06 janeiro 2008

Feliz Dia de Reis

Teixeira de Pascoaes afirmou que “o erro da sociedade “ era o de “ser um maquinismo em vez de ser um organismo”.
*maquinismo – qualquer peça é descartável e substituída por outra. O próprio maquinismo pode ser rejeitado e substituído por outro mais eficiente, mais produtivo.

* organismo – conjunto em que cada órgão tem igual valor para o todo, que cada órgão – parte do todo - é cuidado para o seu bom funcionamento e durabilidade do organismo. Nenhum órgão é descartável.

Se à época, Pascoaes emitiu esta avaliação-análise-crítica o que diria ele num período em que o neo-liberalismo, quase (?) capitalismo selvagem, com a sua face desumanizada e dominadora orienta as grandes linhas políticas ao invés de estas o orientarem, exercerem sobre ele o exercício regulador do mercado?
Num período em que o homem é, cada vez mais “o lobo do homem” em nome do lucro puro e duro, cujo deus maior é o “bezerro de ouro” em nome do qual tudo vale para que os “iluminados/os eleitos” pelo seu adorado “deus” dourado - não o dourado do nascer ou pôr-do-sol, o dourado da ternura, do respeito e do amor - acumulem fortunas cujos pilares assentam sobre a fome, a miséria, a morte sob múltiplas formas, uma das quais a guerra, ou as guerras pois a tipologia de armamento e o desequilíbrio de poderio de guerra de uns e de outros é cada vez mais desigual. A exploração de modos refinados em que a escravatura volta a ganhar forma sob novos modelos adequados à produção e ao lucro imediato.
Em suma toda a produção de riqueza tende a assentar sob uma amálgama de carne sangue e osso, de outros seres tão únicos e valiosos quanto eles, quanto qualquer um de nós.

A sociedade só será fraterna e justa quando funcionar como um organismo e como tal for respeitada. Onde cada parte, segmento do organismo – cada ser humano – seja igualmente
valorizado, cuidado e respeitado.
Vós e eu, não podemos descurar nenhuma parte do nosso organismo sob risco de falência. De morte. Do desaparecimento.
Assim a sociedade.
Enquanto mecanismo mata-se e mata tudo e todos.
Até os que acreditam, nos seus luxuosos apartamentos, moradias, coberturas, quintas, ilhas, etc, de tudo estarem protegidos por se julgarem próximos dos deuses num qualquer Olimpo
(os gregos antigos que me perdoem).
Os organismos, para além das partes que compõem o corpo material, físico, são uma unidade com algo invisível e indivisível que podemos designar como alma.
Ou será que corpos há que são meros mecanismos e esses não possuem alma porque não são nem aspiram a ser humanos?Meras máquinas que dominam o mundo revestidos da formas dos humanos.
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TENHAM UM FELIZ DIA DE REIS E QUE ESTES TRAGAM Incenso, Mirra e AMOR para vossas vidas.

6 comentários:

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Agradecendo e retribuindo os votos expressos.

Lembrei este dia de há muitos anos em pleno Alentejo.

A romã e seus bagos vermelhos e doces, os cantes pelas portas, a passagem pelos presépios, enfim tanto que se foi perdendo pelo tempo fora.

Um abraço ao António e beijos para ti.

De Amor e de Terra disse...

Como continua actual e verdadeira a frase de Teixeira de Pascoaes...
(infelizmente)!
Que os Magos te tragam tudo de bom Amiga, já que os Reis que ainda resistem, dão pouco de bom aos outros, se é que dão alguma coisa!


Beijos

Maria Mamede

M. disse...

Tens razão, mas hoje gostava de ter um Dia de Reis menos constrangedor.

Teresa David disse...

Este teu texto fez-me lembrar o que o filho do Rui de Carvalho um destes dias mencionou, da autoria do rei D. Carlos!, infelizmente pleno de actualidade, malgrado ter passado mais de um século: Portugal é um País de bananas governo por sacanas!
Bom dia de Reis e bjs
TD

Francisco Sobreira disse...

Caríssima Conceição,
Texto lúcido e crítico, o que não é novidade nos assuntos que você aborda. Mas se me permite uma pequena sugestão, acho que você deveria ter dito quem foi (ou é, se ainda vivo) Teixeira de Pascoaes, já que o seu blogue é lido fora de Portugal e até do continente europeu. Beijos.

bettips disse...

A razão de todos os despojados e oprimidos. Por cá, somos uns milhões razoáveis, já sem falar no mundo, o que seria redundância.
E as notícias de ano novo deixam-nos mais "despojados" ainda. Perdidos os laços com a natureza, somos os simples geradores de lucro de alguns. Uma lembrança bem a propósito! Abraços