1. do livro "Dibaxu " de Juan Gelman, poeta galardoado com o Prémio Cervantes 2007 e o Prémio Reina Sofia de Poesia 2006.
A obra agora editada em Portugal foi dada à estampa pela
edium editores ( http://ediumeditores.blogspot.com/ ) é um poemário escrito entre 1983 e 1985, enquanto Juan Gelman se encontrava no exílio e uma das mais intensas obras deste poeta argentino.
Escrito originalmente em sefardita, apresenta-se aos leitores portugueses traduzido para língua portuguesa pelo poeta e ensaísta brasileiro Andityas Soares de Moura e inclui um apêndice vertido ao castelhano pelo próprio Juan Gelman .
Deixo-vos uma amostra da poesia que aqui podem encontrar e talvez vos "abra o apetite" se assim for basta irem ao site do editor e encomendar:
XXVIO desejo é um animal
todo vestido de fogo/
tem partas tão longas
que chagam ao olvido/
agora penso
que um passarinho em tua voz
arrasta
a casa do Outono/
(P: 71)
XVI
quando estiver morto
ouvirei ainda
o tremular
de tua saia no vento/
alguém que leu estes versos
perguntou: “como assim?/
o que ouvirás? Que tremular?/
que saia?/que vento?”
disse-lhe que se calasse/
que se sentasse à mesa comigo/
que bebesse do meu vinho/
que escrevesse estes versos:
“quando estiver morto
ouvirei ainda
o tremular
de tua saia no vento”/
(P: 51)
GELMAN, Juan (2007). “dibaxu”. S. Mamede de Infesta: edium editores(1ª ed.)
2. Paralelamente, com a presença do referido tradutor, Andityas Soares de Moura, nome emergente da nova poética brasileira, foi apresentada a primeira antologia deste, intitulada "Algo indecifravelmente veloz" , igualmente editada pala edium editores. Esta antologia reúne o essencial da sua produção poética dos últimos dez anos.
É prefaciada por Xavier Zarco.
É prefaciada por Xavier Zarco.
Aqui ficam, a título de aperitivo:
CANÇÃO DO MANCEBO
branca bela
senhora
a imagem s’evola
branca bela
senhora
teus peitos de ardósia
branca bela
senhora
que mal tu deploras?
branca bela
senhora
a solidão, mancebo, chora.
descora, apavora
e o padre só me diz: ora, ora, ora
branca bela
senhora
esquece o linho, as cousas claras
branca bela
senhora
vem em segredo, com ânimo de amásia
branca bela
senhora
mulher te farei ao largo da orla
branca bela
senhora
(pp: 56-57)
LÍNGUA DE FOGO DO NÃO
Não se pode escrever o poema.
Os tempos são duros, inflexíveis.
Taciturnos até. Dão “bons dias”
Por obrigação e recato.
Não se pode sequer ler o poema.
As pessoas andam cabisbaixas,
riem à toa – como patetas – e morrem.
Morrem como quem nunca quis nada.
Não se pode nem mesmo pensar o poema.
É proibido.
É indecente o poema.
O poema não produz dividendos. Não distribui lucros. Não faz dormir melhor. O poema não sorri nas campanhas eleitorais.
O poema não gosta de telenovela e nem está preocupado em como estacionar no shopping-center.
O poema não quer ter filhos, se casar e planejar férias anuais. Não tem e nem faz economias.
P poema não deixa e não anota recados.
O poema não investe em acções, não paga imposto de renda, (…)»
~~~~~~~~~~~~
(excerto do poema P: 154) ~
SOARES DE MOURA, Andityas(2007). ALGO INDECIFRAVELMENTE VELOZ. S. Mamede de Infesta: edium editores (1ªed.)
branca bela
senhora
a imagem s’evola
branca bela
senhora
teus peitos de ardósia
branca bela
senhora
que mal tu deploras?
branca bela
senhora
a solidão, mancebo, chora.
descora, apavora
e o padre só me diz: ora, ora, ora
branca bela
senhora
esquece o linho, as cousas claras
branca bela
senhora
vem em segredo, com ânimo de amásia
branca bela
senhora
mulher te farei ao largo da orla
branca bela
senhora
(pp: 56-57)
LÍNGUA DE FOGO DO NÃO
Não se pode escrever o poema.
Os tempos são duros, inflexíveis.
Taciturnos até. Dão “bons dias”
Por obrigação e recato.
Não se pode sequer ler o poema.
As pessoas andam cabisbaixas,
riem à toa – como patetas – e morrem.
Morrem como quem nunca quis nada.
Não se pode nem mesmo pensar o poema.
É proibido.
É indecente o poema.
O poema não produz dividendos. Não distribui lucros. Não faz dormir melhor. O poema não sorri nas campanhas eleitorais.
O poema não gosta de telenovela e nem está preocupado em como estacionar no shopping-center.
O poema não quer ter filhos, se casar e planejar férias anuais. Não tem e nem faz economias.
P poema não deixa e não anota recados.
O poema não investe em acções, não paga imposto de renda, (…)»
~~~~~~~~~~~~
(excerto do poema P: 154) ~
SOARES DE MOURA, Andityas(2007). ALGO INDECIFRAVELMENTE VELOZ. S. Mamede de Infesta: edium editores (1ªed.)
3.
A apresentação das obras esteve a cargo da Dra. Cristina Melo e do Prof. André Veríssimo
A apresentação das obras esteve a cargo da Dra. Cristina Melo e do Prof. André Veríssimo
4. Segunda-feira, dia 14, em Coimbra, pelas 19.00 horas haverá uma segunda sessão pública de lançamento das obras ao público português, na Casa da Cultura de Coimbra, com apresentação da Dra. Graça Capinha da Universidade de Coimbra, no âmbito da Oficina de Poesia da FLUC e do projecto de investigação "Novas Poéticas de Resistência".
3 comentários:
Querida Conceição,
Gostei dos versos do poeta argentino, o qual não conhecia. Gostei especialmente do poema XVI. Mas, amiga, no primeiro poema, nos terceiro e quarto verso não há erros de digitação? Fiquei com essa impressão. Beijos.
meu amigo, obrigada por sua chamada de atenção sobre possíveis erros de digitação no poema mas garanto k não tem gralhas.
Acabei de confirmar.
Bjs
Luz e paz em seu caminhar
Gostei bastante destes aperitivos que demonstram tratar-se de poetas "á séria", o que nem sempre, infelizmente se encontra!
Bjs
TD
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