14 agosto 2005

É largo, vasto e variado, o mundo....

[É largo, vasto e variado, o mundo)]
Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


António Gedeão

3 comentários:

Anónimo disse...

É verdade que somos um mero grão de areia no imenso areal chamado humanidade, mas talvez o António Gedeão, poeta e escritor que encantou e encanta gerações com a dimensão das suas letras, se esquece que são igulamente as nossas acções ponderadas ou reprováveis que desenvolvem o caminho espinhoso ou não que a humanidade trilha, e que determinam a sua personalidade amistosa ou colérica. Vamos sim contribuir, com acções que dignifiquem o edificio da racionalidade que levamos milénios a construir. Deixar de ver no outro um adversário que devemos superar ou subjugar aos caprichos da nossa imprecisa vontade mas tratá-lo sim, com bondade e compreensão, ao nos preocupar mais em sermos superiores não aos outros, mas a nós próprios, com o objectivo de diminuir a devastação e o descalabro humano que o homem actualmente permite. É que a humanidade é verdadeiramente um vasto oceano. E não é um oceano, formado pelas milhares gotas de água individuais, que o solidificam num só corpo? TMara um bom fim de semana para ti, e agradeço este pensamento tão apaixonado quanto profundo que tu aqui publicaste.

Ana disse...

Quando acreditamos que o nosso desespero não interessa a ninguém, é mais duro e difícil de suportar.
Mas António Gedeão é um poeta que fala das coisas difíceis, com palavras que nos fazem pensar.
Um beijo.

Anónimo disse...

Belo poema, sem dúvida... a Humanidade? Gedeão, tu, eu... nós todos - numa ciranda... e quando qualquer um de nós se vai - a roda se desfaz, momentaneamente, até ser recomposta... mas a presença do quem se foi permanece, no mínimo - nas lembranças!