Apesar de abrir os olhos e não ver, de não ouvir qualquer som, de tentar falar e não articular palavra ou qualquer som lhe sair da boca, apesar de sentir o corpo e não o conseguir mover, sabia que nada de irremediável lhe acontecera.
Decidiu então aproveitar e descansar. Fechou os olhos que não viam, relaxou os membros que se não moviam, e centrou-se no pensamento e em situações de bem-estar e paz, momentos de alegria e contentamento, vividos.
Deixou-se flutuar nesse limbo interior sem tempo, enquanto este fluía.
O corpo, deitado na cama do hospital, era uma chaga de carne em sangue, tendões e ossos expostos, uma ferida aberta de onde irradiavam tubos a entrar e sair por todo ele ligados a máquinas de suporte de vida e que enchiam o pequeno cubículo isolado onde se encontrava.
Havia sempre, do lado de fora do vidro, pessoal de serviço vigilante aos monitores e à paciente numa concentração total e dolorosa até, pelo nível de aenção que se impunham.
O hospital agitava-se num frenesim temeroso poucas vezes antes sentido, tal a importância atribuída àquele ser humano, ao seu papel no mundo em prol da paz global e definitiva.
Salvar a mulher era um imperativo.
O medo do insucesso uma sombra que os seguia e oprimia.
Enquanto isso, a mulher no leito, jazia desligada de todo e qualquer sofrimento com a consciência plena de que nada de irremediável lhe acontecera.
No momento em que o coração parou de bater um sorriso espelhou-se-lhe no rosto antes inexpressivo e, enquanto a mulher que morria sorria, por todo o mundo as lágrimas caíam dos rostos como caudalosos rios e, no hospital, um silêncio de dor e respeito, juntamente com a consciência de uma perda imensa, percorreu todos os corredores, quartos e salas, como um vento desnorteado.
Só a mulher que morrera sabia que nada de irremediável acontecera.
PAULINO,Conceição(2007). "Salvador o Hmeme e Textos InConSequentes. S. Mamede de Infesta: edium editores: 61-62
2 comentários:
Querida Tmara
Lindo texto, até porque será real...
Um beijo
Daniel
"Sabia que nada de irremediável lhe acontecera."
Tenho esperança que depois dos momentos iniciais assim tenha sido também...
Não sei quem sofre mais... por vezes estagno em silêncios perdidos, em pensamentos, refazendo cada pormenor, procurando sinais...
A ambiguidade instala-se,
os pesadelos proibidos acontecem.
Desabafo e tenho medo das palavras que profiro. Como se tivesse tudo que ficar no passado.
Beijo
bela forma de contar uma história com tanto de verdade.
Enviar um comentário